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Anselmo Heidrich

Defendo uma sociedade livre baseada no governo limitado e estado mínimo.

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Polônia

A Iniciativa Três Mares e a Hidrovia E40

Em 2016, Croácia e Polônia lideraram a criação da Iniciativa Três Mares ( Three Seas InitiativeTSI ou 3SIunindo 12 países europeus dos mares Báltico, Negro e Adriático. Estes países — Polônia, Estônia, Letônia, Lituânia, Áustria, Hungria, República Checa, Eslováquia, Eslovênia, Croácia, Romênia e Bulgária — têm por objetivo a realização de projetos conjuntos em inovação e desenvolvimento de infraestrutura.

A ideia de integração é antiga, data das décadas de 20 e 30 do século passado (Século XX), mas foi abortada devido à divisão imposta pela conjuntura da Guerra Fria e a oposição leste-oeste predominou em detrimento da cooperação norte-sul (que faria a integração hidroviária entre os mares). Mesmo com o fim da Guerra Fria, a maioria das pessoas estava acostumada a pensar no leste europeu em duas classes de países, desintegradas, as ex-repúblicas iugoslavas e os Bálcãs em geral e as nações do Norte que desempenharam uma transição mais bem-sucedida em direção a uma economia de mercado, sem ver, no entanto, que a integração regional daria força à própria transição e redução dos poderes autocráticos que ainda persistem em alguns partidos e governos.

O Projeto

Esse projeto já é bem antigo, foi idealizado por um líder político polonês do Entre-Guerras, Józef Piłsudski, em criar uma organização com nações para fortalecer-se frente Alemanha e Rússia, mas que por rivalidades nacionais entre esses mesmos países nunca avançou. A 3SI também é vista como alternativa de poder entre a OTAN, a União Europeia e o chamado Grupo de Visegrado*, criado em 1991, por quatro ex-membros do bloco socialista, Polônia, República Checa, Eslováquia e Hungria.

O atual Intermarium (literalmente, “ entre os mares”) é a base física de um megaprojeto que pretende unir diversas nações com uma característica geográfica comum, a de estar entre o leste europeu, representado pela Rússia, e o Oeste, no qual as nações mais desenvolvidas da Europa que originaram o mercado comum e depois a própria União Europeia se encontram. A outra característica é geopolítica, sua posição central seria palco de objetivos comuns que apontam para uma autonomia em relação a poderes hegemônicos antagônicos, a OTAN e o Pacto de Varsóvia no passado, e, atualmente, entre a própria OTAN e a Federação Russa.

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De concreto, para sua realização está em andamento a realização da hidrovia E40. Trata-se de um projeto transnacional que irá se estender por 2.000 km do Mar Báltico ao Mar Negro, passando pela Polônia, Bielorrússia e Ucrânia, conectando os portos polonês Gdansk e ucraniano Kherson. Os rios Vístula, Bug, Mukhavets, Pina, Pripyat e Dnieper serão integrados, com realização de canais, represas, eclusas e dragagem ao longo da sua rota, para possibilitar a passagem de embarcações fluviais e marítimas. A maior parte dos investimentos, 12 bilhões de euros**, será destinada ao trecho polonês Vístula — Brest e a seção bielorrussa foi estimada em 150 milhões de euros***.

Benefícios da Hidrovia

Em primeiro lugar, a pacificação da região. Não que exista algum conflito iminente, o que não é o caso, mas sempre que há alguma integração física, de infraestrutura, a interdependência entre os membros serve como um bom fator de dissuasão de conflitos, ainda mais armados.

O projeto visa a integração econômica de vários países, além da redução da dependência do fornecimento de energia da Rússia e criação de um corredor de transporte, comunicações e energia no sentido norte-sul na Europa Central e Oriental. São vários projetos multilaterais para benefício da região, e outros bilaterais, de menor alcance:

Energia

· Conexão de gás entre Polônia e Lituânia;

· Integração e sincronização do sistema elétrico dos países bálticos com outras nações europeias;

· Corredor de transmissão de gás romeno-húngaro-eslovaco;

· Diversificação das fontes de fornecimento e infraestrutura de gás e implementação de um duto de gás dos países bálticos e interconexão fronteiriça entre Polônia e Eslováquia, e Polônia e Ucrânia;

· Gasoduto do Adriático;

· Terminal na Ilha de Krk (Croácia).

Digital

· Transporte de Stock Change na região de abrangência do 3SI;

· Plataforma digital para monitoração das bases hidrográficas;

· “ U-space “, espaço de baixa altitude como um novo campo da economia. Central European Drone Demonstrator (CEDD);

· A “ rodovia digital “ 3SI;

· 3SI marketplace;

· Soluções interoperacionais para um setor energético sustentável e digital;

· Fórum “ Smart City “ para a Região da CEE;

· Campo de testes ZalaZONE, para novas tecnologias, veículos elétricos etc.

Transporte

· Conexão Norte-Sul — Rede de Transporte Trans-Europeia (Trans-European Transport Network, TEN-T);

· Via Carpatia;

· Viking Train;

· Rede de Transporte Trans-Europeia Báltico-Adriático;

· FAIRway Danube — medidas de reabilitação da navegabilidade e sustentabilidade do rio Danúbio;

· Ferrovia Báltica;

· Rail-2-Sea: “ modernização e desenvolvimento da ferrovia Gdansk (PL) — Constança (RO) “ (uso dual civil-militar);

· Amber — corredor de frete ferroviário;

· Via Báltica;

· Conexão Danúbio-Oder-Elba;

· Seção da hidrovia do rio SAVA entre Jaruge-Novi Grad.

Quem apoia

O projeto de ligação hidroviária E40 entre os mares Báltico e Negro, proposto pelo primeiro-ministro ucraniano Alexey Goncharuk, integrando nações como Polônia, Bielorrússia e Ucrânia, tem um enorme potencial de desenvolvimento regional. Ele está avançando e representa o futuro da autonomia de uma região que oscila entre as órbitas políticas de Bruxelas e Moscou, mas tem, igualmente, a capacidade de gerar divergências e conflitos entre os poderes de leste a oeste no continente europeu.

A ideia hibernou por conta das vicissitudes políticas do passado, mas ressurgiu após 8 décadas na Croácia, em Dubrovnik, em agosto de 2016. Em reunião realizada em Varsóvia no dia 6 de julho de 2017, o Presidente americano, Donald Trump, asseverou o apoio dos Estados Unidos à iniciativa de integração, não se limitando à instalação de infraestruturas de comunicação, transporte e energia, mas também como força política.

Quem contesta e porque contesta

Há movimentos ambientalistas contra, em defesa das áreas úmidas, pantanosas, das planícies fluviais entre os mares Báltico e Negro. Para concretização da E40, se fazem necessárias dragagens desses rios e a hipótese, temor na verdade, é de que vários ecossistemas sejam restritos e afetados, devido à operação e o revolvimento do lodo no leito dos rios que contém lixo radioativo (na área de Chernobyl), o que poderia contaminar a água de milhões de pessoas.

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Apesar da União Europeia já ter desistido de apoiar a operação, os governos ucraniano e bielorrusso já concordaram em fazer a dragagem dos rios Dnieper e Pripyat para formação da hidrovia. Uma campanha pela defesa do rio Pripyat e da região da Polésia na Polônia diz: “A Stop E40 é uma campanha pública contra a construção da hidrovia E40, que será lançada nos rios da Polônia, Bielorrússia e Ucrânia. Os desenvolvedores do projeto consideram que o E40 se tornará uma nova estrada comercial que conecta portos do Mar Báltico e do Mar Negro, atrairá investimentos para a região e criará novos empregos. Somos uma coalizão ambiental, achamos que esse projeto está mal adaptado, não faz sentido econômico e que a construção do E40 se tornará uma catástrofe para a região única da Polésia Bielorrússia, bem como para os territórios naturais da Polônia e da Ucrânia. Trata-se de um projeto de construção de uma rota marítima de mais de 2.000 km que será percorrida por Visla, Pripyat e Dnieper e conectará o Mar Báltico e o Mar Negro. (…) Pripyat é um dos maiores rios não impactados da Europa. Este é o único rio da Bielorrússia que flui na direção leste, que define seu ecossistema único. Na planície de inundação do rio, 1,5 milhão de aves ressurgem durante as migrações. No total, mais de 90% do número total de aves na Bielorrússia são registrados habitando a Polésia. A hidrovia E40 terá seu impacto no território natural mais valioso da Bielorrússia: Parque Nacional Pripyatsky, Reserva Ecológica e de Radiação Polésia, 11 reservas republicanas e seis reservas locais. 12 delas são de importância internacional”.

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Outra vertente de oposição à construção da hidrovia E40 vem da geopolítica internacional. Há quem veja nesta conexão entre os mares Báltico e Negro uma ameaça à existência da própria Rússia. Para o analista político Andrei Okara: “A ideia de conectar esses mares existe desde o início do século XX. É bastante popular na Polônia, Bielorrússia e Ucrânia. Mas na Rússia essa ideia é vista como extremamente hostil aos interesses geopolíticos e geoeconômicos do país. Além disso, a ideia de conectar os mares é percebida como uma ameaça à existência da Rússia”.

Pode se entender o temor russo pela formação de uma espécie de “ cordão de isolamento” a sua expansão comercial a oeste. No entanto, o desenvolvimento preconizado pelos incentivadores do grupo Iniciativa Três Mares é de, justamente, não se tornar mais refém de uma interferência ocidental, representada pela OTAN, assim como pela Rússia, do ponto de vista político-militar, e, do ponto de vista econômico, não se tornar um conjunto de “ Estados de transição “ dependentes do apoio da União Europeia ou da Comunidade de Estados Independentes, dirigida pela Rússia.

Conclusão

A construção de um importante eixo hidroviário, reconhecidamente o meio de transporte mais econômico que há, além de integrar nações que oscilam e sofrem influências diversas, quando não antagônicas, como a União Europeia e a Federação Russa, é de suma importância. A própria Rússia, para sua sobrevivência e desenvolvimento econômico, está implementando um novo duto de transporte de hidrocarbonetos, que é o Nord Stream 2, com forte apoio da Alemanha para obter combustível acessível e barato ao desenvolvimento europeu. Da mesma forma, estas nações centro-europeias buscam seu desenvolvimento através da criação de nova infraestrutura.

A maior oposição, no entanto, pode vir justamente de suas próprias sociedades civis, como é o caso do crescente movimento ambientalista europeu, que aumenta seu poder com adesão da população e chegada aos governos e câmaras legislativas através das urnas. Para o desenvolvimento econômico e paz política, se faz urgente que o diálogo entre conservacionistas e desenvolvimentistas chegue a um termo comum, propostas exequíveis e capacidade tecnológica sustentável, ambiental e economicamente falando.

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Notas:

Grupo criado em 15 de fevereiro de 1991, entre três países, Polônia, Hungria e a antiga Checoslováquia que se transformaria em quatro em 1993, com a divisão deste último. Seu objetivo residia, basicamente, em reforçar a cooperação mútua e promover sua integração à União Europeia.

** 72 bilhões e 360 milhões de reais, na cotação de 11 de julho de 2020.

*** 904 milhões e 470 mil reais, na cotação de 11 de julho de 2020.

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Fontes das Imagens:

Imagem 1 “O Chefe de Estado búlgaro está em visita à Romênia para participar da cúpula da Iniciativa Três Maressetembro de 2018”(Fonte):

Imagem 2 “Países da Iniciativa Três Mares” (Fonte):

Imagem 3 “Mapa topográfico da Polésia” (Fonte):

Imagem 4 “Parque Nacional da PolésiaPolônia” (Fonte):

Eurocéticos : Finlândia e outros

HELSINKI (Reuters) – A Finlândia deixará a União Européia e se posicionará como a Suíça do Norte para proteger sua independência se Laura Huhtasaari, candidata presidencial do Partido Finlandês Euróceptico, tenha seu caminho.

 

Após três estupros brutais, a polícia da cidade sueca recomendou que as mulheres não saiam sós a noite. Óbvio, mas o conselho não deveria ser somente este… Sweden: After three brutal rapes, Malmö police advice women not to go out alone after dark https://voiceofeurope.com/2017/12/sweden-after-three-brutal-rapes-malmo-police-advice-women-not-to-go-out-alone-after-dark/#.Wj1CKqUxWC4.twitter

 

Novo código de conduta da União Europeia recomenda aos jornalistas não publicarem crimes cometidos por imigrantes muçulmanos e não associarem o islã ao terrorismo. Big Brother de 1984 (G.Orwell) em plena ação… União Europeia pede aos jornalistas para não publicarem crimes cometidos por imigrantes muçulmanos | Renova Mídia https://shar.es/1MRbaj

 

Aqui, o relatório da U.E.: https://www.respectwords.org/wp-content/uploads/2017/10/Reporting-on-Migration-and-Minorities..pdf

 

Países europeus, sobretudo os da Europa Central, com menos recursos e economias menos dinâmicas, mas mais expostos à onda imigratória procuram se proteger das levas de refugiados e migração ilegal: Eslováquia, Hungria, Polônia e República Checa investem milhões para proteção das fronteiras da UE | Renova Mídia https://shar.es/1MRbGQ

 

Enquanto isso, a U.E. dirigida principalmente por economias mais poderosas como Alemanha e França querem enviar milhares de imigrantes para países pacatos como a Finlândia… Países da União Europeia querem enviar milhares de imigrantes ilegais para Finlândia | Renova Mídia https://shar.es/1MRbwX

 

Candidatos a presidência, como a finlandesa que defende a retirada do país da União Europeia não crescem a toa no continente. No centro do debate, a questão migratória (foto acima).

 

Obviamente, partidos e líderes que se opõem a esta centralização da U.E. e sua política migratória são taxados de “extrema direita” por defenderem a volta da autonomia de seus países… Líderes europeus da direita radical se reúnem em Praga – ISTOÉ Independente https://istoe.com.br/lideres-europeus-da-direita-radical-se-reunem-em-praga/#.Wj1ICcFZehA.twitter

 

Outros países já não admitem mais este tipo de acordo que suplanta sua autonomia em função de determinações da ONU e da UE… US pulls out of UN’s Global Compact on Migration: official http://www.business-standard.com/article/pti-stories/us-pulls-out-of-un-s-global-compact-on-migration-official-117120300066_1.html#.Wj1ImJKZQps.twitter

 

Lembre-se que a UE é mantida porque interessa a determinados grupos, mas isto pode mudar… Metade dos alemães já questionam a eficácia do Euro: Half of Germans Want to Scrap Euro, Bring Back Deutsche Mark – Breitbart http://www.breitbart.com/london/2017/12/18/half-germans-want-bring-back-deutsch-mark/

 

 

Anselmo Heidrich

Queda de Braço entre Polônia e U.E.

Entender o que se passa entre Polônia e U.E. é entender o dilema entre o nacionalismo das identidades europeias e sua integração político-econômica. E digo também ‘político’ porque nem sempre o carro chefe da integração é a economia, embora esta devesse ser de acordo com o que foi fomentado no antigo M.C.E. Como os atuais benefícios de se manter atrelado (e submisso) às determinações da U.E. não têm compensado tanto quanto outrora e o desafio que processos como o Brexit impuseram a mesma, mais um membro de peso, como é a Polônia divergir abertamente pode ser um duro baque pelo qual a organização irá ser julgada. E quando falamos em “nacionalismo”, especialmente no caso polonês não se pode esquecer da Igreja Católica, que naquele país não é uma simples organização não governamental, mas muito mais do que isto, atuando como uma verdadeira religião. E para quem conhece um pouco da história do país sabe que a Igreja esteve diretamente envolvida na resistência ao Nazismo e depois ao Comunismo. Sua atuação política é muito recente e forte. Portanto, não é simplesmente uma questão de não aceitar imigrantes e refugiados muçulmanos, mas o atual governo polonês põe em cheque a autoridade e ideologia reinantes na organização. Esta força religiosa-nacional-cultural pode representar uma guinada na tendência política atual no continente e aqueles, como a Alemanha que fazem coro à U.E. (na verdade influenciam-na) irão perder ao serem associados aos seus puros interesses econômicos em detrimento do bem-estar e segurança de outros povos europeus.

Continue lendo aqui>> https://geopoliticalfutures.com/poland-challenges-european-identity/

Anselmo Heidrich

Por que a Polônia não teme a União Europeia nem a Rússia?

A Polônia é vista como um oásis contra o terrorismo dentro da Europa, mas por quê? Por que o país adota uma política extremamente restritiva (e declinante) com a entrada de imigrantes e, discriminatória, o que é seu direito, diga-se de passagem, contra os muçulmanos. Mas a política da União Europeia vai no sentido contrário, certo? De impor uma agenda em que todos seus membros abram as portas aos imigrantes, no caso, refugiados de guerra que hoje se tratam, sobretudo, do Oriente Médio, como Iraque e Síria. Não por acaso, daí que vem também uma minoria de “células terroristas” que ameaçam a ordem e a paz nos países que os acolhem com diversos benefícios (renda, emprego, moradia, estudos etc.). Que fique claro, mesmo que seja minoria, estamos falando de centenas, se não milhares, pois a entrada de refugiados se trata de milhões. Mas então por que a Polônia não se submete aos ditames da União Europeia? Podemos sugerir seu forte apego ao catolicismo, mas é mais do que isto: os poloneses têm uma história recente de luta contra um inimigo muito mais forte, a URSS e, hoje em dia, o mesmo se dá com a Rússia. Claro que a força material que obtém vem de um detalhe não menos importante: sua posição estratégica.

Neste artigo, Borderlands: The View Beyond Ukraine | Stratfor, George Friedman mostra as estratégias de curto e longo prazo a serem adotadas pelos EUA contra a Rússia. Muito interessante o papel de três países formando o novo “cordão sanitário” no leste europeu e oriente próximo, Polônia, Romênia e Turquia. O 1º e último são conhecidos por seu papel fundamental na contenção do poderio russo, mas me surpreendi pela guinada do 2º em direção ao ocidente. Outro país que reavaliou sua aliança recente com os russos, com relação ao transporte de gás pelo sul foi a Bulgária… Parece que as chances de Moscou buscar alternativas para reforçar seu papel de contrabalançar o poderio alemão e americano na Europa estão diminuindo mesmo. Mas, o autor deixa claro que Washington não busca o confronto e sim uma carta na manga, caso o confronto com a Rússia em solo ucraniano se acirre criando uma nova (mini-)guerra fria. Fica claro que o tempo russo é curto, que Moscou busca diversificar sua economia no prazo de 10 anos e, sinceramente, isto parece muito difícil. O que a Rússia oferece ao mundo além dos seus hidrocarbonetos e armas, dois negócios tipicamente sujos que mexem com governos e suas alianças espúrias?

Anselmo Heidrich

 

Existe “Socialismo Escandinavo”? – o caso sueco

Não. Em termos econômicos, o socialismo é ineficiente e, no longo prazo traz pobreza; em termos políticos, geralmente está associado com varias formas de despotismo, o que é consequência da grande concentração de poder e expansão da burocracia. Mas afinal, o que é o socialismo?

Definindo o que é Socialismo

Há duas maneiras básicas de se pensar um conceito, do ponto de vista teórico-normativo e a partir da história, isto é, através de uma teorização dos experimentos socialistas. No primeiro caso, o marxismo é a principal vertente teórica aceita mundialmente para definição e defesa do socialismo. E o que Marx dizia basicamente? Que as chamadas “contradições do capitalismo” – o avanço da produção de riquezas frente à depauperação geral da condição de vida dos trabalhadores – iria gerar um processo revolucionário de luta de classes sociais na qual os proletários (operários e camponeses) tomariam a força, a riqueza que é a posse dos meios de produção (fabricas, fazendas etc.) dos capitalistas, burgueses, como eram chamados. Para os revolucionários comuns, outros socialistas e anarquistas, este processo levaria a uma sociedade sem estado, o comunismo, que era baseado em formas autônomas de organização social, como os indígenas do novo mundo, p.ex. Para Marx, isto não passava de uma grossa ingenuidade. Ele defendia que para chegar a este estagio ideal, o comunismo seria necessário um estagio intermediário entre capitalismo e comunismo. E o que seria ele? Exatamente, o socialismo. Em suma, o socialismo de Marx seria um momento histórico em que o estado tomaria total controle sobre a organização da vida econômica, incluindo produção e distribuição, já que a principal questão para os revolucionários do século XIX era essencialmente esta, diferente de hoje em dia, onde a pauta cultural se faz cada vez mais presente para os revolucionários. Daí, aos poucos (o que Marx não definiu nem quando nem como), o estado deixaria de existir e daria lugar a uma sociedade totalmente igualitária e livre. Desnecessário dizer como nesta parte da teoria Marx se mostra tão ingênuo quanto seus pares revolucionários ou, vai saber… Manipulador, para parecer tão ou mais radical que seus pares “socialistas utópicos” e anarquistas, que também desejavam a revolução, mas com outros protocolos de ação.

Em termos históricos é bem mais simples. Basta ver todos os regimes instaurados e autodenominados socialistas ou comunistas, nenhum deles efetivamente prezou pela democracia, embora tivessem, volta e meia, o termo “democracia” inscrito em suas denominações oficiais (República Democrática da Alemanha, p.ex.). Sejam casos de países mais pobres, como a Albânia ou mais desenvolvidos da Europa central como a Polônia, todos esses tiveram um subdesenvolvimento relativo aos seus pares ocidentais como França e Inglaterra justamente por não permitirem a chamada acumulação de capital que um livre mercado proporciona. Países como a Ucrânia, formalmente membros de uma “união” como a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, na verdade dominados pela Rússia detinham baixíssimos índices produtivos na agricultura, embora seus solos (tchernozion) estivessem entre os melhores do mundo. Isso que nem estamos comentando os casos bizarros de morte, assassinatos em massa por conta de uma ideologia sumamente irracional. Stalin, um dos maiores facínoras que a história já conheceu matou mais do que Hitler e o impressionante é que não tem a mesma rejeição que este. Mao então foi um dos piores ditadores que o oriente conheceu, junto com Pol Pot no Camboja também ceifou a vida de dezenas de milhões de seres humanos. Quando nossos imbecis estudantes de esquerda dizem na internet “matou foi pouco” mostram o pior lado do ser humano, o do escárnio e da indiferença e é exatamente por conta desse tipo de espírito podre que essas sociopatias florescem. Enquanto o canalha cambojano sustentou seus planos ideológicos da criação do “novo homem comunista” forçando pessoas a migrar e trabalhar no campo levando a morte por execuções ou inanição, a China de Mao fez o contrário acabando com a produção e distribuição de alimentos para as cidades ao urbanizar a força de trabalho compulsoriamente com fins de industrialização. Este chamado “Grande Salto para Frente” foi, na verdade, um salto para o abismo.

A Escandinávia teve algo assim? Nada. Então por que chamar o sistema social que criaram de socialismo?

O que existe em países como Dinamarca, Suécia, Noruega – a chamada Escandinávia – e vizinhos (não considerados como Escandinávia), Islândia e Finlândia é um sistema de elevada tributação com fornecimento de serviços públicos de boa qualidade que foi desenvolvido ao longo da história por partidos socialistas. Aqui, “socialista” se prendia a uma definição do termo pelos chamados socialdemocratas (guarde esse nome) que acreditavam, diferentemente dos marxistas, socialistas old school e comunistas, que a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos não se daria por processos revolucionários, mas sim pela tributação em cima de empresas capitalistas. Socialdemocratas ou socialistas no sentido anticomunista sabiam que o capitalismo era irreversível como melhor sistema produtivo e que, isto é importante, não podiam matar sua “galinha dos ovos de ouro”.

Mas se trata de um sistema autoritário também, só que por vias indiretas?

– o caso sueco

A Suécia, p.ex., uma monarquia constitucional tem seus deputados vivendo na capital do país em apartamentos de 40m², com lavanderia comunitária sem direito às serventes. Outros têm menos espaço ainda, vivendo em apartamentos de 18m² com cozinha comunitária. Que diabo de sistema autoritário e despótico, socialista em termos clássicos seria este que não premia sua elite política? Esta é uma das diferenças gritantes que vemos quando comparamos a burocracia privilegiada dos tempos da antiga União Soviética p.ex., a chamada Nomenklatura. Até os anos 90, os deputados viviam em sofá camas no parlamento, sem direito a carros oficiais ou coisa que o valha. Ainda hoje, prefeitos e governadores sequer têm direito às residências oficiais e deputados estaduais podem ganhar apenas um computador para trabalhar. Deputados federais não têm verba indenizatória e recebem apenas o equivalente ao dobro do salário de um professor. E, mais importante, um político sueco não tem imunidade parlamentar. Para se ter uma ideia do nível de seriedade desse sistema, uma vice-primeira ministra teve seu cargo cassado porque comprou uma barra de chocolate com verba parlamentar, o chamado “Caso Toblerone”.

Agora ninguém discute que se trata de uma economia altamente tributada. Normalmente, 40% ficam com o governo e se você for rico pode ser algo em torno de 55%. A diferença é o alto grau também de transferência dos impostos, o estado sueco cuida da aposentadoria, da saúde e do seguro-desemprego. Isto se estende também à educação que garante os estudos por vias públicas até o doutorado. Há toda uma rede de assistência, como creches e cerca de 80-85% dos impostos retornam a você, como pagador de impostos. Assim, não há uma prioridade em transferir renda para os mais pobres, como a esquerda gosta de nos fazer crer e sim, uma transferência para todos pagadores de seus impostos. Importante lembrar que não se trata de um sistema que procura homogeneizar as classes sociais e, exatamente, por isso não é socialismo. Chame do que quiser, estado de bem-estar social, capitalismo de bem-estar social, mas não é socialismo.

Saúde

Se tomarmos o exemplo da saúde, este é o setor que mais gera problemas. As filas só aumentam demonstrando claramente o que Hayek já dizia, as demandas são infinitas e, portanto, os preços são decididos politicamente de tal modo que muitos suecos preferem se tratar no exterior. Se a saúde dos suecos é boa, se a expectativa de vida é longa se deve mais aos hábitos do povo que não ingere muita porcaria na alimentação, assim como não fuma demais. São hábitos que fazem o monge, como se diz e isto explica, p.ex., como a epidemia de sobrepeso atinge certos estados americanos, o Alabama, mas não o Colorado. São os hábitos, a cultura local que devem ser investigados e não somente uma análise dos gastos com medicina e saúde.

Avanços e Recuos

Muitos argumentam que o enriquecimento deste país se deveu aos seus minérios, ou ao seu não envolvimento na I Guerra Mundial, ou ao seu Estado de Bem-Estar Social – o Welfare State –, que é na verdade uma consequência e não a causa. O que levou ao seu sucesso econômico entre 1870 e 1970, de um dos países mais pobres da Europa ao posto de 4º mais rico do mundo foi o capitalismo aplicado. No entanto, esse crescimento todo não pôde defender as maiores empresas suecas (pense em Volvo, Ericsson, Ikea…) da ideologia esquerdista dos anos 60, que passou a influenciar todos os partidos do país, mesmo os de direita. Com o alto nível de tributação e, especialmente, regulamentações sobre a atividade produtiva, o inevitável iria ocorrer: a crise dos anos 70 em que os indicadores econômicos começaram a piorar. Esta crise levou a reformas necessárias nos anos 80 e 90, com redução de impostos para o capital e aumento no consumo. A razão é simples, o capital com alta tributação foge do país, o consumidor não. A ideia é retomar o tripé de desenvolvimento que levou o país ao seu pico máximo, o trabalho, o comercio e a inovação.

O país passou por duas décadas e meia patinando e agora a pouco mais de uma década retomou seu desenvolvimento baseado numa liberalização para as empresas. A química é simples, não há como sustentar bons serviços públicos sem uma economia bem ajustada. Há um limite quantitativo e qualitativo para que a atividade não definhe e os suecos descobriram isto antes que fosse tarde. As desregulamentações também são outro ponto, de taxis a ferrovias, de telecomunicações a escolas, antes dirigidas pelos governos, praticamente tudo está se tornando mais livre.

Educação

Na educação que é um setor que me interessa deveras por ser professor, se trata de um sistema muito interessante que está sendo instaurado. Há uma liberdade de modelos em que não se tem mais a direção do estado. Qualquer escola é possível e é financiada pelo estado que recolhe impostos para isto. O financiamento é público, mas a administração é de empresas ou prefeituras e, o que é muito importante, pois as verbas de custeio aumentarão quanto maior for a preferência de pais ou responsáveis por determinada instituição. É a demanda por um tipo de serviço que condiciona o gasto público e não, como se faz no socialismo, o planejamento de uma equipe de burocratas ou de pedagogos dizendo o que é melhor.

Entre 1980 e 2000, a liberdade econômica só aumentou no país. Isto significa que se trata de um modelo a ser seguido?

Pense, se os suecos aceitam um estado agigantado não é porque são burros, mas porque, no caso deles, este estado é eficiente. Se outro modelo de capitalismo (vamos deixar bem claro aqui), como é o caso dos EUA não seguem a mesma trilha, talvez seja porque seus setores públicos não demonstrem eficiência similar e eles sejam bem sucedidos de outro modo. Qual é o melhor não nos cabe dizer, mas sim ver qual tem mais a ver com as características sociais e culturais do Brasil. Qual modelo você gostaria de ver aplicado aqui, a partir da experiência com nosso tipo de estado? Você crê que um modelo estatista como o sueco é condizente com a realidade de nossa máquina pública ou o oposto, como na América é que seria mais adequado? Esta é a questão técnica relevante e não o pobre debate maniqueísta de chamar uma economia de mercado com administração estatal diferente de socialista que é o que fazem os esquerdistas. Não caia nesta.

Atenção! Cuidado com a Manipulação!

Vivemos uma época de intensa guerra cultural onde a esquerda perde em tudo, menos na propaganda. Analise, em 2012, os EUA atingira 8,2% de desemprego, o que representou “uma grave crise do capitalismo” para os periódicos de esquerda (Carta Capital, Carta Maior, Caros Amigos, Revista Fórum e outros), mas 12% de desemprego na Venezuela (o que deveria ser mais, se não fosse a censura de seu regime autoritário) não representaram uma crise do socialismo bolivariano ou do estatismo? Como assim?

Assim se compreende facilmente como um político picareta como Bernie Sanders, que concorreu à candidatura à presidência pelos Democratas contra Hillary Clinton afirmou que os EUA tinham de seguir o exemplo “socialista” da Dinamarca, país similar à Suécia na sua administração pública e econômica. Como a mentira tem pernas curtas, Sanders foi desmentido pelo primeiro ministro dinamarquês em palestra na Universidade de Harvard. A questão é ele sabe o que realmente aconteceu e acontece lá ou é mera ignorância? No primeiro caso, ele estaria manipulando, pois mente sobre o suposto “socialismo escandinavo”; no segundo, ele seria apenas mais um idiota útil da esquerda, só que com uma diferença: poder.

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Para que gente assim não ganhe espaço com mentiras divulgue estes dados e acabe com o germe da mentira em seu nascedouro.

Obrigado,

Anselmo Heidrich

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