É unanime a avaliação ou ponto de vista de que a liberação da prisão de Dirceu e de Eike Batista, dois próceres da década passada, funciona como contestação aos usos generalizados do instituto da prisão provisória como estímulo à delação premiada.
O que oscilam são as decorrencias disto. Dellagnol e Cia mexeram num vespeiro ao desafiar o trio Gilmar/Toffoli/Lewandowski. Como aprendizes de feiticeiro se deixaram levar por uma fantasia de onipotência que não tardaria a se revelar ingenua e insustentável (a revés do que pregam os adeptos do Antagonista). Mas não necessariamente inconsequente e irresponsável (como alegaria um Reinaldo Azevedo) pois expôs a ala podre da cúpula do Judiciário, a qual, ainda que de relance e circunscritamente, esboça o que inequivocamente seria percebido como seu instinto de sobrevivência.
A série de interesses empresariais e financeiros potencialmente tocados pela delação palocciana abrange a fina flor do “capitalismo de compadrio” brasileiro, figurões cuja estirpe transcendeu eras históricas inteiras da política nacional.
Alguns sobreviveram ao fim da colonização (1822), outras ao fim da escravidão e do Império (1888/89) e muitos à própria revolução de 1930.
Alguns, discretos, sobre os quais pouco se diz e se especula até aqui, a saber o setor financeiro da economia. Este, embora alheio à Lava Jato até aqui, é visto unanimemente por ambas as “torcidas” como cúmplice senão mentor e beneficiário da rede de corrupção sistemática e pervasiva vigente no Estado brasileiro, pois é tocado tanto pelas “10 Medidas de Combate à Corrupção” (mais especificamente a prevenção contra a Lavagem de Dinheiro), bem como pelos pedidos de Auditoria da Dívida Externa.
Contudo pouco se avançou em seu desnudamento, ao contrario do que ocorre com a cúpula do setor empresarial produtivo, ora representado pela Petrobras e pelas empreiteiras. Haveria que se imaginar que as investigações aqui, se aprofundadas e radicalizadas no mesmo sentido e direção que a Lava Jato empreendeu no segmento empresarial produtivo, nos levaria a um desfecho “islandês” para as mazelas de nosso sistema financeiro?
Esta questão não iremos responder aqui. O texto a seguir foi redigido há cerca de seis meses atrás. Como se verá o mesmo não antecipava avanços como os que hoje se verificam, como a difusão da Lava Jato para investigar corruptos e corruptores dentre os banqueiros brasileiros, bem como para evidenciar os comprometimentos e promiscuidades da Magistratura Nacional ( a saber: os affairs familiares e negociais de Gilmar com o controlador do Grupo EBX e de Janot com a OAS, depois com a JBS).
Por certo os mesmos se enquadram no enredo original do texto e mudam incrementalmente o significado que ali se buscou construir. Muito embora abalem algumas crenças, por outro lado tornam complexa as tarefas analíticas e operacionais dos que buscam extirpar a corrupção no Brasil.
Continue lendo aqui >> A Profana Aliança. A Coalizão Geral contra a Lava Jato e a Disjuntiva de Stanislaw Ponte Preta