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Anselmo Heidrich

Defendo uma sociedade livre baseada no governo limitado e estado mínimo.

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Geografia

O Nosso Alvo

Quando digo que sou professor de geografia, muitos deduzem que eu pertença ou faça coro com determinada corrente política, notadamente marxista. Isso é um grande equívoco, assim como seria dizer que há uma “geografia liberal” por oposição. Não, em absoluto. Geografia é geografia, se me permitem a tautologia. Há um saber específico em coordenar os fenômenos que se inter-relacionam na superfície terrestre em uma síntese e a geografia é, simplesmente, isto. Não tem que se ter uma carteirinha de sindicato de esquerda ou milícia de direita para fazer geografia. Em primeiro lugar, a pesquisa, as hipóteses que resultarão em teorias e, a partir daí, só então, é que cada indivíduo, de posse de um conhecimento fundado na objetividade, vai utilizá-lo da forma como achar melhor adequando-o a sua visão de sociedade e projeto político. Essa separação entre “o que eu vejo a partir de um método de estudo” e “o que eu desejo a partir de premissas filosóficas por mim endossadas” é de suma importância.

A síntese que gosto de caracterizar como sendo típica da geografia é um complemento às diversas especialidades prévias, das quais depende esta tradição de conhecimento. Pré-requisitos, como a distribuição das formas de vida na superfície de acordo com o zoneamento climático, a biogeografia; a distribuição de províncias geológicas e as várias formas de relevo resultantes da interação entre fatores climáticos e a estrutura da crosta; as diversas bacias hidrográficas que conectam grandes áreas sendo afetadas pela expansão das manchas urbanas e suas regiões funcionais, com uma hierarquia de cidades operando como um sistema circulatório que, drena recursos em uma via e irriga capitais em outra.

Também é possível fragmentar o objeto de estudo e focalizar em setores, como o agrário, o industrial, o urbano etc., mas não se pode perder a perspectiva geral sob o risco de não entender causas de certos fenômenos. Até aí, nada de mais, pois se eu for me debruçar, p.ex., sobre certos efeitos climáticos em escala urbana vou ter que, necessariamente, entender o fenômeno das “ilhas de calor”. Ocorre que neste exato ponto da narrativa surge o discurso político-ideológico que tornou a geografia mais um campo de estudos totalmente poluído e sem objetividade científica. No exemplo que acabei de dar, a crítica sobre a atividade industrial adquire um tom moral, ao invés de técnico, enfatizando a indústria como exploradora e, essencialmente, predatória, sem propor avanços tecnológicos ou dar o devido destaque às melhorias com igual peso.

Uma dessas subáreas muito conhecida de nome, a geopolítica surge aqui e ali, na mídia, na internet, nos materiais didáticos, como uma descrição exaustiva do “conflito norte-sul”, entre países ricos e pobres (o que não passa de uma grotesca generalização), em oposição à outra bipolaridade, a leste-oeste, vigente durante a Guerra Fria, entre países capitalistas e comunistas de 1945 a 1990. Por ironia da história, hoje, com o surgimento de uma nova direita, o discurso aparentemente mudou, mas sua estrutura de raciocínio permanece exatamente a mesma: substituíram-se os velhos capitalistas-imperialistas, no linguajar leninista, pelo dito cujo “globalismo” que grassa nos discursos de ideólogos como Olavo de Carvalho e seu seguidor, o chanceler brasileiro, Ernesto Araújo. Na perspectiva de ambos, o globalismo é um sistema em expansão que trabalha em várias frentes para desintegrar a autonomia dos estados-nação do mundo.

Seja em uma perspectiva de esquerda, Capital vs. Trabalho, ou seja, em uma perspectiva de direita, Organismos Supranacionais vs. Estados-Nação, o método simplista de entender a realidade funciona como um resumo esquemático em detrimento dos interesses locais e regionais, suas particularidades históricas e culturais que têm muito mais peso para as sociedades que qualquer efeito de grupos de interesse internacional com seus poderes superestimados.

Pois então… Nessa nossa trajetória de todas as terças-feiras[*], as Terças Realmente Livres, em oposição ao produtor de Fake News chamado, inapropriadamente, de “Terça Livre”, iremos confrontar estas visões maniqueístas do mundo com exemplos concretos, fatos e dados. As teorias que funcionam como narrativas de uma falsa consciência e sedimentam ilusões ideológicas desses grupos que ora compactuam com governos populistas serão nosso principal alvo.

#TeoriaDaConspiração
#Globalismo
#Geopolítica

[*] Texto publicado, originalmente, na página “Biologia Política”, dia 19 de maio, uma terça-feira.

Imagem (fonte): https://pxhere.com/en/photo/740029

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Anselmo Heidrich

Fas est et ab hoste doceri
– Ovídio

Rússia VS. (a sua) Geografia

O editorial The Geopolitics of Russia: Permanent Struggle da Stratfor contém uma análise “bastante geográfica” da Rússia, isto é, calcada em sua cartografia. É como se o próprio mapa apresentasse determinações. A posição intermediária do país entre Ocidente e Oriente levou a um tipo de política reativa quando pensamos nas invasões ocidentais, de Napoleão à Hitler no passado ou a expansão da OTAN na atualidade. Isto sem contar com as invasões mongóis, turcas, suas frágeis fronteiras com o Islã ao sul e a hegemonia chinesa tomando corpo na orla do Pacífico.

Outro ponto é o que o que preenche este espaço, vasto espaço, diga-se de passagem, a sua população. A história russa entremeada de conflitos se reflete em uma pirâmide etária toda recortada, na qual cada reentrância decorre de uma queda da natalidade devido ao drástico aumento da mortalidade durante a guerra. Hoje em dia, a Federação Russa sofre com um módico declínio demográfico.[1]

Se compararmos esta situação com a de países vizinhos do mundo muçulmano, particularmente na Ásia Central[2] ou na distante China, cuja política de controle de natalidade não é suficiente para conter um aumento significativo de sua população absoluta,[3] a Rússia é um gigante extenso e pouco povoado. A forma efetiva de controle de um território nacional se dá pela base demográfica condizente, sem a qual pode ficar inviável.

Estas dificuldades, sejam elas estáticas, como sua geografia, sejam elas dinâmicas, como sua população levam a uma perspectiva de reação do estado e a Federação Russa parece estabelecer um plano de retomada do antigo espaço soviético. De certa forma, sim, mas não é tão simples como se fosse uma mera reedição dos áureos tempos do comunismo soviético… Na verdade, o “plano russo” estipula tratamentos diferenciados de influência, controle e domínio territorial sobre países em sua órbita de influência. São basicamente quatro formas de atuação:

  • Primeiro grupo: países que a Rússia pretende restabelecer sua influência de modo pleno (Bielorrússia, Cazaquistão, Geórgia e Ucrânia). São países de inquestionável valor estratégico devido a sua posição geográfica. Eles permitem acesso aos mares Negro e Cáspio para um gigante como a Rússia, com poucas saídas marítimas que não congelam durante o inverno e também ligam áreas agrícolas nacionais ao coração industrial da federação;
  • Segundo grupo: países que Moscou deseja ter maior aproximação. Trata-se dos países Bálticos (Lituânia, Letônia e Estônia), Cáucaso (Azerbaijão) e Ásia Central (Turcomenistão e Uzbequistão). Não há grande necessidade de mantê-los sobre influência de Moscou, mas por precaução se deve afastá-los das tentativas de criação de laços com o Ocidente por estarem muito próximos da zona de segurança russa;
  • Terceiro grupo: países sem grande importância econômica ou política, mas que devido a suas instabilidades internas e governos fracos podem se tornar alvos fáceis da influência externa. É o caso da Armênia, Moldávia, Quirguistão e Tajiquistão, países que se apresentam como “presas fáceis” para cooptação externa;
  • Quarto grupo: países que não constituíram parte do espaço soviético no passado, mas que a Rússia entende como possível área de influência futura. Este é, sem dúvida, o grupo mais complexo onde temos Alemanha, França, Polônia e Turquia. Como influenciá-los? Não há perspectiva fácil, ainda mais sabendo que são membros da OTAN, mas que nem por isso se colocam como subservientes ou em relação de submissão aos EUA. Trata-se se uma necessidade e perspectiva de longo prazo para uma estratégia eurasiática se torne possível.

O irônico disto tudo é que justamente a estratégia de contenção utilizada ao longo da história contra a URSS e agora contra a Rússia, que consiste na criação de estados-tampões está sendo agora utilizada por Moscou contra seus rivais. Isto deveria servir de alerta contra a visão de ciclos preestabelecidos como senso comum. O exemplo do fim do comunismo é um que não deveria turvar nossa percepção… É bom lembrar que mesmo tendo reduzido a extensão de seus domínios com o fim da URSS, a Rússia retornou ao seu tamanho do século XVII. Diversamente a um declínio ou decadência, Moscou tem assegurado um domínio de longo prazo.

A perseverança geopolítica da Rússia é ainda mais notável quando se leva em consideração o enorme gasto para manter seu território, que a pôs em desvantagem frente a seus competidores ocidentais e asiáticos. E, claro, a competição armamentista com os EUA sufocou sua capacidade de desenvolvimento deslocando importantes recursos para este setor, vital para sua manutenção como império. Ainda, a perda de toda Europa Oriental, partes da Ásia Central e do Cáucaso como área de influência exclusiva, são provas inegáveis da vitória do capitalismo ocidental. Mas, de certo modo, a sorte de um país como a Rússia é não ter como vizinho próximo uma China aventureira e com planos expansionistas.

Parece difícil uma maior fragilização do cenário russo, mas a história tem lá suas mudanças dramáticas… Agora, com a expansão da OTAN sobre o Cáucaso e Leste Europeu, o sentido de autodefesa russa se torna ainda mais aguçado. Apesar do crescente destaque internacional do país, a Rússia não tem logrado sucesso em suas investidas: não está segura no Cáucaso; perdeu influência na Ucrânia, na Moldávia e na Ásia Central; bem como amarga o recolhimento da linha de segurança nos Cárpatos e no Báltico, o que é inaceitável, assim como a neutralidade da Bielorússia; também não obtiveram um porto livre de bloqueios ocidentais. Estes são alguns pontos chave e a disputa pela hegemonia com os EUA no Oriente Médio tem muito a ver com tentativas de deslocar a atenção de Washington para áreas mais distantes do interesse imediato russo.

Por outro lado, também não interessa uma grande fragilidade interna russa que possa levar a convulsões internas e uma política externa mais agressiva, como se viu claramente no caso da Geórgia, Chechenia ou Ucrânia. Apesar de nossas dúvidas sobre o futuro do país, a manutenção de seu heartland tem sido um problema mais geográfico que ideológico. As mentalidades, filosofias políticas e ideologias vêm e vão, se metamorfoseiam, mas se dispensarmos a avaliação em uma escala de tempo geológica, o território da Mãe Rússia é perene.

 

Anselmo Heidrich

27 set. 18

 

[1] Cf. http://worldpopulationreview.com/. Acesso em 27 set. 2018.

[2] Cazaquistão, 1,10%; Uzbequistão, 1,42%, como algumas repúblicas da ex-URSS; E, embora, não tendo fronteira terrestre com a Rússia, potências regionais próximas e, em maior ou menor grau, rivais como Irã e Turquia também apresentam taxas de crescimento demográfico positivas: 1,05% e 1,45%, respectivamente.

[3] Isto significa mais de 5 milhões e meio por ano, em menos de uma década, uma população equivalente a Argentina surge dentro da China.

Por que estamos virando analfabetos geográficos?

Fonte: Thomas E. Sherer, Jr. The Complete Idiot’s Guide to Geography. Alpha Books, 1997.

O comentário acima foi extraído de um guia para estudo de geografia americano. E diferentemente do que se diz por aqui, o “analfabetismo geográfico” do americano médio não deriva de um preconceito infundado por este cidadão em relação ao resto do mundo, mas por uma proposta educacional equivocada.

A Geografia, assim como outras disciplinas análogas, História, Economia, Sociologia e Antropologia são incluídas em um conjunto genérico chamado Estudos Sociais e, consequentemente, o nível de especialização cai. Ainda mais se levarmos em conta de que a própria Geografia já é, de per se um estudo generalista (contemplando desde a climatologia aos estudos urbanos, p.ex.), a generalização suplanta qualquer tentativa de aprofundamento e especialização. E o tipo de profissional requisitado será menos expertise e mais conhecedor de assuntos gerais.

Não desprezo esta perspectiva, mas temos que reconhecer suas vantagens e limites. Para um mundo em crescente Globalização, a ignorância sobre outras regiões globais fecha um tipo de ciclo. Líderes populistas como Donald Trump que advogam uma espécie de isolacionismo e egoísmo diplomático — A América em primeiro lugar — reforçando a ignorância sobre seus vizinhos e outros problemas mundiais que estão relacionados à própria atuação de seu país. Não precisamos ir longe para percebermos que a última grande leva migratória de refugiados à Europa tem a ver com a Guerra da Síria promovida, em parte, por EUA e Rússia.

Em que pese a importância que dou ao tema discordo da obrigatoriedade do ensino de geografia. Acho que os currículos modernos em um mundo de crescente especialização e demanda por mão de obra especializada deveria ser modular. Mesmo porque o básico sobre conhecimentos gerais pode ser obtido pelas diversas mídias e canais disponíveis, dentre os quais o YouTube é um dos melhores, ou sites como Quora para pesquisas etc.

Mas este alerta deve ser estendido aos brasileiros, cujas tentativas de reformulações do ensino pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC), cujas tentativas remontam ao Governo de FHC, com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) que enfatizavam o estudo por eixos temáticos, como meio ambiente, sexo, ética etc. Temas transversais são úteis e conectam diferentes disciplinas, mas o risco de um mau uso é quando se diminui a riqueza e profundidade em torno de um discurso simplista e homogêneo, coisa distante da realidade e da verdade.

Muitas narrativas acadêmicas, que não passam de elaborações ideológicas mais rebuscadas acabam sendo empurradas por pedagogos em tais reformas. Dos ditos PCNs se passou para a atual Base Nacional Comum Curricular (BNCC) nos governos petistas, especialmente com a direção de Renato Janine no MEC e agora permanecem no governo Temer.

Muitos grupos de oposição, sejam liberais ou conservadores têm posição claramente contrária a imposições e conteúdos como a Ideologia de Gênero inscritas na BNCC, mas não atentam para o conjunto que deteriora a visão tradicional e mais ampla. O governo sinaliza de modo ambíguo introduzindo disciplinas como filosofia, sociologia que em uma grade curricular saturada de disciplinas sobra pouco tempo para o aprofundamento das que já existiam. Então, ao invés de enriquecer as disciplinas de Geografia e História temos menos tempo para elas e mais para outras que são costumeiramente utilizadas por doutrinadores marxistas. E isto que nem cheguei a mencionar a redução das disciplinas de biológicas e exatas durante a semana.

Meu alerta vai para vocês que dizem se preocupar com a educação em geral: parem de ver só a questão da sexualidade, que tem sua importância inegável, mas vejam o conjunto pernicioso das reformas.

Anselmo Heidrich

21 ago. 2018

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O Boicote às Aulas é Legítimo

Professor de Filosofia da UFPE, Rodrigo Jungmann sofreu boicote de alunos do curso de Geografia (só podia…) que simplesmente se recusaram a frequentar suas aulas na disciplina de Introdução a Filosofia porque este é declaradamente conservador. Bem… Pelo menos os alunos evoluíram em relação ao cenário de passado recente, no qual impediam os docentes de exercer seu ofício fosse por motivo de greve ou fosse por discordância político-ideológica. O boicote é, na verdade um processo legítimo e democrático de oposição, mesmo que com isto esteja abrindo mão da possibilidade de aprender e crescer intelectualmente com a tão alegada e advogada ‘diversidade’ (só da boca pra fora). Na verdade, os liberais e conservadores lançam mão a toda e qualquer oportunidade de também boicotar o que lhes desagrada e do que divergem. O grande X da Questão não está posto… É que é um absurdo que a sociedade que não tem nada a ver com os ímpetos revolucionários e pueris da cambada de moleques-toddynho com barbicha caprina ou as predileções teóricas do professor em questão. O absurdo é que tretas como essa sejam arcadas com nossos impostos. Que boicotem o que quiserem, que se ensine o que quiser, mas às próprias custas e não via impostos. Dê um basta nisso! Educação Sem Estado Já! Privatização do Ensino Superior Estatal e Elitista Já!

 

#EducaçãoSemEstado

#PrivatizeAUniversideEstatal

Anselmo Heidrich

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