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Anselmo Heidrich

Defendo uma sociedade livre baseada no governo limitado e estado mínimo.

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Florianópolis

Florianópolis 0 X 10 Jurerê Internacional (II)

Outro dia, um amigo me cobrou um detalhe, que realmente fez falta no meu texto sobre Florianópolis e seu bairro, Jurerê Internacional, o acesso ao mesmo, que vive entupido por filas de carros durante a temporada de verão (e mais até). Parece-me um efeito normal de um bairro que funciona como uma ilha de bem-estar em meio a uma cidade crescentemente caótica, mas aceitar o caos como normalidade é que é a verdadeira causa de nossas mazelas sociais: o costume.

Então, para procurar um caminho para as soluções temos que nos desacostumar e como tal, temos que ver a cidade como algo diferente do que sempre vemos, uma paisagem urbana imutável. Não, a cidade é tudo menos isso, ela é feita para mudar, ou melhor, a cidade é feita de mudanças. Que me perdoem os saudosistas da velha Florianópolis, dos poetas nativos, dos manés, mas isso tudo atrasa a cidade, assim como em Porto Alegre, cidade onde me criei, a cultura do “patrimônio público” é outra chaga que apodrece as instituições e leva a cidade a sua estagnação econômica e, consequentemente, decadência social.

Vejamos, a cidade é produto de demandas, ofertas, produções e imaginação. Imaginemos então, a cidade como um mercado de bens e serviços. Em determinado bairro, no caso, o Jurerê Internacional, melhores serviços no seu todo são oferecidos à população, no que se formam filas, exatamente como ocorreria em um supermercado com produtos de melhor qualidade e preço mais em conta. Logo, os outros supermercados e mercadinhos da região e bairros vizinhos acabam limitando sua clientela àqueles consumidores que não querem se deslocar e se conformam em pagar mais caro por produtos piores só para não ter um transtorno de perder tempo, o que, diga-se de passagem, também é outra commodity cada vez mais importante nos dias de hoje. Você e eu até cogitamos em comprar aquela carne mais dura, um arroz de pior qualidade (aquela desgraça de arroz parboilizado) ou um erva-mate seca e sem cor para não ter que ficar mais de uma hora no carro. O bom se tornou dispendioso e nos agregou um custo maior.

Este custo maior se transforma em um preço, quanto mais gente, menor (proporcionalmente) a oferta e, portanto, maior o valor dispendido para obter aqueles bens. Os supermercados se tornam caros, os alugueis se tornam caros, os passeios, as baladas, as roupas, as compras e consumo de ocasião, um simples cachorro-quente ou churros viram “produtos gourmet” e o bairro fica “gentrificado”,[1] ou seja, o bairro se tornou um bairro chique, caro pra dedéu. Isto vai levar a busca de alternativas (outros bairros, geralmente vizinhos) e a necessária descentralização. A alta dos preços empurrou parte das pessoas para fora dos limites daquele bairro.

Mas um bairro e sua terra não são exatamente produtos da mesma espécie que os encontrados nas prateleiras dos supermercados, eles têm maior ingerência de leis municipais e urbanas. Em parte, são propriedade pública, então, comparemos com serviços públicos como, p.ex., a saúde. Em Florianópolis, capital tida como referência em atendimento público de saúde, há postos de saúde que são muito melhor preparados do que outros. Aqui, é público e notório que certos postos de saúde e policlínicas (centros de atendimento maiores e mais diversificados) são mais requeridos, mas como os usuários (clientes divididos pelo Sistema Único de Saúde, SUS) são “regionalizados”, i.e., divididos por regiões administrativas e obrigados a frequentar os postos e policlínicas de sua região, não se tem o livre-arbítrio de escolher o melhor atendimento. Eu, morador do Rio Vermelho, sou obrigado a buscar atendimento no posto do meu bairro, reconhecido pelos meus vizinhos como de péssima qualidade. E eu entendo o porquê da separação/regionalização: se liberassem todos para ir para os melhores postos, estes viveriam saturados, sempre.

O que faltaria para que descentralizassem, naturalmente? O que existe nos bairros que levam as pessoas a vazarem fora: um sistema de preços. Sei, sei, um serviço público não pode ter isto porque daí não seria público e sim, privado. Certo? Mais ou menos, isto pode ser adaptado de outra forma, com os pacientes sendo postos em listas de espera para serem atendidos nas melhores unidades. E, com cotas de tempo previamente estipuladas de acordo com metas, para se evitar assim superlotação nos postos com saturação de usuários pela lentidão nos atendimentos. Em duas palavras: monitoramento e fiscalização.

Bom, o que isto tem a ver com o engarrafamento na entrada do Jurerê Internacional? Preste atenção: este bairro NÃO TEM SOLUÇÃO SE PENSADO ISOLADAMENTE. Ele só irá melhorar se houver maior descentralização e isto ocorrerá com monitoramento e fiscalização de porque outros bairros não executam suas tarefas, através das superintendências e poder público municipal. Mas quais seriam essas tarefas? Pense que a cobrança (e pressão) sobre as piores unidades de saúde (postos e policlínicas) levará à melhoria do sistema com uma espécie de competição interna entre elas, cuja consequência deverá ser a maior descentralização interna ao serviço municipal e, ANALOGAMENTE, o mesmo deve ocorrer entre os bairros, na medida em que a melhoria dos serviços urbanos vizinhos leva a descentralização territorial da demanda pelo espaço urbano.

Isto parece ficção científica quando não imaginamos ser possível adaptar o princípio do sistema de preços do mercado privado para outra forma de avaliação do sistema público. E os preços são, antes de tudo, indicadores de preferência: preços maiores significam que são preferidos em detrimento de outros, que irão indicar isto através de preços menores. É possível a equivalência entre público e privado sim, só o executor é que é outro, ao invés da Dona Fulana indo com sua sacolinha na feira, é um técnico de formação na área averiguando, objetivamente, porque um posto X e tão mais lerdo e menos procurado do que Y. Algo como: “O que acontece lá? Por que não funciona? Vamos investigar.” Esses fiscais também trabalhariam em regime de produtividade, assim como policiais que ganham pontos por crimes resolvidos. Se isso não existe aqui, o problema é outro, porque temos que adaptar este princípio de operação e criar um modelo.

E agora eu me pergunto, se podemos fazer com um sistema de saúde municipal, por que também não com a segurança pública dos bairros? Com os arruamentos e calçamentos? Com a iluminação pública? Com o esgotamento sanitário? Com as escolas? Bom… Levaria anos, mas se eu tivesse que começar, faria duas coisas: reforma administrativa com perda de privilégios frente aos trabalhadores da iniciativa privada e o estabelecimento de critérios objetivos ao conhecimento de todos (servidores e usuários) de como o sistema deve funcionar.

Isso, pra começo de conversa. Mas, se não for por aí taca-lhe outro viaduto pro Jurerê Internacional e empurremos o problema com a barriga pra piorar tudo de novo daqui 5 ou 6 anos. Afinal, não é assim que se faz? Não é assim que sempre se fez?

Anselmo Heidrich

11 mar. 20


[1] Gentrificação “é o fenômeno que afeta uma região ou bairro pela alteração das dinâmicas da composição do local, tal como novos pontos comerciais ou construção de novos edifícios, valorizando a região e afetando a população de baixa renda local” (Wikipédia). A origem do termo deriva da palavra gentry, pessoas de boa posição social, especificamente (no Reino Unido), a classe de pessoas logo abaixo da nobreza em posição e herança de berço, membro de uma espécie de pequena nobreza.

Florianópolis 0 X 10 Jurerê

Florianópolis é tida (ainda) como uma das melhores capitais para se viver no Brasil, ok, mas eu não diria que seja uma das melhores cidades. As capitais brasileiras são, em geral, muito ruins. Digo, “em geral” porque se procurarmos por qualidades específicas, teremos cidades muito boas, como S. Paulo, p.ex., para a geração e obtenção de empregos, ou Curitiba, pela mobilidade etc.

Mas, quando se fala em Florianópolis, logo se pensa em “qualidade de vida”, seja lá o que isso signifique. O que temos aqui é uma população, relativamente, pequena para um sítio urbano grande, logo há espaços vagos entre seus bairros e distritos que são ocupados por áreas de preservação. Com seu relevo irregular, a maior parte do município se localiza em uma ilha – Ilha de Santa Catarina – que ostentam uma frondosa Mata Atlântica entrecortada por enseadas e suas praias. Pronto, acabaou aí… Acabou porque uma boa qualidade de vida requer espaços públicos, serviços públicos e uma boa mobilidade urbana e habitação.

Vamos por partes, quase não há praças ou parques e quando há se encontram concentrados dificultando o acesso por quem mais precisaria deles, cidadãos de baixa renda; serviços públicos se entendermos o SUS, comparado a outras capitais, é tido como bom, referência, mas se vermos o esgotamento sanitário, Florianópolis é pior do que muito país de IV Mundo, com um baixíssimo índice de tratamento, coleta, coleta de lixo seletiva que é “seletiva” para seus habitantes com poucos sendo atendidos; as escolas públicas são ruins, com alto índice de indisciplina, como na maioria do país (não é nossa exclusividade); a mobilidade urbana é, simplesmente, um LIXO. Quem mora ou morou sabe, S. Paulo, com toda sua frota flui muito melhor. Aqui se é refém das máfias dos taxis e ônibus, com motoristas de aplicativos funcionando nas zonas de sombra de baixa lucratividade e sem permissão para vans operarem para usuários comuns como operam, p.ex., no transporte escolar. E se funciona com segurança para crianças por que não funcionaria para adultos?

E a habitação segue o padrão do Rio de Janeiro, loteamentos irregulares sobem o morro como caramujos surgem após a chuva. Passados alguns anos, a situação é consolidada e nenhum juiz tira barracos de áreas de preservação. Barracos que vão melhorando até se transformarem em casas com qualidade razoável. É a gentrificação da periferia, fenômeno que a hipocrisia marxista impede que geógrafos e urbanistas entendam (ou procurem entender). Juridicamente, 85% de Florianópolis, a “capital do turismo do mercosul”, é uma grande favela. Não tem o aspecto, mas é o que é na prática.

Onde então encontramos um espaço mais justo e equitativo para o cidadão nesta cidade?

Segurem-se nas cadeiras.

No bairro mais elitista, Jurerê Internacional.

Vos digo porque…

Nele, qualquer um tem acesso a sua infraestrutura, não é impedido de utilizá-lo, facilmente se encontra vaga para estacionar, e há várias pracinhas e parques que enchem de usuários que vêm de outros bairros, justamente, pela carência nos seus. A questão básica sem a qual nada disso funciona, a segurança pública é ostensiva, com policiais educados que não te olham como se fosse um meliante.

E a razão disso é simples, como temos um país onde os serviços púbicos vão de ruim a péssimos, um bairro onde é garantido o direito de ir e vir (garantido na prática pela segurança), os instrumentos urbanos são de maioria privada e mantidos pelos moradores e, principalmente, comerciantes. A associação deles, Associação de Proprietários e Moradores de Jurerê Internacional (AJIN) é boa de briga e não deixa barato. Vai contra interesses que tentam prejudicar a moradia e convivência do bairro.

Mais do que a esfera privada e as leis de mercado, são a participação e interesse dos cidadãos locais que mantêm uma cidade aprazível e hospitaleira. Ou, pelo menos, parte dela…

Não é para menos que meus filhos foram em um bailinho de rua naquele bairro, assim como a maioria de seus frequentadores. Portanto, quando falarem com desdém desta área da cidade saibam que é, na melhor das hipóteses, por ignorância e, na pior, ressentimento e inveja.

Anselmo Heidrich

23 fev. 20


Imagem “Jurerê Open Shopping” (fonte): https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Jurer%C3%AA_Open_Shopping.jpg

Manipulação Explícita de Professor em Escola de Florianópolis

Publiquei uma crítica lá, é interessante que todos façamos a nossa:

Chega a ser grotesco, como um semi-analfabeto desses foi parar ali… pior que eu sei, mas não deixa de ser chocante. E malicioso, pra não se queimar inventou um critério de que para ser criminoso tem que lucrar um milhão por mês sabe-se lá como.

O caso foi no colégio ou foi no cursinho? Se foi no colégio, o professor está submetido a uma legislação educacional e tem que ser coerente com ela. Se ele quer tecer uma crítica ao capitalismo, que o faça com maestria, atitude relativa a um mestre e não com manipulação torpe que é o que faz mostrando uma montagem pobre e mal feita, utilizada como “obra de arte” algumas semanas atrás nas redes sociais.

Eu poderia facilmente quebrar o discurso manipulador dele apontando como a metade esquálida da foto, de um menino subnutrido pertence à regiões mundiais onde grassa a guerra civil, as quadrilhas que afrontam a ordem institucional e afastam investimentos, isto é, empresários, capitais, fatores de crescimento econômico, geração de renda, empregos e tributos que serão investidos na educação e no emprego. Eu poderia facilmente mostrar dados e discutir metodologias de pesquisas que os utilizam, sem que o referido professor, na verdade, um manipulador se utilizou.

Se vocês quiserem e aprovarem, eu proponho um debate. Ou façam algo melhor, demitam alguém que pode até ser admirado pelos alunos, mas que não cumpre seu papel de professor de verdade. Afinal, agradar não é o mesmo que ensinar. Muitos jovens adoram seus fornecedores de drogas e nem por isso, esses traficantes lhes oferecem a verdade dos efeitos colaterais dos momentos de prazer que irão ter.

Agora, se for um professor de “cursinho”, de pré-vestibular ou preparatório de concursos, a lei não se aplica, pois são “cursos livres”, não submetidos à legislação educcional. Aí a mera pressão mercadológica e denúncia faz com que a clientela rejeite este tipo de empresa que não se preocupa com a qualidade das aulas.

E vocês do Atitude, qual atitude tomarão? Deixarão passar em branco? Como dizem na internet, “o print é eterno”. Ou tomarão uma atitude correta e darão um ultimato a quem desmerece seu ofício?

Link para se manifestar: https://www.facebook.com/colegioatitudesc/posts/2171612766240556https://www.facebook.com/colegioatitudesc/posts/2171612766240556

Anselmo Heidrich

29 abr. 19

Duas Questões e Uma Esperança

Anselmo Heidrich

Alguns dias atrás meu filho (6 anos) me fez uma pergunta, daquelas difíceis de responder, “pai, quem construiu o planeta?”

— Bem, ele não foi construído… Quer dizer, ele foi, mas não por alguém. Ele surgiu. Alguns acreditam que por uma explosão que começou tudo, o planeta, as estrelas, as galáxias.

Seu rosto era uma dúvida estampada.

— Mas alguns acreditam que alguém, um ser superior fez ele, aliás fez tudo. Eu não acredito nisso, mas muita gente acredita. Ian, esta é uma dúvida que tu vai levar pro resto da vida ou não, não sei. Tu mesmo vai ter que procurar uma resposta.

E, obviamente, eu não pensava só no planeta. E me empolguei…

— O problema é que se alguém o construiu, quem construiu ele, o que existia antes?

Claro que não ajudei muito, mas sei que não extingui sua vontade de conhecer mais sobre o assunto, ainda mais conhecendo meu guri. Em tempo, isso seria só o início.

Alguns anos antes, nós andávamos pelas ruas, uma das típicas servidões de Florianópolis que, para quem conhece sabe como são péssimas vias, cujo status permanece assim porque isenta a prefeitura de cumprir suas obrigações com as devidas melhorias para as quais somos onerados com impostos, taxas, “contribuições” e mais novos impostos e taxas. Daí, o rapazinho me diz:

— Pai, quem cuida da rua?

— A prefeitura…

— O que é “prefeitura”?

— A prefeitura é um órgão… Quer dizer, algo que a gente cria para cuidar da rua, posto de saúde, escola. Tem escola que é diferente da tua, quem cuida é a prefeitura.

Daí ele olha para o chão e vê terra, pedras soltas, outras eclodindo da terra como ovos de tartarugas, pasto avançando pelas laterais, lixo sem recolhimento, galhos entremeados aos cabos telefônicos, muros que não deixam nem 30cm do meio fio, quiçá os 4m estipulados em lei etc. e mantém aquele semblante que se repetiria anos mais tarde com a astrofísica e a origem do universo.

— Mas, ela não está assim…

Cuidada, ele pensou.

— É… Deveria, mas isso não funciona bem aqui, no nosso país, mais ainda na nossa cidade. Nós poderíamos arrumar tudo isso aqui, ainda mais se não pagássemos nada pra prefeitura que não faz nada aqui. Mas acho que um dia muda.

# # #

Uma resposta foi bem mais vaga, mas esperançosa, já na outra terminei pregando a esperança, apesar de sua evidente falta de inspiração. Com o tempo percebi que quanto mais difícil é explicar algo para uma criança é porque existe algo de errado ali.

Quando uma mulher persa tira seu hijab e um filipino canta rock

Arnel Pineda, atual vocalista do Journey.

 

Ontem mesmo eu fui atendido por dois filipinos em um restaurante aqui em Florianópolis e, ao invés de lhes fazer perguntas normais como por que eles vieram para cá, o que lhes atraiu ou se eram marinheiros e se encantaram com a cidade fui logo ao que mais me interessa (e afasta as pessoas), “você saiu das Filipinas devido ao terrorismo do grupo Abu Sayyaf que quer uma parte do território as filipinas são católicas né?”, “o grupo terrorista e separatista é muçulmano certo?” O atendente, que falava muito bem o português para quem era um imigrante de pouco tempo no país me disse “é, há alguns católicos…” Como assim há alguns?!As filipinas são majoritariamente católicas! Logo percebi que o sujeito não deveria ser um e que se mostrou ligeiramente incomodado com a questão. Como minha mulher observou depois, eu realmente não sei abordar as pessoas com algo que as atraia para uma conversa leve. Fazer o quê?

Já não é a primeira vez que isso ocorre, anos atrás, eu também conheci uma mãe persa(sic) como ela mesmo se denominou e eu fiquei, obviamente confuso, pois o país é chamado de Irã desde a década de 30. Eu fiquei olhando para o nada e dei um passo para a frente, como quem quer conversar sem berrar no meio do playground, ao que a mamãe do oriente automaticamente recuou um passo. Novamente, minha mulher me fitando só faltou puxar as rédeas, se as tivesse… Eu disse “Irã?” Foi daí que ela paralisou por quando ouviu a palavra, como se eu tivesse dito um palavrão. Realmente para alguém dizer que vem da Pérsia ao invés de Irã, que é como o país se chama atualmente deve ser por uma profunda rejeição ao status quo, seja social ou político. Achei tão natural de minha parte citar IRÃ que fiquei chocado com seu susto. E claro que ela deveria ser uma herege para o país dos aiatolás, se vestia como uma ocidental, bem moderninha aliás de calças, camiseta e outros adereços femininos que distam anos luz da escola estilística dos hijabs. Sei sei que no Irã antes da Revolução de 1979, as mulheres tinham bem mais liberdade e não eram obrigadas a se vestirem ocultando sua beleza e também sei que há movimentos femininos que rejeitam a obrigação de usar o véu islâmico, coisa que estranhamente não vejo como bandeira de luta ou sequer tímido apoio de nossas feministas ocidentais. Sei lá, vai saber, talvez nossas mulheres engagées estejam mais ocupadas tentando acabar com o capitalismo , o cristianismo e a cultura ocidental…

Engraçado, gente fugindo do totalitarismo com medo de novos totalitários a espreita no parquinho, enquanto observa crianças brincando, gente que não percebe uma ação totalitária em curso em seu próprio país, mas tem desgosto por outra religião e, no fim das contas, apenas servos de seus horários de trabalho e seu tempo livre. Enquanto isto, minha sutileza de bola de boliche levantou da cadeira comigo e fomos ao balcão pagar a conta para outro filipino me atender. Continuei meu curso contra os pinos e perguntei se conhecia Juan de la Cruz, uma banda de lá. O sujeito ficou impressionado e pela primeira vez tive um contato humano quando me fitou e disse “Claro! ROCK’N’ROLL!,” Sim, eu tenho o disco e ainda arrematei “também tem lá o novo vocalista do REO Speedwagon…” ao que me olhou estranho. Digo, não! É outro o nome da banda, “Journey, sim, journey, EU ERREI” e ele complementou “Arnel Pineda”! É esse seu nome, como? Arnel? Isso, Arnel Pineda, excelente vocalista. Vi um documentário sobre sua história e admissão no grupo. Muito bom. Ao atravessar o calçadão pude ouvir o gerente cantando, afinado, diga-se de passagem.

É isso, às vezes geramos uma cizânia aqui e ali, um desconforto geral, mas no fim das contas, importante mesmo é ficar com a música na cabeça, ela é que nos tira das fronteiras e limites impostos pelas culturas. Agora me permito um pouco do sonho ingênuo de que um dia, as preces nos templos sejam substituídas por ondas de rádio FM. Menos crenças, mais prazer e que se dane o além porque vou continuar sendo inconveniente, das Filipinas ao Irã passando por Florianópolis.

 

Um bom dia,

Anselmo Heidrich

2017-08-03

 

A Desigualdade Não é a Causa da Violência

Guarnições da PM são deslocadas para o Bairro Monte Cristo, em Florianópolis na noite de ontem.

Por Anselmo Heidrich

Florianópolis, cidade onde vivo há mais de uma década já foi capa de revistas por sua excelente qualidade de vida. Mas para além das praias e morros verdes que marcam a paisagem da Ilha de Santa Catarina, o crescimento assustador da violência (como o aumento de 169% de homicídios no primeiro bimestre de 2017) tocará o seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) por um desses morros abaixo até chegar às várzeas que inundam na época de chuvas misturando-se ao esgoto a céu aberto. Este cada vez mais integrado à paisagem local também…

Mas se segurem em suas cadeiras e fechem suas grades porque nos próximos dias seremos inundados também, só que por análises de “especialistas” falando em segurança pública. Sabe? Daqueles que adoram culpar a polícia pelo caos imediato e a desigualdade, esta Caixa de Pandora por tudo que aí está sem perceberem que a maior desigualdade está justamente na falta de liberdade para nos defender do que o estado (defendido por eles) nos impõe, o desarmamento.

Isto já vem de longa data… Tomemos um exemplo: em 18 de março de 2005, um debate entre os deputados estaduais Ítalo Cardoso do PT e Ubiratan Guimarães do PTB, sobre prisão perpétua, no programa Questão de Ordem, na TV Assembleia do Estado de S. Paulo expunha opiniões divergentes sobre o problema.

O deputado e coronel Ubiratan manteve suas opiniões pautadas com a experiência das ruas, de quem conhece o mundo do crime e de como este age. O deputado Ítalo por sua vez atacava o “estado mínimo”(sic), muito embora não explicasse o que, efetivamente, seria este “estado mínimo” ou sequer, se tal coisa existe ou jamais existiu em nossa pátria. Passou a nítida impressão de que a Esquerda decora uma cartilha e passa a repeti-la irrefletidamente.

Sabemos que o estado mínimo, que seja a garantida da propriedade privada e a defesa da livre-iniciativa são quimeras no Brasil, mas por que então atacá-lo, se não existe? Simples. Como atacar a desigualdade social, supostamente imposta pelo capitalismo se não expor uma de suas pedras teóricas fundamentais, a necessidade de um estado mínimo e o governo limitado? Por esta e outras razões é que se torcem os dados e distorcem a realidade. Toda a estratégia contida nesta saída tangencial do problema é desfocar a violência e o crime organizado para focar na desigualdade e no capitalismo. Obviamente que isto é um disparate: um país com uma carga tributária como a nossa, com um déficit público congênito e com a falta de transparência típica da maioria de nossos representantes públicos no uso do orçamento público, não tem nada de liberal, não tem nada de estado mínimo. É fácil falar contra o “estado mínimo”, difícil é defender a transparência pública máxima.

A premissa contida neste discurso é de que a falha na segurança pública decorrente da falta de responsabilidade estatal é consequência desta ideologia liberal econômica, transmutada hoje em “neoliberal”.

Quem pensa desta forma sempre aponta a culpa no capital e a responsabilidade em última instância, no estado. E, como não poderia deixar de ser, como o sistema correcional corrige pouco, o condenado tem que ter seus direitos garantidos. Alguns, de que me lembro: ginástica, sim, três horas. Mente sã em corpo são… Afinal, se o sistema não corrige ninguém, os meliantes precisam de corpos sadios e em forma para continuar a torturar e assassinar quando saírem das prisões.

Mas quem cobra coerência da contraditoriedade retórica da esquerda? É desnecessário. Na novilíngua da esquerda, as coisas são assim: ao estado todas as incumbências, e aos criminosos, todos os direitos. O engraçado é que, amparados numa visão hobbesiana de mundo, os esquerdistas, especialmente aqueles que trabalham em comissões de direitos humanos, creem que o estado oprime, que a sociedade oprime e que indivíduos são oprimidos. Tudo bem, não fosse o fato de que o estado e a sociedade são compostos de… indivíduos!

Agora, o negócio é o seguinte, se for verdade que a legalização e liberação das drogas acabará com esta guerra do tráfico contra o estado e entre traficantes mesmo, tudo bem, mas lembrem-se que a proibição e agora, a mera descriminalização trouxeram ao setor de entorpecentes, indivíduos capazes de desafiar o monopólio do uso da força, isto é, o estado. Mesmo que não os tenhamos mais usando de força bruta para valer sua atividade de comércio de produtos ilícitos, muitos provavelmente irão se instalar em outras atividades não legalizadas porque desoneradas. Quem sabe, armamentos? Prostituição? Prostituição infantil? Tráfico de órgãos humanos? Assaltos a bancos? A questão é quem já foi destemido e não se adequou a nenhum serviço legalizado pouco está se lixando para isto em outra oportunidade. É um mito achar que a legalização por si só fará o traficante abrir uma guia de Microempreendedor Individual (MEI) no portal do empreendedor.

Com a legalização e liberação, provavelmente teremos outros empreendedores que não atuavam no setor com medo das represálias, mas que agora o farão, aumentando a concorrência e diminuindo os lucros das máfias. Estas, por sua vez, tenderão a migrar para nichos exclusivos de maior lucratividade e é justamente aí que uma boa revisão do nosso código penal (com processos mais eficazes) e de uma polícia melhor equipada e setor de inteligência priorizado. Neste, particularmente, entre outras coisas significa maior número de infiltrados, isto é, dividir para reinar.

Então, meus caros conservadores e liberais, ou encaramos esta ou ficamos só de mimimi achando que logos se curvarão às ovelhas porque estas não gostam de cães pastores. Se ainda não fui claro, seremos homens e mulheres dispostos a nos defender ou rumaremos tranquilos ao nosso abatedouro?

Jornalista prega diálogo, mas ignora violência de sindicalistas

Colegas vejam esta ‘pérola’ do colunista Carlos Damião, de Florianópolis:

Por que Gean Loureiro, que sempre foi político, decidiu adotar uma solução não-política para seu início de mandato, partindo para o confronto direto com os servidores municipais? Gean sempre teve parcelas do funcionalismo como aliadas em suas disputas eleitorais. Vendia a imagem de bom moço em suas propagandas – inclusive nos outdoors alusivos a datas comemorativas (dias das mães, dos professores etc.). Na campanha de 2016 fez questão de ressaltar que seria parceiro dos servidores (há vídeos circulando nas redes sociais com esse conteúdo) e que valorizaria as atividades deles.
Por que Gean mudou? Essencialmente, porque prevalecem nos bastidores da prefeitura pressões de toda ordem realizadas por grupos que querem fazer “a nova política”, “tirar o ranço”, “adotar modelos do iniciativa privada”. Há, entre esses grupos, notórios militantes do MBL (Movimento Brasil Livre), incluindo vereadores, assessores, técnicos e empresários. O próprio MBL admite isso num perfil das redes sociais, quando apóia as medidas e chama o pacote de Gean de “Cortaço” – ou seja, de enxugamento geral da máquina pública.

via Pacote de Gean Loureiro não foi construído em duas semanas | Carlos Damião | Notícias do Dia Florianópolis

A fundação do Movimento Brasil Livre – MBL foi em 2014, Dário Berger (ex-prefeito da capital de SC e atual senador) encerra seu mandato em 2012. Relação entre os dois: ZERO. Quanto aos cortes de Gean Loureiro (atual prefeito de Florianópolis), basta perguntar ao Governo Federal, obrigado a isto devido ao rombo de trilhões deixado pelo governo impedido de Dilma. Damião faz esta relação? Não, não e não. Por que será? Ah ah, basta meia palavra para bom entendedor. Mas o que mais me causa espanto é como suposições, ilações, acusações indiretas e insinuações tomaram o lugar do bom jornalismo investigativo de outrora… Provavelmente porque as salas de redação estejam coalhadas de comentaristas tão manipulados quanto seu produto: a manipulação. Agora, se nosso ‘jornalista’ se prestasse à função veria que não houve presença de nenhum integrante do MBL na manifestação sindical, nenhum. Mas sim de membros ativos contra o descaso da máquina pública, seu inchaço e clientelismo que impedem os bairros de serem atendidos. Parceria Público-Privada é palavrão, mas inflação de funcionários com planos de carreira garantidos enquanto que a população padece com taxas de desemprego em dezenas de milhões nem sequer é cogitada. “Ah! Mas cadê o diálogo?” Sério?! Veja aqui como o sindicato gosta de diálogo:

RL

 

 

Sobra dinheiro na Floram? Sobra dinheiro na Prefeitura de Florianópolis?! SOBRA??!!

Você estuda feito um condenado. Se esforça, faz concurso, se estressa e para quê?! Gratificações que levam a supersalários onde manobristas ganham mais de 10.000 reais, geógrafos com mais de 20.000 mensais (e procure ver a produção deles…) é um deboche, é um tapa na cara da sociedade. Onde está estipulado este valor? Onde diz que havia vaga para motoristas com estes salários em algum edital? Onde estão os mapas e análises de profissionais da área da geografia fornecidos on line pela Floram?! É uma piada… É uma piada de péssimo gosto, um escárnio feito à sociedade brasileira, um cuspe na moral do cidadão que prima pela ética que existam estes casos.

Lamentável: via G1 – Funcionários com cargo de motorista ganham mais de R$ 10 mil na Floram – notícias em Santa Catarina

RL

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