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Anselmo Heidrich

Defendo uma sociedade livre baseada no governo limitado e estado mínimo.

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ambientalismo

Apelos Ambientalistas

VC RECEBE UM APELO + OU — mais ou menos assim “meu nome é Fulano de Tal dos Santos. Sou da comunidade camponesa da Puta Que Pariu, estado da Pôrra do Caralho. Lutamos para salvar o Cerrado…” Êi! Mas vc por acaso sabe qual é a origem do Cerrado e como ele pode ser ANTI-NATURAL?!

Alguém tem ideia de que o Bioma do Cerrado pode ter sido resultado de manejo ambiental feito pelos próprios indígenas e, portanto, nada natural do ponto de vista biogeográfico, mas sim obra de manejo ambiental, ainda que tecnologicamente primitivo? Pois é, esta é uma das teorias sobre a origem e formação do Cerrado. Assim, não sendo natural por que deveríamos achar que ele deve ser protegido na sua forma atual? Claro que não estou aqui advogando sua completa extinção ou alteração irreversível, mas sim lançando um justo questionamento, por que deveríamos nos posicionar in limine contra qualquer alteração do ambiente natural quando se sabe que muito deste é, exatamente, fruto desta alteração de séculos ou milênios? Em geral, as pessoas não procuram se questionar sobre o que isto significa, nem sobre o que é ou não ‘natural’.

Dias atrás recebi uma saraivada de mensagens no grupo de WhatsApp da rua. Criado com o intuito de resolver problemas locais ou como instrumento de segurança, sua maior atividade é, como não poderia deixar de ser, falar da vida alheia. E o morador do fim da rua, que se notabilizava por plantar árvores e arbustos até no meio do passeio para impedir tráfico, presença de estranhos e consumo de drogas em área de preservação ambiental reclamou que um novo vizinho as cortara. O relato dele não foi perfeito, pois sou como “o novo devastador que está se mudando para cá está destruindo tudo que plantei ao longo de dez anos”, mas conheço o sujeito e sei que ele cultivou isto tudo muito além de sua propriedade e o fez, inclusive, em via pública prejudicando a passagem.

Agora, já faz quase uma semana que caminhões vão até o fim e voltam carregados de terra. Daí começou o pavor “vão construir uma pousada, acabou nosso sossego, é proibido, precisa de licença etc.” Ao nos inteirarmos, soubemos era um casal de estrangeiros, supostamente franceses, mas na verdade holandeses e daí tudo pareceu fazer sentido, holandeses são um dos povos que mais mexem e alteram seu habitat. Totalmente sintomático que o sujeito venha e em sua propriedade a altere, adaptando a suas condições de vida. Como vivemos em um município onde 45% são área de preservação, em que não se permitem construções, na área restante ainda há quem ache um pecado que se adapte a terra a suas condições de permanência. Como aqui há muitos insetos, principalmente formigas, os holandeses reviraram-na para tocar inseticida. E daí, mais drama “e nosso lençol freático? ainda bem que não tenho poço?” Mal sabem que os produtos que utilizam uma ou duas vezes por mês em seus jardins afrescalhados para evitar ervas-daninhas também podem ser descritos como ‘agrotóxicos’ e que há medidas para sua utilização. Enfim, a obra está a toque de caixa e estou muito curioso para ver como ficará.

De onde vem isso? Essa mentalidade de que tudo que é natural é necessariamente melhor? Ou melhor, o que vem a ser esse natural? A primeira conferência mundial sobre meio ambiente — a Eco ’72 — se realizou em Estocolmo e o foco era claro, a superpopulação, seja lá o que isso signifique… Não, não dá para dizer simplesmente que é uma grande população que não consegue ser devidamente suprida pelos seus recursos naturais, pois se isto vale para Bangladesh, não é o mesmo com o Japão, só para citar dois casos conhecidos. Mas creio que isto é ainda anterior, pois quando se institui uma conferência mundial é porque já houve uma evolução da comunicação e da cultura para se chegar a um consenso, seja ele cientificamente errado ou não. Veja que isto quase aconteceu com a ideia de Aquecimento Global Antropogênico, mas já está sedimentada no imaginário popular dos países mais urbanizados que a humanidade é destruidora. E agora há pouco acabei de mencionar uma palavrinha que diz muito sobre isso, urbanizado.

Em O Homem e o Mundo Natural, Keith Thomas mostra como, justamente, em uma época de primórdios da urbanização na Inglaterra Vitoriana, os poetas e contistas traçavam perfis de sociedades lúdicas e ainda não corrompidas, algo que já era senso comum sobre o mal que adquirimos ao viver e conviver com nossos semelhantes. Esta visão era um tanto arrojada, pois contradizia a determinação natural e a racialização na explicação do desenvolvimento dos povos. Então, o que temos é um preconceito alardeado que surgiu para combater outro. É como se à determinação e visão de destino irredutível surgisse outra pautada no voluntarismo dos indivíduos e comunidades, mas ao invés deste produzir um otimismo em anos mais recentes serviu para asseverar nossos erros como se a superação deles não fosse prova de nosso sucesso enquanto espécie e sim uma linha regular de desgraças.

Bem… Talvez ter que ler vários comentários de ignorantes em redes sociais seja mesmo um castigo dos deuses.

Anselmo Heidrich

01/07/2018

Qual é o Ambientalismo de nossos livros didáticos?

Acima, dois emblemas, duas apresentações, duas mensagens, mas uma ideia nos é transmitida. A diferença é que da forma implícita se torna muito, mas muito mais eficaz.

E o que dizer do tema transversal Meio Ambiente? Se há algo consensual que poucos ousam levantar sua voz hoje em dia é a “defesa do meio ambiente”, mas se repararmos, a questão está um pouco mal colocada. Primeiro porque quando falamos em “defesa do…” subentende-se que é algo externo a nós, como se fosse defender uma reserva, defender uma espécie ameaçada de extinção ou, na elasticidade dos conceitos jurídicos, meio ambiente do trabalho, meio ambiente urbano, a defesa do patrimônio artístico e cultural também entra nisso e aí, obviamente, quem dirá o que deve ser defendido e preservado serão especialistas. “Especialistas” esses que, como já cansamos de ver tem suas opiniões politizadas que nos são apresentadas como neutras, científicas, objetivas etc.

Como nosso foco aqui é o ensino vejamos como, efetivamente, o tema meio ambiente é tratado em sala de aula a partir das propostas do MEC.

Quando esse assunto começou a ser tratado nos livros-texto, a palavra de toque era poluição, algum componente que exalado além do aceitável era considerado danoso. Aos poucos, a ênfase recaía para a preservação da qualidade de vida, sem que se definisse claramente o que viesse a ser, mas até aí era possível discutir em termos mais objetivos. Com o passar dos anos e décadas até, a expressão vida sustentável foi se firmando como condição e objetivo a serem atingidos para um meio ambiente sadio e equilibrado trazendo consigo uma pequena confusão o que é e deve ser estudado – pela ecologia – e o que deve ser garantido como meio ambiente saudável e equilibrado – pelos ecologistas. Assim, um campo de investigação se mistura gradualmente a uma ética e esta conduz as investigações. Isto é um problema.

Aqui e ali começam a pipocar críticas à:

  • perspectiva de crescimento contínuo da produção na economia;
  • manipulação da natureza (transgênicos, p.ex.);
  • esgotamento dos recursos naturais.

Onde tudo isso leva, como gostam de dizer, a uma “destruição natural sem precedentes”. O que se vê pela junção de temas distintos é que se forma para o estudante um encadeamento implícito, não necessariamente verdadeiro. O crescimento da produção industrial nem sempre leva a uma maior destruição entendendo esta como o aumento da poluição; a produção de Organismos Geneticamente Modificados (OGMs), vulgo “transgênicos” pode, inclusive, levar ao menor impacto ambiental quando áreas menores são requeridas devido a maior produtividade e se dispensa o uso de agrotóxicos quando as sementes modificadas são mais resistentes; quando se fala na finitude dos recursos naturais, em primeiro lugar temos que diferenciar o que é escasso em certas áreas, como a água e outros, cuja escassez leva a ciclos de desenvolvimento de alternativas, como é o caso dos hicrocarbonetos que poluem muito mais do que outras fontes energéticas.

A surpresa viria, a partir dos anos 80 no Brasil do casamento dessas ideias com o marxismo. Mas como? Como? Marx usava a expressão 1ª Natureza para se referir ao que entendemos popularmente como Natureza e 2ª Natureza a natureza transformada, trabalhada pela sociedade. É pela presunção de que vivemos cada vez mais dentro do espaço transformado da natureza e que sua forma original encontra-se cada vez mais submetida à Lógica do Capital(sic) que os marxistas, ou professores de esquerda querem (e até hoje tentam) transformar estudos ambientais como um anexo, um “puxadinho teórico” do marxismo. Difícil crer, né? Mas isto porque vocês não leem as coisas que eles escrevem, das quais podemos diferenciar as formas explícitas e as implícitas. Estas, mais comuns são as principais responsáveis por sedimentar preconceitos teóricos nos estudantes.

Não é a toa que antes de sabermos o significado do relevo, da latitude e consequentes zonas climáticas ou da biogeografia, os alunos já são bombardeados logo de cara por tópicos como:

  • mudanças climáticas;
  • aquecimento global;
  • elevação do nível do mar.

Quando analisamos materiais sugeridos pelo MEC para o último ano do ensino médio, a obra Mudanças Climáticas (Coleção Explorando o Ensino) Vol. 13 de 2009 já se anunciam os graves problemas ambientais, dentre os quais o climático. Ou seja, sem antes fazer um mínimo esboço do funcionamento e o que já sabemos sobre a evolução climática do planeta em eras e períodos geológicos, já se parte para o problema atual! Cá entre nós, não é preciso ser nenhum Einstein para saber que se quero identificar um problema tenho que ter uma mínima compreensão da situação antes dele surgir. Sem nem questionar como mudam os climas já se assume de antemão na obra supracitada que a mudança é consequência da deterioração dos biomas. O mínimo mínimo mesmo a se exigir seria que se apresentasse duas visões distintas ou mais, mas não! Já se parte logo de cara para a asseveração do que quer dizer, o sistema “econômico vigente é a raiz dos males e tem que ser mudado” (para não dizer revolucionado). Como não o dizem diretamente porque haveria mais chance de se perceber a farsa, se sugere, se induz… Esta é a tática.

Embora se trate de uma obra geral, o que chama atenção é o caráter conclusivo já na sua introdução:

“Há algum tempo vimos que os recursos naturais nos parecem reduzidos, sem capacidade de regeneração frente à rápida intervenção humana que ocorre sobre eles. As florestas e savanas estão sendo sobreexploradas e invadidas por atividades da agropecuária e da indústria madeireira. Os ecossistemas estão sob pressão” (p. 21).

Trechos como o acima destacados aparecem soltos na argumentação ao não terem relação causal com nenhum fato ou teoria mais sólida. Dizer que os ecossistemas “estão sob pressão” soa óbvio, sobretudo, quando eles estiveram desde sempre. O conceito de ecossistema sugere que seja dinâmico e procure se adaptar às pressões. Agora dizer em que grau estão sendo pressionados e que são extintos é outra coisa e isto deveria ser diferenciado. Não fazê-lo é displicência ou tem como claro intuito alarmar. Dizer também que os biomas estão perdidos ou em vias de desaparecer sugere que eles não tenham capacidade de regeneração. Não só tem, como suspeita-se que muitos de seus ecossistemas tenham surgido justamente pela intervenção humana no ambiente (casos do Cerrado brasileiro e da Pradaria americana).

Estudar o meio ambiente é fundamental, seja você liberal ou socialista, de direita ou de esquerda ou qualquer outra corrente, mas a incerteza como parte integrante do processo de construção do conhecimento científico não só é tecnicamente como moralmente correto.

Anselmo Heidrich

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