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Anselmo Heidrich

Defendo uma sociedade livre baseada no governo limitado e estado mínimo.

Categoria

Política

O Marxismo é uma História sem Sujeito

Sim, Marx errou em suas predições. Mas, penso que este foi um erro menor. Explico-me: errar o futuro é comum à liberais, socialistas ou quaisquer que sejam as orientações ideológicas. “Especialistas em futuro próximo”, como os agentes de mercado não erram suas apostas nas bolsas de valores?

O problema também não é que seu erro foi proporcional a sua (enorme) pretensão, mas que (aí é que está), não existe esta firme distinção, como querem os heterodoxos, em ver um “Marx metodológico” (que se salvaria) do “Marx profeta” (completamente descartado). Penso que o erro que levou às pretensiosas predições reside no próprio método marxiano.

A teleologia objetiva da história, na qual Marx se baseava tinha um fim previsto, objetivo. Quantas vezes não ouvimos falar em “interesses de classe”? De onde achamos que vêm isto? Ora, os interesses não são estruturais, eles podem ser vários.

Não raro, os interesses da classe operária podem estar bem afinados com a elite empresarial, quando os ganhos destas redundam em benefícios à primeira. O que torna isto inviável no raciocínio marxiano? O fim aludido, no qual se chegará via contradição (estrutural) entre as classes. Por isto, as adversidades no transcurso histórico não passam de ocasos nos quais, a “tendência dominante” da “evolução da história”, leia-se luta de classes, se imporá.

Não se impôs. Foi o que se viu e, como bem demonstram as metamorfoses sofridas pelo movimento operário.

Outra característica que se alia a este finalismo histórico (a teleologia…) é seu aspecto funcionalista. Sei que alguns dirão se tratar de algo específico de uma escola americana de sociologia (Talcott Parsons) que nada teria a ver com o marxismo… Mas, eu discordo: o funcionalismo presente na obra marxiana tem a ver com um sistema fechado onde efeitos (outputs) produzem feedbacks que justificam os inputs, sendo os efeitos políticos nada mais que elementos intermediários do circuito.

Um exemplo corriqueiro do fucionalismo na obra de Marx, a que muitos chamam, desavisadamente, de “economicismo” (deturpando esta ciência… a economia) é quando uma instituição surge para atender as “necessidades do sistema”. O caso paradigmático a que me refiro é a religião que, numa leitura mais rasteira (althusseriana) é categorizada como mera superestrutura a “serviço do sistema”.

(Leitura vulgarizada que, no entanto, surgiu no próprio Marx.)

Ora! Se há situações em que a esfera religiosa justifica uma determinada situação econômica, há aquelas em que se opõe, claramente, às mudanças do mesmo sistema, ou seja, da própria economia. Se a religião fosse assim, tão “reflexiva”, não haveria porque existir tantas querelas entre agentes econômicos e as oligarquias com sua legitimação atemporal.

Não há determinismos grosseiros na realidade, como Marx quis enxergar.

Marx pode ter acertado (do ponto de vista empírico) em certas análises para sua época, mas errou redondamente na generalização para o futuro e também, naquilo que entendeu como sendo o passado da sociedade capitalista. Algumas de suas subteorias, como a da taxa declinante de lucros contém um raciocínio dedutivo pobre derivado mais de seu próprio wishful thinking do que um exercício lógico de contraposição e testes verdadeiramente dialéticos.

A paixão de Marx, evidentemente, ofuscou seu crivo crítico. Ele também descartou o papel fundamental do indivíduo na história. Dependendo do lugar que este ocupe na rede de relações sociais, sua ação pode ter um papel decisivo no decorrer dos fatos históricos, ainda superior do que certas ações coletivas de classe ou não.

A teleologia objetiva da história em Marx contém um paradoxo. Ela “explica tudo” de frente para trás, mas aquilo que ela se propõe explicar de modo explícito, o futuro tem nas possibilidades do acaso e da contingência históricas, o mais completo vazio. Enquanto a ciência procede de trás para frente, da causa para o efeito, o marxianismo faz, exatamente, o contrário ao pretender apontar o passado a partir do futuro. Como se este futuro tivesse já inscrito, de antemão, o que o passado, inexoravelmente, descobrirá de modo lógico, certeiro e irretocável, o chamado “devir histórico”. Mas, sem perceber neste passado, os imprevistos e criações históricas como o que são: opções e alternativas, plenos de dilemas.

Os maiores erros de Marx também são os mesmos de Hegel, de acreditar numa história sem sujeito (individual e de interações individuais), mas que desastrosamente debita um objetivo à história, como se fosse possível desvincular objetivos de sujeitos.

Anselmo Heidrich

19 mar. 2023

A Luta contra a Pandemia na Ucrânia

A epidemia de um novo vírus na China no final do ano passado (2019) e que logo se disseminou pelo mundo se tornando uma afetou duramente a economia da Ucrânia, além de causar um grande número de mortos. Como se trata de um vírus — o coronavírus SARS– CoV– — com alto poder de contágio, os sistemas de saúde de vários países ficaram sob ameaça de saturação. Isto fez com que diversos governos decretassem regimes de quarentena, ou até mesmo delockdown, mas, mesmo assim, cidades foram duramente afetadas, assim como regiões inteiras, seja na China, Itália, EUA, Brasil, dentre outros casos.

Evolução e reação à crise

primeiro caso registrado na Ucrânia data de 3 de março, em Chernivtsi. A vítima de infecção teria voltado com a esposa da Itália, país onde houve um grande número de contágios, especialmente na região da Lombardia. Nove dias depois, que coaduna com o ciclo de manifestação dos sintomas, normalmente de 1 a 14 dias,ocorre o relato de mais dois casos em 12 de março, um dia após a quarentena ter sido decretada, e um dia antes do primeiro óbito. Quase três meses depois, o número de casos tem aumentado exponencialmente e as mortes já chegam a mais de 300.

A Ucrânia fechou suas fronteiras no dia 13 de março, também interrompeu o transporte público e em Kiev foi restrito a categorias consideradas essenciais, profissionais do setor de saúde, financeiro e supermercados. Atividades recreativas foram proibidas, assim como aglomerações com mais de dez pessoas, incluindo cultos religiosos. Estradas e metrôs também foram mantidas com funcionamento restrito e escolas foram fechadas e até mesmo a entrada em cidades.

Até o dia 23 de março foram adotadas as seguintes medidas: “Suspensão do processo educacional em universidades, escolas e estabelecimentos de ensino pré-escolar; fechamento do metrô; impor restrições ao transporte público; suspensão de serviços ferroviários, de ônibus e aéreos; suspensão de compras, clubes esportivos, instituições culturais e restauração; proibição de ações em massa envolvendo mais de 10 pessoas — esses são os poderes das autoridades centrais e locais que visam estabilizar a situação epidemiológica e impedir a propagação do vírus”.

O epicentro da doença é o oblast de Chernivetska, o que levou o Gabinete de Ministros da Ucrânia a introduzir o regime de quarentena, inicialmente por apenas três semanas. Até o dia 21 de março, o país elevou seus esforços designando 17.000 policiais no combate à pandemia e cerca de uma semana depois ainda se acreditava na hipótese de impedir a entrada do vírus em território nacional. Mesmo que isto fosse verdadeiro, não seria possível em um país conflagrado pela guerra na sua fronteira leste, em que tropas insurgentes apoiadas pela Rússia têm livre trânsito entre um e outro país. A Ucrânia adotou medidas de contenção fitossanitárias de seu lado, mas a situação é desconhecida onde grupos insurgentes em Donetsk e Lugansk controlam passagens para o lado russo.

Passados vinte dias após o primeiro relato de infecção trazida do exterior e o país já tinha sua primeira infecção doméstica, apesar de todas medidas de segurança adotadas. Por consequência, o Ministro da Saúde, Ilya Yemets, solicitou ao Verkhovna Rada que introduzisse o Estado de Emergência.

A discussão sobre o que viria a ser este estado de emergência se estendeu levando em conta as garantias constitucionais dos cidadãos. A adoção de regras para cumprimento de medidas de segurança durante a crise pandêmica é emergencial, mas tem que se basear na lei que fornece poderes adicionais às autoridades com certas restrições aos direitos constitucionais.

A partir do dia 23 de março, a Verkhovna Rada alterou a legislação específica para a vida dos cidadãos, das empresas e do Estado nas condições atuais, com:

· Introdução de restrições à exportação de suprimentos médicos;

· Adoção de benefícios fiscais;

· Moratória para verificações documentais e factuais;

· Estabelecimento do direito de funcionários ao trabalho remoto;

· Responsabilidade administrativa estabelecida pela violação das regras de quarentena com multa;

· Aumento da responsabilidade criminal por violação das regras e normas sanitárias de prevenção de doenças infecciosas e envenenamento em massa, com multa ou prisão. Se tais ações tiverem consequências mais graves ou mortes, a pena será de prisão por um período de 5 a 8 anos.

Nesta situação, três regiões ucranianas já foram declaradas em estado de emergência, Donetsk, Ternopil e Cherkasy, informou o primeiro-ministro Denis Shmygal. Recursos adicionais foram utilizados, como helicópteros sanitários para transporte de pacientes infectados. A capital, Kiev, adotou a limpeza do transporte público, mas também das próprias ruas, pontes e estradas. E, apesar de problemas iniciais com o fornecimento de testes para detecção do vírus por uma empresa ucraniana, um carregamento proveniente da China trouxe um grande lote dos testes, dispositivos de ventilação pulmonar artificial, máscaras médicas e outros recursos. Também, na esteira dessa cooperação internacional, o Canadá ofereceu ajuda ao governo ucraniano fornecendo equipamentos e suprimentos médicos, este foi o foco da conversa entre o primeiro-ministro Justin Trudeau e o presidente Volodymyr Zelensky, bem como ajuda à remoção dos cidadãos ucranianos que desejassem retornar ao seu país.

A contrainformação

Como a Ucrânia tem sido palco de disputas políticas internas e pressões externas, mais intensamente desde 2014, a pandemia foi aproveitada para ampliar a crise. Vídeos e informações falsas, as chamadas foram propagadas com intuito de gerar pânico na população, como já aconteceu em uma pequena cidade, Novi Sanzhary, com manifestantes tentando bloquear o transporte de ucranianos evacuados da China.

Segundo o Ministério das Relações Exteriores, mais de 70.000 ucranianos foram trazidos do exterior dentro das medidas de combate a CoVid-19. Já os cidadãos evacuados da China ficaram em uma quarentena no centro médico na região de Poltava. No final de fevereiro, o Vice-Ministro de Assuntos Internos, Anton Gerashchenkon,afirmou que a situação já havia se normalizado na cidade: “Agora a situação em Novi Sanzhary é calma. A ordem pública é mantida por 320 membros da Guarda Nacional, 70 oficiais da Polícia Nacional e 16 trabalhadores do Serviço de Emergência do Estado. A situação está completamente sob controle (…). Não vamos deixar alguém ameaçar a segurança no centro de saúde Novi Sanzhary”.

A tentativa frustrada de ucranianos tentarem negar atendimento médico para compatriotas também levou a Igreja Ortodoxa da Ucrânia a se manifestar: “Em vista do retorno à Ucrânia de nossos cidadãos que foram evacuados da China, onde uma doença perigosa se espalhou, estamos testemunhando atitudes agressivas sobre sua chegada à Pátria. Embora os serviços médicos indiquem que não há pacientes entre os repatriados, e a necessidade de quarentena é uma medida de segurança adicional e necessária — o medo e a alienação estão levando as pessoas a rejeitar. (…) Que o Senhor nos dê a todos, como sociedade, sabedoria e perseverança, nos salve dos estragos de doenças perniciosas e do ódio e alienação perniciosos!”.

Embora uma pesquisa realizada no final do mês de fevereiro mostrasse que 74% dos entrevistados fossem contra os protestos dos repatriados, apenas 11% estavam indecisos e ainda havia 15% que apoiavam este tipo de atitude.

As táticas de contrainformação, segundo fontes ucranianas anti-russas, atribuíam o vírus como sendo uma arma biológica criada pelos Estados Unidos, para desestabilização de instituições democráticas de outros países. O que é certo são os efeitos disso acirrando divisões e conflitos já existentes no país.

Disputas políticas e corrupção

Além da tensão gerada pela a pandemia em vários países, as disputas políticas internas crescem em meio às incertezas de como proceder. O partido do ex-presidente Petro Poroshenko, Solidariedade Europeia, se opôs à adoção do Estado de Emergência: “‘A Solidariedade Europeia se opõe fortemente, porque vemos isso como um tremendo risco para o país e a democracia. Acreditamos que, hoje, Zelensky e o governo tenham todos os poderes para tomar as decisões necessárias: através de um mecanismo para a adoção de leis separadas e do NSDC[5]”- disse, em 23 de março, a deputada popular Irina Gerashchenko.

Suspeitas de corrupção envolvendo os testes necessários para detecção do vírus também afetaram a credibilidade do enfrentamento da crise pelo governo. Antes dos aviões com novos testes chegarem da China, se buscou utilizar os de fabricação nacional para, mais tarde, descobrir que se tratava de produtos de uma empresa sem qualquer experiência ou tradição no mercado.

Os efeitos na economia também são bastante disruptivos. Os preços dos medicamentos e utensílios médicos sofreram forte especulação, o que levou o presidente Zelensky a ameaçar com sanções quem resolvesse tirar proveito da situação.

Conclusões

Com mais de 13.600 casos confirmados até o momento, 340 mortes e com o agravante de o país ainda manter uma guerra no Donbass, o que só sobrecarrega mais ainda o sistema de saúde regional, a Ucrânia expõe suas fragilidades, seja pela contrainformação gerando pânico e revoltas, pelo oportunismo político da oposição, pelas suspeitas de corrupção, ou pela especulação nos preços de materiais básicos. Isso mostra que a batalha deste governo não tem sido apenas contra a pandemia.

Em recente nota, o Fundo Monetário InternacionalFMI) afirmou ter disponibilizado recursos para recuperação econômica da crise que sucederá à pandemia. São 50 bilhões de dólares para os países emergentes e 10 bilhões a juros zero para os países mais pobres (respectivamente, aproximadamente 286,23 bilhões de reais e 57,35 bilhões de reais conforme a cotação de 8 de maio de 2020). É o caso da Ucrânia no contexto europeu, a qual, aliás, já recorreu ao FMI para evitar uma recessão.

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Notas:

difere da epidemia em escala. Enquanto esta se trata de surtos de uma doença que se manifesta em diferentes regiões, a pandemia se instaura quando uma epidemia se estende a vários países e regiões. Embora já tenha existido outros casos, como a chamada “gripe espanhola” no início do século XX, a Organização Mundial da Saúde (OMS), fundada em 1948, considerou como pandemias, a gripe A (“gripe suína”), em 2009, e agora, a partir de março de 2020, a CoVid-19 (“causada pelo coronavírus”).

[2] Identificado o novo coronavírus como CoV2, a doença por ele gerada passou a ser chamada, oficialmente, pela Organização Mundial de Saúde (OMS), de CoVid-19, que significa Corona Virus disease (doença do Coronavírus), enquanto que “19” se refere ao ano em que foi descoberto, 2019, a partir dos primeiros relatos em Wuhan, na China.

[3] Quarentena [4] Verkhovna Rada[5] Conselho Nacional de Segurança e Defesa da Ucrânia[6] Até o dia 5 de março de 2020. ,ou NSDC,é um órgão consultivo de Estado para o Presidente da Ucrânia. Trata-se de uma agência responsável pelo desenvolvimento de políticas de segurança nacional em questões internas e externas. diz respeito ao Conselho Supremo da Ucrânia, sede do Poder Legislativo unicameral e o único do país. é uma das medidas não farmacológicas de combate ao vírus, uma vez que não há procedimentos farmacológicos — medicamentos e ou vacinas baseadas em evidências com literatura científica robusta até o presente momento — para conter a CoVid-19 e sua transmissibilidade. Também chamada de distanciamento social, a quarentena tem como objetivo garantir que os sistemas de saúde tenham capacidade de absorver as demandas, com atendimento adequado em local apropriado. Portanto, para evitar sua rápida saturação é que se busca impedir a circulação de pessoas, o que aumenta os casos de contágio. O lockdown, por sua vez,é bem mais restritivo ao impor, por meio de decisão judicial, o bloqueio temporário de todas as atividades consideradas não essenciais para a manutenção da vida e da saúde, evitando, assim, a maior transmissão do vírus. https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=87672818

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Fontes das Imagens:

Imagem 1 “No Aeroporto Internacional de Kharkov, guardas de fronteira fornecem autorização para 94 pessoas que chegavam da Chinaem 20 de fevereiro de 2020”( Fonte): https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Ukraine_evacuates_Ukrainian_and_foreign_citizens_from_Wuhan_16.jpg

Imagem 2 “A situação atual da crise pandêmica na Ucrânia — Mapa do surto de CoVid19 na Ucrânia– By ZomBear — Міністерство охорони здоров’ я УкраїниCC BY– SA 40” ( Fonte):

Imagem 3 “Evolução do número de casosque aumentam, em relação aos novos testes aplicados — Testes e casos positivos na Ucrânia até o dia 5 de abril” ( Fonte):


Originally published at https://ceiri.news on May 13, 2020.

Fake News Bozistas sobre o CoVid-19

Recomendo este excelente artigo de Lucas Sampaio:

Vejam como funcionam as fake news bolsonaristas

Me deparo com essa imagem comparando os estados com governadores que apoiam Bolsonaro vs estados que não apoiam, que visavam demonstrar que os estados que apoiam estão tendo resultados melhores do que o resto.

Logo de cara já me deparo com a farsa. Vejam Sergipe, está no verde, mas o governador Belivaldo Chagas NÃO APOIA Bolsonaro, pelo contrário, foi o candidato apoiado por Haddad/Lula em 2018 [1], sua vice é uma petista e viúva do ex-governador Marcelo Deda e o agrupamento que está no poder aqui no estado desde 2006 é um agrupamento formado por PT/PSD/PCdoB/PMDB, é um agrupamento de esquerda e Sergipe é um dos poucos estados em que PSD e PMDB não romperam com o PT. Belivaldo antes disso já tinha sido vice do finado Marcelo Deda (PT) e do Jackson Barreto (PMDB), defendido publicamente por Lula como o único pemedebista que não era “traidor” [2], Jackson esse que chegou a ir até mesmo a vigília de Lula na porta da sua prisão em Curitiba [3]

Apesar do partido, Belivaldo é um governador de esquerda, socialista e anti-Bolsonaro.

E ao contrário do que pensam, não, Sergipe não é um bom exemplo de combate ao vírus e esses números ainda estão errados, Sergipe tem 2800 casos e 50 mortes, muitos podem achar que isso é pouco, mas esquecem que somos o menor estado do Brasil, agora façam as contas. Nossa situação só piora, éramos o 2º estado com menos casos até algumas semanas atrás, hoje temos pelo menos 10 estados em situação melhor que a nossa (com menos casos, menos mortes e sendo estados bem maiores) [4].

Eu não posso falar da situação de todos os estados dessa imagem, mas só batendo o olho, vemos algumas situações interessantes.

Vamos pra Santa Catarina, o governador Moisés é citado como um dos que melhor lida com a crise e que apoia o Bolsonaro, mas seria isso verdade? Pois bem, o governador Moisés e o presidente estão rompidos publicamente DESDE O ANO PASSADO, Moisés faz parte da ala do PSL que NÃO ESTÁ com o presidente, inclusive os próprios bolsonaristas pedem o seu impeachment. [5]

Rio Grande do Sul é citado como um estado isentão, mas por que? O Eduardo Leite tomou uma postura clara e ferrenha contra o Bolsonaro, similar ao que Dória e Witzel estão fazendo, por que eles são inimigos e o Leite é só isentão? Tá meio óbvio que quando a gestão no combate a pandemia é boa, fica meio feito para os minions assumir que esse governador é “inimigo”, afinal, ninguém quer assumir que o inimigo é mais competente que seu presidente, então preferem empurrá-lo como alguém neutro para não ficar feio. [6]

Goiás é a mesma situação de SP e RJ, o Caiado rompeu publicamente com o Bolsonaro, mas é empurrado como neutro por que? Porque é um estado que demonstra bons números e pega mal dizer que um estado que sabe lidar bem com a crise é inimigo do seu presidente [7]

Colocar Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Tocantis como apoiadores é o CÚMULO da desonestidade intelectual, os governadores desses 3 estados assinaram a carta contra o Bolsonaro e tem tomado uma postura bem crítica em relação ao presidente nessa pandemia. O governador do Espírito Santo não é neutro, ele também está contra o presidente. [8] [9] [10]

O que podemos ver com essa imagem não é apenas que os bolsonaristas são mentirosos compulsórios, mas a fórmula utilizada para mentir. Simplesmente pegam aleatoriamente os estados que (supostamente) vem demonstrando bons resultados em relação ao combate ao vírus e pintam de verde ou amarelo, enquanto pegam todos aqueles estados que vem tendo um péssimo resultado e pintam de vermelho, por mais que os governadores da maior parte dos estados tenham um posicionamento similar em relação ao presidente. Eles sabem que dificilmente a massa de estados como SP e RJ dificilmente irá conferir a realidade desses estados menores. Sergipe mesmo tem apenas 2 milhões de habitantes, os outros 198 milhões de brasileiros não vão conhecer a fundo a realidade política sergipana, então nem vão suspeitar que o sujeito que os bolsonaristas pintam como “apoiador do Bolsonaro” é na verdade um petista socialista linha auxiliar do Lula e que combate o empreendedorismo aqui no estado ou saber a realidade de outros estados menores como Santa Catarina, Tocantins, Espírito Santo e similares. E claro, como sabem que as pessoas também não vão conferir os números (ou não vão fazer contas) é fácil colocar números falsos ou empurrar estados pequenos como se o número deles fosse baixo (quando na verdade é baixo por conta da quantidade de habitantes).

Também é interessante que após o presidente perder o apoio de todos os governadores “conservadores” que tínhamos, os minions tão se agarrando até mesmo em um petista como Belivaldo para sustentar sua narrativa.

Tudo isso é simplesmente um cherry picking seletivo e mentiroso com para enganar pessoas nos grupos de zap zap. Agora, eu até entendo o paulista que compartilha isso, duvido muito que ele conheça a realidade política fora do seu estado, mas vi gente daqui mesmo de Sergipe, que SABEM que Belivaldo não é bolsonarista, compartilhando essa imagem. Não é mais ignorância, é canalhice e mau-caratismo mesmo (ultimamente requisito necessário para passar pano pra tudo isso que está acontecendo).

Para os ingênuos, confiram as fontes antes de sair compartilhando qualquer coisa na internet, já para os desonestos, saibam que suas fake news são facilmente desmascaráveis.

Ps: esse texto não é um debate sobre a necessidade ou não do Lockdown e nem sobre quais as medidas adequadas para combater o vírus;

Ps²: esse texto não é um apoio a nenhum dos governadores citados, ao contrário, defendo há mais de 1 ano a cassação da chapa Belivaldo/Eliane Aquino, é apenas um compromisso com a verdade mesmo.

Fontes de tudo que eu falei:

[1] http://www.jornaldodiase.com.br/noticias_ler.php?id=33720

[2] https://blogdomax.net/noticias/lula-em-sergipe-ex-presidente-elogiou-coragem-de-jackson-em-ficar-ao-lado-de-dilma

[3]http://www.sergipenoticias.com/politica/2019/09/12668/jackson-barreto-visita-vigilia-lula-livre-em-curitiba-e-dial.html

[4]https://www.bing.com/covid/local/sergipe_brazil

[5]https://www.youtube.com/watch?v=kSxgvZlFjz0

[6]https://gauchazh.clicrbs.com.br/politica/noticia/2020/04/leite-rebate-bolsonaro-nao-fossem-os-governadores-teriam-mais-mortes-no-brasil-ck9nd76t300kk015nezf4c4u1.html

[7]https://oglobo.globo.com/brasil/caiado-rompe-com-bolsonaro-diz-que-presidente-nao-pode-lavar-as-maos-por-colapso-economico-24327320

[8]https://www.gazetadigital.com.br/colunas-e-opiniao/fogo-cruzado/mauro-mendes-cutuca-ona-com-vara-curta-ao-criticar-presidente-bolsonaro/612193

[9]https://veja.abril.com.br/politica/governadores-assinam-carta-de-apoio-a-maia-e-alcolumbre-contra-bolsonaro/

[10]https://www.progresso.com.br/politica/reinaldo-azambuja-assina-carta-junto-a-outros-19-governadores-em/371850/

LUCAS SAMPAIO

150 anos de Lenin e uma eternidade de mentiras

Hoje faz 150 anos do nascimento do líder da Revolução Russa, #Lenin. Agora, vejam este pequeno vídeo, com um original de 1937 e outro dos anos 60. Sabem quem “desaparece” dali? #Stalin. Pois é, já naquele tempo tinha fake news. Entendam que essa tática de “eliminar o passado”, o chamado Revisionismo Histórico, é coisa usual, sempre existiu na política e sempre vai existir, como prova o atual governo tentando ocultar o passado de #JairBolsonaro. Então, mostre isso para o GADO quando uma rês vier te falar em “nova política”…

On Lenin’s 150th birthday, check out the crudely ingenious ways the 1960s retouched version of the 1937 film “Lenin in October” removed all sign of Stalin from the action. Compare the two versions below and watch out for disappearing Iosif…

@shaunwalker7

150 anos de Lenin, uma eternidade de mentiras https://youtu.be/wemnLKiR1g8 via @YouTube

Coronavírus e Hipocrisia: a lentidão dos diagnósticos clínicos e o “esquecimento” dos estudos científicos

Um novo estudo sobre o início do surto do novo coronavírus na China aponta que a maioria absoluta das infecções não foi detectada naquele momento, o que não só fez os casos de multiplicarem, mas espalhou o vírus pelo país.

Os autores da pesquisa concluíram que, antes de 23 de janeiro, apenas 14% dos pacientes contaminados foram identificados e que os 86% não detectados foram a fonte de infecção de 79% dos casos confirmados de Sars-Cov-2, como é chamado oficialmente este vírus.

O estudo, realizado por cientistas da China, do Reino Unido e dos Estados Unidos e publicado na revista Science, aponta que os casos não documentados apresentavam sintomas leves ou eram assintomáticos e, por isso, não eram detectados pela vigilância em saúde.

Coronavírus: lentidão inicial em diagnósticos facilitou disseminação de vírus na China, diz estudo – BBC News Brasil

Mas o mago do Spotniks acha que a China, ou melhor, o Partido Comunista Chinês foi o RESPONSÁVEL PELA PANDEMIA, como se qualquer outro país com a estrutura que tem, pudesse conter algo assim.

Vejam aqui o que eu recebi:

É um estudo da Sociedade Americana de Microbiologia de 2007, ou seja, os americanos já sabiam algo sobre isto, e não era uma mera denúncia. Se cabe responsabilizar a China, por que também não os EUA? “Por que seria “imperialismo” interferir na condução da política interna de outro país”, me disseram. Pois então por que o mesmo não se dá quando interferem na política cambial de outro país, como a China, através da pressão econômica, elevando tarifas de importação? Ou quando bloqueiam não só seus cidadãos de exportarem produtos para países como Cuba ou Irã, por conta de suas políticas externa e interna e de segurança e defesa? Ou quando o próprio Trump, diretamente, intervém na política externa, de forma legal, tentando incentivar a Finlândia, através da Nokia, a desenvolver o 5G para barrar o avanço e monopólio chinês ou, de forma claramente inconstitucional, chantageando o presidente ucraniano para que investigue o filho de seu principal opositor político, Joe Biden, com o objetivo de prejudicá-lo nas eleições em 2022? Aí não contam a interferência, a intervenção e o “imperialismo”.

Sinto muito, isto não tem lógica. Se a própria Associação Americana de Microbiologia tinha conhecimento do fato e o governo americano não atentou para o enorme risco, foi de uma incompetência atroz. Vidas em risco, caso seja somente este o argumento, também são ativos econômicos e suas perdas, custarão muito aos mercados, como já está ocorrendo.

Está na hora de dar um basta aos desmandos do Partido Comunista Chinês, mas não com gritinhos no plenário, assim como já está na hora de alguém dizer à Trump “you’re fired!”

Anselmo Heidrich

19 mar. 2020

Rodrigo da Silva (Spotniks) e seu Viés de Seleção

Ciência é algo que se constrói com testes de várias hipóteses até que uma explicação razoável se estabeleça e resista. Acompanhemos este raciocínio:

Mais uma confusão entre correlação e causalidade. Neste artigo, comento a confusão de um liberal sobre a pandemia e a repressão política, que se explica por um raciocínio viciado que não sabe separar os fenômenos.

Leram direitinho? Ok, agora minha análise:

Bem… O que eu acho disso, Rodrigo da Silva fala de um assunto, mas inicia sua ‘thread’ sobre outro assunto. Ele inicia, textualmente, escrevendo que a “culpa pela pandemia do Coronavírus no munto tem nome e sobrenome. É o Partido Comunista Chinês”, mas ao longo do texto se vê que ele não fala absolutamente nada das condições sanitárias e microbiológicas (como os vídeos do Átila, do canal Nerdologia). Ou seja, ele está falando (acertadamente) de como o governo chinês escondeu informações importantes, o que é diferente de explicar as razões do surgimento da epidemia (que depois virou pandemia).

A China é um celeiro de doenças, a própria Peste Bubônica (“peste negra”) começou lá e numa época ainda distante do que seria o comunismo. Se há algo que se liga ao surgimento dessas epidemias é o tradicionalismo e não há nada que ligue, a priori, o hábito de comer animais silvestres e a falta de higienização com o comunismo. Acho que no afã de criticar o comunismo, o Rodrigo misturou alhos com bugalhos. Realmente, a falta de informação pesou e pesará, mas as doenças não são produto do comunismo.

Veja esta matéria do The Atlantic, mostrando como Trump desdenhou da pandemia para depois aceitá-la e se desdizer, mentindo que sempre soube que se tratava de algo grave (diferente do nosso asno eleito):

Notes: 2020 Time Capsule #4: Trump Is Lying, Blatantly, by @jamesfallows https://www.theatlantic.com/notes/2020/03/2020-time-capsule-4/608197/?utm_source=twitter&utm_medium=social&utm_campaign=share

Agora o meu ponto: se o raciocínio do Rodrigo Silva, de que o Partido Comunista Chinês foi o responsável pela pandemia for correto, então, o liberalismo americano também é menos eficaz que o sistema capitalista da Coreia do Sul, pois lá, com um sistema de saúde público mais estatizado que o americano, a cobertura de exames preventivos chega a 130 vezes o que se faz nos EUA, com um PIB muito maior. Ou seja, usando a mesma lógica do Rodrigo, fazendo este link sitema-doença, então é possível se dizer que o sistema público de saúde é mais eficaz que planos privados.

Reitero que a parte do que concordo com ele é sobre a falta de trasnparência do sistema, a repressão do partido comunista, mas não que ele seja um causador da pandemia.

O que o Rodrigo da Silva fez foi o que chamamos de “viés de seleção”, ele selecionou dados que lhe interessavam para justificar sua tese. Ele buscou os casos políticos de repressão, mas ignorou o histórico de saúde pública que antecede o sistema que quis criticar.

Texas, população e voto

As pessoas gostam de operar com estereótipos, caricaturas e… repetições do que já aprenderam. Com relação aos EUA, p.ex., é comum se pensar que, GROSSO MODO, as áreas predominantemente Democratas correspondem aos litorais porque há grandes centros cosmopolitas e o mainland, interiorzão, dominado pelos Republicanos, mais conservadores e nacionalistas. Só que, um dos mais emblemáticos estados republicanos é o Texas que, tem uma grande participação da população imigrante, o que está relacionado ao seu crescimento demográfico.

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Então… Ou faltam dados, ou a generalização costumeira de associar o voto imigrante ao partido Democrata não cola mais.

Anselmo Heidrich

A Reforma do Mercado de Terras na Ucrânia

Há décadas que a Ucrânia debate a regulamentação de seu mercado de terras. Grupos antagônicos divergem sobre vantagens e desvantagens da formulação de uma legislação do setor. O fato é que essa reforma é necessária ao desenvolvimento econômico de longo prazo, à sua atração de capitais fixos ao território ucraniano, mas, no curto prazo, do ponto de vista político, ela é altamente impopular.

Existe uma moratória ao mercado de terras há 18 anos e no dia 13 de novembro se ensaiou sua retirada, o que seria uma decisão histórica para o país. O Projeto de Lei adotado permitiria que se comprasse e vendesse terras no país, considerado o “ celeiro da Europa”. Sua aprovação contou com 240 votos, 227 dos quais com o partido do Presidente, o Servo do Povo. Os outros partidos, nacionalistas ou pró-russos, o Solidariedade, do ex-presidente Poroshenko, a Voz, do astro de rock Sviatoslav Vakarchuk, a Pátria, de Yuliya Tymoshenko, e a Plataforma de Oposição — For Life -, pró-russo, foram contra.

Apesar da justificativa para a entrada da moratória em 2001 ter sido a preparação para leis necessárias à introdução do mercado de terras, ela foi regularmente prorrogada. O grande temor é de que a terra ucraniana fosse tomada por estrangeiros, dentre os quais, chineses e árabes. Isto levou ao presidente Zelensky a anunciar que o projeto seria alterado antes de uma segunda leitura para que apenas “cidadãos e empresas ucranianas fundadas por cidadãos exclusivamente ucranianos” tivessem o direito de vender e comprar as terras, com a possibilidade de extensão desse direito a estrangeiros através de um referendo, exclusivamente, ucraniano.

Quem teria acesso à terra?

Com o objetivo de abrir o mercado, o Projeto de Lei apresentava restrições, como não mais que 35% das terras agrícolas poderem ser possuídas por um indivíduo dentro de uma comunidade territorial unificada*, não mais do que 8% do oblast e não mais do que 0,5% (200.000 hectares) no país. Na prática, como grande parte das terras agrícolas já é de propriedade de grandes empresas com participação de capital estrangeiro, as restrições mencionadas no projeto não se aplicarão à maioria delas.

Formalmente, de acordo com o documento aprovado, apenas podem comprar terras:

– Cidadãos ucranianos;

– Entidades legais;

– Comunidades territoriais;

– o Estado.

Mas o que diz a primeira versão do texto sobre a reforma quanto aos estrangeiros?

Eles podem adquirir a terra para fins agrícolas, mas são obrigados a aliená-las dentro de um ano a partir da data da aquisição da propriedade, o que seria um fator de desestímulo às transações. No entanto, há um parágrafo sobre “Disposições Transitórias do Código de Terras”, dedicado a estrangeiros e entidades estrangeiras que proíbe a compra de terras até 2024, mas concede exceções aos que trabalham na Ucrânia há, pelo menos, três anos. Além disso, quando a lei entrar em vigor, terão preferência na compra das terras.

Para os deputados que criticaram o projeto aprovado, os interesses dos grandes produtores agrícolas de origem estrangeira foram garantidos, aumentando o risco de monopolização do setor. Com o fim do comunismo, muitos empresários se formaram arrecadando ativos do Estado com valores abaixo do mercado externo, porém, o setor agrícola permaneceu fechado até que uma lei de terras fosse aprovada, que veio em 2001. No mesmo ano foi declarada a moratória para venda até 2005 e, até hoje, o Parlamento já prorrogou seu fim por nove vezes.

O que os ucranianos pensam sobre o projeto?

Enquanto a União Europeia apoia a abertura do mercado de terras ucraniano, a sociedade ucraniana a rejeita por até 73% da população, segundo pesquisa da Rating, podendo chegar até 80% de rejeição em outras fontes de pesquisa.

Quais seriam as raízes de tamanha rejeição?

O tema é sensível porque o conceito de terra na Ucrânia está intimamente ligado à ideia de nação, tanto que há uma palavra que tem ambos os significados, zemlia. Desde a coletivização forçada de terras pelo regime comunista** que a posse de sua propriedade individual é vista como uma questão de autonomia nacional. Mas, nesse sentido, a terra como propriedade privada é vista, prioritariamente, como terra para os ucranianos. Apesar da predileção dos nacionalistas ucranianos em se integrarem à União Europeia, para esta a abertura do mercado de terras é essencial ao desenvolvimento econômico do país.

Apoiadores da moratória

Dentre os opositores, além dos produtores rurais já estabilizados no mercado interno ucraniano, encontram-se partidos que solicitaram referendo popular sobre o Projeto de Lei, como a Pátria (Batkivshchyna), de Yuliya Tymoshenko, e o partido pró-russo, a Plataforma de Oposição — For Life. Junto a estes, o partido conservador-nacionalista Freedom (Svoboda), que não obteve nenhuma cadeira no Parlamento nas últimas eleições ao Legislativo, participaram de manifestações contrárias à liberação. Somando forças, mas por razões diversas, o partido liberal, Voice (Holos) também se opôs ao modelo de reforma. Como ponto em comum, todos acusam o risco de monopolização do mercado de terras. Segundo comunicado do Svoboda: “De fato, o sentido dessa ‘reforma agrária’ é semelhante à privatização de cupons da indústria ucraniana. Quando todos os cidadãos ucranianos que assinaram vales em papel em suas mãos supostamente se tornaram proprietários, mas, vários clãs oligárquicos se tornaram os verdadeiros proprietários da indústria. Com o ‘mercado de terras’ será semelhante: de fato, todos serão coproprietários, mas, de fato, oligarcas e empresas estrangeiras se tornarão donos de terras ucranianas”.

Para Yuliya Klymenko, parlamentar do partido Voice, de corte liberal, que, em princípio, apoia a liberação do mercado de terras, a situação é confusa, o que levou seu partido a não apoiar o Projeto de Lei: “Até eu, como parlamentar, não entendo completamente qual conceito final no mercado de terras nos será sugerido. Toda semana temos um novo modelo. Qualquer mudança no modelo leva a mudanças drásticas que refletem os resultados econômicos”.

Apoiadores da reforma

O argumento primordial contra a abertura do mercado de terras é pelo risco de monopolização do setor, mas, como ele se organiza hoje? Em 2001, 74% das terras aráveis da Ucrânia pertenciam a sete milhões de proprietários e80% dessa terra está sob controle de pequenas empresas agrícolas ou fazendas. Os 20% restantes (6,3 milhões de hectares) da área total das terras aráveis estão nas mãos das 100 maiores empresas, 12 das quais controlam um pouco mais da metade da área (3,2 milhões de hectares). Ou seja, mesmo com o objetivo de proteção aos pequenos e médios proprietários, a moratória à liberação do mercado acaba por proteger os grandes grupos já consolidados, evitando a competição.

Esta argumentação é a base dos defensores da reforma, que classificam as forças contrárias como atrasadas e as culpam por corresponderem aos interesses dos grandes proprietários de terras já existentes. Também refutam os alertas de que a reforma não beneficiaria a maioria dos ucranianos. Esse tipo de temor se ampara na visão de que estrangeiros tomariam as terras ucranianas não restando nada aos nacionais, mas, não foi o que ocorreu em todos os momentos de entrada de capital no país. Em um prazo de 20 anos, da independência do país até 2010 observou-se:

1. A privatização da Kryvorizhstal, a maior siderúrgica integrada da Ucrânia, quando entraram 4 bilhões de dólares em receitas (aproximadamente, 16,4 bilhões de reais, conforme a cotação de 23 de dezembro de 2019);

2. A abertura do setor bancário para estrangeiros em 2004, o que trouxe dezenas de bilhões de dólares para o país;

3. A liberalização de vistos para cidadãos da União Europeia em 2005.

E é isto que os defensores da reforma esperam, um dramático aumento dos investimentos, caso caia a moratória.

A posição da União Europeia

Tribunal Europeu dos Direitos Humanos ( CEDHdecidiu contra a moratória da venda de terras ucranianas e em favor dos proprietários em 2018. Segundo ele, a moratória viola os direitos dos cidadãos ucranianos como proprietários de terras. A situação é instável desde o ano passado (2018), com o risco de a Ucrânia ter de arcar com pesadas indenizações pela compensação da extensão da moratória. Imposta pela primeira vez em 2001, com prazo para terminar em 2005, ela foi prorrogada a cada ano desde então.

Tribunal Europeu de Direitos Humanos

Segundo Ivan Lishchyna, Agente Governamental no Tribunal Europeu de Direitos Humanos do Ministério da Justiça da Ucrânia, o julgamento do CEDH, segundo o qual a moratória viola os direitos das pessoas, deve ser respeitado: “Caso contrário, o CEDH, em algum momento, perderá a paciência e começará a conceder uma compensação nesses julgamentos. Em seguida, haverá bilhões de grívnias*** em compensação via Estrasburgo para todos os proprietários ucranianos de terras agrícolas que desejarem (aplicar ao Tribunal)”.

Consequências e perspectivas

Uma decorrência lógica desta situação restritiva é a instauração de um mercado paralelo na compra e aluguel de terras, isto é, que funciona ilegalmente. Segundo matéria de 2018, houve 3,2 milhões de transações em dois anos, quase 95% dessas são herdadas ou arrendadas, além, é claro, do desenvolvimento de várias modalidades de corrupção.

Há décadas que a Ucrânia debate a regulamentação de seu mercado de terras. Grupos antagônicos divergem sobre vantagens e desvantagens da formulação de uma legislação do setor. O fato é que essa reforma é necessária ao desenvolvimento econômico de longo prazo, à sua atração de capitais fixos ao território ucraniano, mas, no curto prazo, do ponto de vista político, ela é altamente impopular.
Os solos negros de chernozem na Ucrânia estão dentre os mais férteis do mundo.

Segundo a Constituição Ucraniana, em seu Artigo 14, a terra é a grande riqueza nacional. Mas, nas economias contemporâneas, ela é um meio para a produção de riquezas e, diferentemente de outros recursos minerais, como petróleo, minerais metálicos etc., finitos por natureza, a terra pode ser preservada e manejada sob o conceito da sustentabilidade. Isto, no entanto, requer investimentos em insumos e mão de obra. Com a elevação desses custos, boa parte das propriedades tem sido alugada ou vendida, ainda que ilegalmente. A organização logística das vendas, o financiamento bancário para compra de insumos e maquinário, a infraestrutura necessária para distribuir a produção nos mercados regionais e nacional no atual estado tornam mais fácil aos moradores de Kiev comprar maçãs polonesas que ucranianas. E é este mercado que tem que ser levado em consideração, para que proprietários, investidores e consumidores possam atingir um ótimo comum, que lhes permita fugir das armadilhas monopolísticas de um mercado restrito ou de uma privatização seletiva.

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Notas:

Comunidade territorial unificada, segundo a legislação “Sobre o autogoverno local na Ucrânia”, em seu “Capítulo I, Disposições Gerais, Artigo 6”, as comunidades territoriais podem unir-se em uma comunidade rural, assentamento, comunidade territorial urbana, formando “órgãos unificados de governo local”.

** *** Grívnia, moeda ucraniana que, de acordo com a cotação em 19 de dezembro de 2019, equivalia a 17 centavos de Real. A coletivização forçada de terras pelo regime comunista foi um processo de expropriação de propriedades privadas, sobretudo agrícolas, ocorrido entre 1929–1931, quando Josef Stalin estava no comando da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). A drástica concentração de propriedades passando de 21 milhões de unidades para cerca de dois milhões (1931) trouxe enormes prejuízos na produção. Para a Ucrânia, particularmente, foi muito mais do que uma má política com consequências administrativas e logísticas negativas, pois implicaria em um processo deliberado de perda da produção, aproveitado como arma política, causando a morte de, no mínimo, sete milhões de ucranianos, conhecido como Holodomor, o “Holocausto Ucraniano”, entre 1932 e 1933.

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Fontes das Imagens:

Imagem 2 Tribunal Europeu de Direitos Humanos” ( Fonte): https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Courtroom_European_Court_of_Human_Rights_01.JPG

Imagem 3 “Os solos negros de chernozem na Ucrânia estão dentre os mais férteis do mundo”( Fonte): https://www.flickr.com/photos/[email protected]/6400943409


Originally published at https://ceiri.news on December 27, 2019.

A Política Externa e suas Três Mulheres

Imagine que você é uma mulher e tenha que optar entre três situações:

  1. Ser uma idiota que só fala mal dos casais bem sucedidos no amor, mas só se junta com mala. Como dizem, tem o “dedo podre”, só escolhe o que não presta. O nome desta moça é “Política Externa do PT”;
  2. Agora vejamos outra, uma pobre menina que se apega a mitos dos mais bizarros, crê em tudo que lhes apresentam na internet, misticismo e tals e quando chega em cara só apanha na cara, a típica mulher de bandido. O nome desta coitada é “Política Externa Bolsonarista”;
  3. E por fim falemos de uma prostituta, que não tem amigos, só interesses, daquelas que prefere ter vários clientes, sócios, parceiros, como queira chamar, mas que declina, educadamente, de propostas tentadoras, anéis de noivado de ouro verdadeiro, viagens caras em resorts de luxo etc. NADA! Tudo que ela quer é teu dinheiro e faz o serviço completo e quando acaba o teu tempo, não tem nem chorinho, pega a bolsa, os sapatos de salto e sai de meia te deixando continuar roncando. Chamemos esta destruidora de lares de “Política Externa Independente”.

Sras. e Srs., não fiquem bravos, eu até acredito no amor, mas na política externa não há espaço para ele. Se a tabela acima te ofende pelo que o PT fez com o Brasil, seja coerente e esboce o mínimo de indignação com a política de baixar as cuecas para o Tio Sam também. Afinal, foram tantos favores concedidos, cota de etanol americano no mercado doméstico, aluguel da Base de Alcântara no Maranhão, alinhamento político com temas polêmicos como a disputa com o Irã, apoio à mudança da embaixada de Israel etc. e, em troca fomos esbofeteados com a elevação da tarifa de importação americana para nosso aço e alumínio e nem uma vaguinha na OCDE foi capaz de rolar. Trump apenas viu nos Bolsonaros mais alguns peões úteis para serem manipulados.

Como se sabe, se não fosse por nosso Vice-Presidente, Hamilton Mourão, nossos acordos com a China poderiam ser prejudicados, gravemente, o mesmo com a UE e a Argentina que, quer queira ou não, beneficia nossa indústria ao comprar vários de nossos itens. E não é a toa que a inveja do Presidente e seus filhos da competência do General é inversamente proporcional à capacidade de articulação política do clã dos Bolsonaro.

Se não fosse pelo Mourão e outros generais equilibrados que estão no poder, sinceramente, não sei o que seria do país…

Agora, imaginemos um Executivo que soubesse como lidar com as adversidades, fazendo como a Índia fez por tantos anos, assediada que foi tanto pelos EUA, como pela antiga URSS. Recebendo apoio dos dois e optando pelo mais conveniente conforme a conjuntura. Isto não significa que devêssemos mudar nossa estrutura política e jurídica interna, mas saber negociar e dialogar. Imagine que o peso econômico do Brasil fosse um fator a ser posto na mesa para que a Rússia tirasse, gradualmente, seu apoio à Venezuela. Para isto ser alcançado, no mínimo, a neutralidade para assuntos em que Washington e Moscou se opõem teria que ser adotada. Isto, Srs. e Sras. é tomar as rédeas da situação e tirar o melhor proveito de um conflito alheio ao mesmo tempo que protege os seus.

Se alguém ainda quiser adotar uma posição sectária dizendo preferir mil vezes mais os EUA à atual Federação Russa, eu digo que não se trata disso. Muito pelo contrário, se quisermos mesmo nos alinhar com os EUA, o ideal é que o façamos não só nos objetivos, mas no método, isto é, procedendo como eles procederam ao longo da sua história, sem nunca se submeter a um governo estrangeiro por nenhum preço.

Entre as loucas e as apaixonadas, as putas têm muito mais bom senso. Pelo menos em se tratando de política externa…

Anselmo Heidrich
19 dez. 19

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