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Anselmo Heidrich

Defendo uma sociedade livre baseada no governo limitado e estado mínimo.

Categoria

Ideologia

NÃO CULPE O CAPITALISMO: ensaios de Geografia Anti-Marxista

Para geógrafos marxistas, os grandes centros urbanos seriam prova da exploração do trabalho devido às suas desigualdades socioeconômicas.

Bem, em primeiro lugar, o que é capitalismo? A definição básica deste sistema socioeconômico ou, em linguagem marxista, modo de produção, seria de um sistema que privilegia a propriedade privada dos meios de produção e a relação de trabalho assalariada. Diferentemente de outros modos de produção onde há não trabalho livre, esta é uma característica básica e primordial do capitalismo.

Mas, eu não vejo o capitalismo como esteio básico para se entender as sociedades, vejo-o como um componente das sociedades e não, como costumeiramente se faz querer crer, a sociedade decorrendo e sendo um produto do capitalismo. Basta observarmos diversos exemplos de países capitalistas ao redor do mundo para concluir como eles se processam diferentemente de acordo com os diversos estados, instituições e culturas regionais.

Em segundo lugar, o que é marxismo? Trata-se de uma filosofia e não de uma ciência. Ciência quando posta à prova, quando suas teorias são questionadas sob novos fatos que não são explicados perde, gradativamente, sua credibilidade e poder. A filosofia também pode percorrer este caminho, mas não obrigatoriamente, nem perde sua validade se não corresponder à fatos ou for confrontada por uma filosofia com maior apelo à realidade concreta dos fatos. Por outro lado, quando um conjunto de ideias é defendido por seus seguidores e por esta razão persiste ao longo do tempo, mesmo sob o contraste de novos fatos ou interpretações distintas sobre fatos antigos é porque não se trata de ciência, mas de seita, porque não se trata da verdade, mas de fé.

O marxismo, como a maioria das ideias surgidas no século XIX, tinha um forte pendor pelo “etapismo” e evolução histórica, não sendo nenhum segredo que Karl Marx admirava o trabalho de Charles Darwin querendo, inclusive, adaptar a ciência biológica em uma “versão humanista”. A sucessão dos modos de produção observados na Europa Ocidental e generalizados para o resto do globo, além de tentar prever desencadeamentos futuros não só se mostrou equivocada pela inexistência de eventos futuros esperados como deixava ausente a análise detida de fenômenos propriamente políticos em sua época e sociedade. Marx os resumia como decorrência das “contradições do capital”, da evolução das forças produtivas (tecnologia, em linguagem não marxista) e relações de produção (relações de propriedade, em linguagem não marxista). Mais que uma “mania”, esta obsessão era fruto lógico de seu método de análise com destino predeterminado de seus acontecimentos, uma teleologia objetiva da história.

E a geografia? Etimologicamente, geografia significa “descrição da Terra”, mas na verdade, a geografia tem desviado muito mais para a interpretação do que para a descrição. Isto é um processo natural, na medida que não somos só observadores, mas também avaliadores e julgadores a todo o momento, sobretudo de temas que envolvem política e cultura.

Quando se descreve a paisagem, não vemos apenas natureza, embora esta seja predominante no globo, mas também a paisagem cultural, as construções ou, como Marx chamava, a “Segunda Natureza”. O problema é que este equilíbrio entre as duas formas de construção da paisagem, a natural e a humana, que permitia à Geografia ser um conhecimento de intersecção, justamente de integração ou interdisciplinaridade já nos idos do século XIX, quando foi elevada à cátedra na Alemanha, sofre uma disputa entre correntes ideológicas desde os anos 60 nos Estados Unidos.

Contrários a uma postura “neutra” de geógrafos que trabalhavam para o governo, professores universitários americanos se opuseram às manifestações urbanas, como segregação urbana e, no plano internacional, à desigualdade dos termos de troca, como se esta fosse herança do antigo pacto colonial. Mas, ao invés de procurarem soluções dentro de rearranjos de mercado e planejamento setorial ou estratégico, viram nas teorias marxistas de mais-valia e no discurso leninista do “imperialismo como última fase do capitalismo” sua explicação definitiva.

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As ideias americanas atravessam e se expandem mundo afora, o que não seria diferente no Brasil. Não importamos apenas as boas ideias Made in USA, mas também suas bizarrices, muitas delas com o selo de seus campi. É sobre esta ligação entre marxismo e geografia que irei tratar. E sim, tenho intenção de ser polêmico porque o tema o é e, até onde sei, nunca foi tratado de modo tão explícito quanto pretendo fazer aqui. No entanto, já aviso aos preguiçosos, não farei isto procurando caminhos fáceis de acusar as ligações de autores alvos de crítica somente com partidos ou políticos, mas sim pela sustentação de suas teorias, estas sim os ovos da serpente.

Anselmo Heidrich

13 mar. 23

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Image: By No machine-readable author provided. Bernd Untiedt~commonswiki assumed (based on copyright claims). – No machine-readable source provided. Own work assumed (based on copyright claims)., CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=56514

O Nosso Alvo

Quando digo que sou professor de geografia, muitos deduzem que eu pertença ou faça coro com determinada corrente política, notadamente marxista. Isso é um grande equívoco, assim como seria dizer que há uma “geografia liberal” por oposição. Não, em absoluto. Geografia é geografia, se me permitem a tautologia. Há um saber específico em coordenar os fenômenos que se inter-relacionam na superfície terrestre em uma síntese e a geografia é, simplesmente, isto. Não tem que se ter uma carteirinha de sindicato de esquerda ou milícia de direita para fazer geografia. Em primeiro lugar, a pesquisa, as hipóteses que resultarão em teorias e, a partir daí, só então, é que cada indivíduo, de posse de um conhecimento fundado na objetividade, vai utilizá-lo da forma como achar melhor adequando-o a sua visão de sociedade e projeto político. Essa separação entre “o que eu vejo a partir de um método de estudo” e “o que eu desejo a partir de premissas filosóficas por mim endossadas” é de suma importância.

A síntese que gosto de caracterizar como sendo típica da geografia é um complemento às diversas especialidades prévias, das quais depende esta tradição de conhecimento. Pré-requisitos, como a distribuição das formas de vida na superfície de acordo com o zoneamento climático, a biogeografia; a distribuição de províncias geológicas e as várias formas de relevo resultantes da interação entre fatores climáticos e a estrutura da crosta; as diversas bacias hidrográficas que conectam grandes áreas sendo afetadas pela expansão das manchas urbanas e suas regiões funcionais, com uma hierarquia de cidades operando como um sistema circulatório que, drena recursos em uma via e irriga capitais em outra.

Também é possível fragmentar o objeto de estudo e focalizar em setores, como o agrário, o industrial, o urbano etc., mas não se pode perder a perspectiva geral sob o risco de não entender causas de certos fenômenos. Até aí, nada de mais, pois se eu for me debruçar, p.ex., sobre certos efeitos climáticos em escala urbana vou ter que, necessariamente, entender o fenômeno das “ilhas de calor”. Ocorre que neste exato ponto da narrativa surge o discurso político-ideológico que tornou a geografia mais um campo de estudos totalmente poluído e sem objetividade científica. No exemplo que acabei de dar, a crítica sobre a atividade industrial adquire um tom moral, ao invés de técnico, enfatizando a indústria como exploradora e, essencialmente, predatória, sem propor avanços tecnológicos ou dar o devido destaque às melhorias com igual peso.

Uma dessas subáreas muito conhecida de nome, a geopolítica surge aqui e ali, na mídia, na internet, nos materiais didáticos, como uma descrição exaustiva do “conflito norte-sul”, entre países ricos e pobres (o que não passa de uma grotesca generalização), em oposição à outra bipolaridade, a leste-oeste, vigente durante a Guerra Fria, entre países capitalistas e comunistas de 1945 a 1990. Por ironia da história, hoje, com o surgimento de uma nova direita, o discurso aparentemente mudou, mas sua estrutura de raciocínio permanece exatamente a mesma: substituíram-se os velhos capitalistas-imperialistas, no linguajar leninista, pelo dito cujo “globalismo” que grassa nos discursos de ideólogos como Olavo de Carvalho e seu seguidor, o chanceler brasileiro, Ernesto Araújo. Na perspectiva de ambos, o globalismo é um sistema em expansão que trabalha em várias frentes para desintegrar a autonomia dos estados-nação do mundo.

Seja em uma perspectiva de esquerda, Capital vs. Trabalho, ou seja, em uma perspectiva de direita, Organismos Supranacionais vs. Estados-Nação, o método simplista de entender a realidade funciona como um resumo esquemático em detrimento dos interesses locais e regionais, suas particularidades históricas e culturais que têm muito mais peso para as sociedades que qualquer efeito de grupos de interesse internacional com seus poderes superestimados.

Pois então… Nessa nossa trajetória de todas as terças-feiras[*], as Terças Realmente Livres, em oposição ao produtor de Fake News chamado, inapropriadamente, de “Terça Livre”, iremos confrontar estas visões maniqueístas do mundo com exemplos concretos, fatos e dados. As teorias que funcionam como narrativas de uma falsa consciência e sedimentam ilusões ideológicas desses grupos que ora compactuam com governos populistas serão nosso principal alvo.

#TeoriaDaConspiração
#Globalismo
#Geopolítica

[*] Texto publicado, originalmente, na página “Biologia Política”, dia 19 de maio, uma terça-feira.

Imagem (fonte): https://pxhere.com/en/photo/740029

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Anselmo Heidrich

Fas est et ab hoste doceri
– Ovídio

Mídia Com Dois Rostos

Artigo escrito em janeiro de 2008, após minha ruptura com o Mìdia Sem Máscara, jornal de Olavo de Carvalho. Leia para entender minhas razões originais para sair daquele grupo, que viria a se tornar um antro de malucos.

Como já faz tempo e o próprio Mídia Sem Máscara foi reformulado, os hiperlinks de muitas matérias não funcionam mais, mas ficam como registro de que havia referência. Outros podem estar ativos, vale a pena conferir.

Anselmo Heidrich

20 fev. 20


Ao longo de 2003 a 2006 escrevi no Mídia Sem Máscara. Aqui estão algumas razões para minha saída. Infelizmente, o pretenso media watch deixou seus propósitos iniciais para adotar mais uma máscara, a do fundamentalismo religioso. Nada condenável se fosse assim explicitado.

Os textos iniciais de Olavo de Carvalho eram, realmente, bons. Mas, pouco a pouco ele foi abandonando aquela classe e estilo culto que, hoje, não vejo mais. Passou a adotar, cada vez mais, um “estilo baixo”. Tão ao gosto de um bando de fanáticos que o idolatram. Tudo bem, ser duro, cru, mas não é só isto, o conteúdo foi, pouco a pouco, sendo colocado de lado.

Gradualmente, a Religião parecia se sobrepor à Razão e, daí para frente, tudo que se referia ao Iluminismo, principalmente na cultura francesa, se tornou alvo de uma crítica injusta e anacrônica. Em seguida, começou, sofisticamente, a nivelar por igual ateísmo e totalitarismo comunista, o que é uma grande falácia, em que pese o fato do próprio Carvalho já ter afirmado ser o marxismo uma nova religião. O guru se contradiz. Confira aqui uma crítica à isto.

Carvalho não percebe (ou não lhe é conveniente perceber) vários matizes anti-socialistas. Prefere optar por criar uma dicotomia entre um Bem (supremo) e o Mal (mitificado, como além humano). Da crítica ao ateísmo, Carvalho passa, sumariamente, a condenar toda a Teoria da Evolução, sem entender patavina do que Darwin fez ou escreveu. Chegou, insanamente, a procurar criticá-lo em suas influências religiosas! Isto é o mesmo que procurar “desvendar” os meandros de uma filosofia a partir de um divã. Em muitos, seria algo perdoável por ignorância, mas no caso dele, dada a quantidade de informação que porta, ou é (1) mau-caratismo; (2) o que é pior, fanatismo.

Da mesma forma que ele, o defensor do fundamentalismo cristão em nossos tristes trópicos advoga ser necessário conhecer a cultura clássica, a filosofia medieval etc. e acusa nossos professores de não serem suficientemente afeitos a tal empreitada, no que concordo em gênero, número e grau, ele não se dá ao mínimo trabalho (já que a priori quer criticar Darwin) em discutir (por que não leu, provavelmente) uma obra como A Origem das Espécies. Nem conhece o lamarckismo, nem conhece a crítica renovadora de um Stephen Jay-Gould. Este está para a Teoria da Evolução, como Hayek está para o Liberalismo Clássico, um crítico construtivo. Leia o fabuloso, A Galinha e seus Dentes (há uma versão compacta nas livrarias, também). O capítulo, “O Anel de Guano” sobre aves nas Galápagos é algo que nenhuma Teologia dá conta de contemplar.[1]

Note que quando se refere ao terrorismo árabe, opta por “totalitarismo” ao invés de “fundamentalismo” e, como me disseram seus redatores pessoalmente, “eles [os terroristas] não são fundamentalistas!” Como se algo bom existisse na possibilidade de fundamentar a sociedade em uma religião.

Marxistas são piores do que Marx, freudianos são piores do que Freud, mas Olavo de Carvalho consegue ser exceção a regra, os “olavetes” não são tão ruins quanto o próprio guru. Mas, há os que se esmeram em se equivaler ao mestre… Veja a defesa da Inquisição por parte de um deles, Comparações equivocadas que pretendeu criticar o lúcido artigo de Janer Cristaldo. Como se não bastasse, veja a deturpação absurda que faz outro “olavete” do excelente Cruzada de Ridley Scott em Filme triste. Nesta crônica, José Nivaldo Cordeiro acusa a película de ser anticristã apenas porque acusa erros históricos dos dois lados da contenda na disputa pela “terra santa”. Há vários artigos em que o conservadorismo chulo desdenha implicitamente, sem o saber ou explicitamente, quando baseado na fé dos princípios da Liberdade.

Outro exemplo: veja o que escreveu o excelente Diogo Costa em Libertarianismo de palha e a destemperada réplica recebida aqui e aqui de um “perfeito idiota religioso” que se diz “muçulmano sufi”… aquele muçulmano do tipo mais “espiritual”. Não sem receber outra tréplica (com classe que não merecia) em O Conservadorismo mal retratado. Não são fofocas apenas, se trata de um curso de fanatismo do site que cada vez mais se afirma.

Um de seus gurus é um paranóico chamado Jeffrey Nyquist, quem escreveu uma ode anti-democrática em Democracia vs. Propriedade, a qual revidei em Democracia E Liberdade. A contraposição que pretendem fazer à democracia, não parte de uma leitura liberal, mas de clichês anti-socialistas. Se quisermos entender este regime político (e propor) um modus operandi mais racional, não dá para simplesmente vomitar por aí que “democracia é coisa de socialista”, como fazem os olavetes.

Isto tudo não é gratuito. Carvalho deixou embriões… do perspicaz O Imbecil Coletivo passou para o confuso e sofismático O Jardim das Aflições que deveria se chamar, mais apropriadamente, de “O Jardim das Alucinações” em que faz defesa (minimizando a culpa) da Igreja Católica Apostólica Romana em suas atrocidades.

Para mim, o Mídia Sem Máscara hoje é um site que detém elementos claramente totalitários. E isto parte da chamada “filosofia de Olavo de Carvalho”.[2] Mas, seu maior erro é se julgar “sem máscara” enquanto que, na verdade, apresenta dois rostos: um anticomunista e outro tão totalitário quanto o comunismo, o do fundamentalismo religioso em campanha contra o estado laico e a pluralidade de opiniões intrínseca à democracia.


[1] Tive três artigos censurados em que defendia o evolucionismo frente à perspectiva criacionista que se afirmava cada vez mais. Clique aqui para conferi-los: Garrinhas de ForaNeodogma Ambiental e Controle SocialCriacionismo de Caso; e este para uma perspectiva de um problema social, no qual nossos liberais não se posicionam nem tampouco sugerem algo, Tropeçando no Problema. Os redatores do Mídia Sem Máscara teriam todo o direito de bloquear artigos que não lhe conviessem, caso ficasse explícito sua linha editorial. No espaço conferido a isto no site, “Quem somos” (acessado em 23 de janeiro de 2008) não há nada de específico contra artigos anti-religiosos. Este detalhe faz do site ser tão “mascarado” quanto àqueles que se faz algoz.

[2] Filosofia vírgula! Olavo de Carvalho não apresenta um sistema filosófico para assim caracterizá-lo. O que temos aí é muito mais uma série de excertos de pensamentos que visam, sobretudo, justificar uma visão gnóstica do mundo ao fundir vários princípios religiosos como uma verdadeira pout-pourri de diversos fundamentalismos religiosos. Ainda estende os mesmos para a análise política e geopolítica não deixando, claro, de portar as recorrentes teorias conspiratórias. O que, digamos, é mais apropriado para debates de boteco ao sabor etílico do que uma monástica pesquisa. Conferir meu Conspiração, Eu Quero Uma Pra Viver, no qual critico, dentre outras, sua obsessão pelo Foro de São Paulo. Esta quimera que o “filósofo” e péssimo jornalista acusa como uma bem articulada organização internacional latino-americana.


Imagem “Two-headed pig” (fonte): https://www.flickr.com/photos/bensutherland/2549106441

Alvim e os Esquivos

Todos devem estar bem a par do que nosso ex-Secretário Especial da Cultura, Roberto Alvim, disse ontem em discurso sobre a promoção da arte e da cultura brasileiras. O vídeo, para quem ainda não teve acesso, está aqui, em várias opções de edição ou análise:

https://www.youtube.com/results?search_query=pronunciamento+roberto+alvim

E, como não poderia deixar de ser, os defensores do governo, “passadores de pano”, como são carinhosa e eufemísticamente chamados não poderiam tecer suas mais imaginativas teorias para justificar o injustificável:

A hipótese é que o secretário foi sabotado. Ok, digamos que, como que por encanto, a incompetência característica deste governo desaparecesse, alguém teria sabotado, mas não impediu Roberto Alvim de ter assinado embaixo desse discurso. E o que diz o discurso? O que ele defende? Ele, simplesmente, defende o controle da cultura pelo estado. E quem faz isto no mundo? Que tipo de país ou regime de governo atua desta forma? Vocês acham que países utilizados como referência por esta claque que se diz conservadora hoje no Brasil, Estados Unidos ou Reino Unido, p.ex., têm cargos como “secretários de cultura” propondo edições da cultura nacional enaltecendo apenas o heroísmo na clara iniciativa de criar mitos nacionais? Não, isto é típico de ditaduras, mas não qualquer ditadura e sim aquelas com pretensões a formar sistemas totalitários, isto é, aquele tipo de sistema que estrutura o autoritarismo não só em pessoas ou grupos, como partidos, mas nas próprias regras de convivência da sociedade.

Décadas atrás, conheci um professor de geografia, colega meu que viajara para Cuba. Voltando de lá me relatou, estupefato, como estudavam os professores… No caso, um de história que conhecera, cujo método consistia em ler exaustivamente um único livro, o oficial, que retratava a história oficial pelas lentes do Partido Comunista Cubano. Cada semestre era dedicado à leitura e memorização de um capítulo. Ao fim e ao cabo do curso de história, os graduados tinham conhecimento metódico e repetitivo do livro oficial que iriam, por sua vez, passar às futuras gerações de jovens cubanos nas salas de aula do ensino básico. O nome disso é doutrinação e são casos como esse que servem de exemplo quando o estado toma o controle da edição de fatos históricos para fomentar e produzir a cultura.

Quando os defensores do governo Bolsonaro, sua “ala ideológica”, todos olavistas, não criticam o conteúdo do discurso, mas somente o ex-secretário ter plagiado ou assinado embaixo de quem plagiou Goebbels se nota, pelo que não é dito, que o conteúdo não é o problema nem nunca será porque eles pensam exatamente assim.

Advogar o controle estatal da cultura não significa ser, necessariamente, nazista, mas sua hegemonia e monopólio fazem parte de um conjunto de características do totalitarismo, cujo modo de organizar a sociedade compreende regimes como o nazista, o comunista etc. Não encarar isto de frente é se esquivar e mostrar que se tratam de covardes mostrando falsa indignação. Não, se pudessem, se o ex-secretário não fosse denunciado e acusado, estariam hoje virando pro outro lado da cama emitindo seus gases pútridos, mas não mortais como os que ceifaram as vidas de dezenas de milhões em câmaras de gás. Câmaras estas ignoradas por gente que pensava como eles: “que há demais, foi só um discursinho?”

Anselmo Heidrich

18 jan. 20


Quem quiser me ajudar a divulgar meu trabalho e combater esta chaga ideológica que nos assola, além deste artigo, há o vídeo:

https://youtu.be/aQulzrx6FEk

Imagem O Secretário Roberto Alvim se reúne com Irene Ferraz (fonte): https://www.flickr.com/photos/ministeriodacultura/49395100193

The general, the plane and the imbeciles

I’ll show you how to play: ‘Yesterday’, assholes protested the annihilation of an Iranian general, terrorist promoter and bloodthirsty oppressor of his own people, but when the Iranian army takes down a commercial plane killing 176 innocents, all what you hear is the absolute silence.

The other day, too, the UN declared that Cuba’s ‘More Doctors’ program, which burdened Brazil’s public coffers with more than $ 1.7 billion, really was a kind of slave labor, which we already knew. But imbeciles who claim the UN is part of a world domination scheme, called ‘globalism’ to impose socialism on the people, said nothing, only criticized the PT governments in Brazil and the Cuban involved. It matters no consideration about being mistaken about the UN, as this would testify against one of the main premises of his theory of domination.

It’s simple, just SELECT the data that interests you and build your NARRATIVE to COMPLETE what you already want. That simple! And everything goes by as if there is nothing else, as if reality doesn’t matter at all.

Anselmo Heidrich
January 11, 2020


Image “imbécile favoris pitre chapeau” (source): https://svgsilh.com/fr/image/1295112.html

O general, o avião e os imbecis

Eu vou mostrar pra vocês como é que se joga: ‘ontem’, imbecis se comoveram com a aniquilação de um general iraniano, promovedor de grupos terroristas e opressor sanguinário de seu próprio povo, mas quando o exército iraniano abate um avião comercial ceifando a vida de 176 inocentes, tudo o que se ouve é o mais absoluto silêncio.

Outro dia também, a ONU declarou que o programa ‘Mais Médicos’ de Cuba, que onerou os cofres públicos brasileiros em mais de sete bilhões de reais era mesmo um tipo de trabalho escravo, o que já sabíamos. Mas imbecis que alegam a ONU estar mancomunada em um esquema de dominação mundial, chamado de ‘globalismo’ para impor o socialismo aos povos não disseram nada, apenas criticaram os governos petistas e o cubano envolvidos no esquema.

É simples, apenas SELECIONE os dados que te interessam e monte sua NARRATIVA para CONCLUIR o que já queres. Simples assim! E tudo passa como se não houvesse mais nada, como se a realidade não importasse absolutamente nada.

Anselmo Heidrich

11 jan. 20


Imagem imbécile favoris pitre chapeau (fonte): https://svgsilh.com/fr/image/1295112.html

O Comunismo está na cabeça dos doidos e ministros

O futuro é um mundo desencantado, imperfeito, colorido, multinacional e com muito capital, cada vez melhor, mas com muita gente reclamando. Teremos mais psicanalistas e terapeutas porque sobrará dinheiro. A felicidade estará sempre ali, ao alcance de um pílula, uma boa comédia ou intestino funcionando regularmente, não importa. Sempre teremos doidos nos manicômios ou ministérios porque eleitores demandam pela novidade bizarra que traga sensação de mudança. Nosso bravo novo mundo é mais teatral e a fofoca das redes sociais é como aquela velha que não teme a modernidade. Tudo fica igual com roupagem nova.


A matéria da FSP[*] comenta um artigo do Ministro das Rel. Ext., Ernesto Araújo, sobre uma nova ameaça comunista na Am. Latina, nova no sentido temporal e, especialmente, no seu tipo, pois diferiria daquela clássica, da luta armada, calcada no método da “luta de classes”.

Esta nova ameaça seria pela via ideológica, cultural, “gramscista” como gostam de dizer, imporia o comunismo através do “politicamente correto”, da ideologia de gênero, do ambientalismo e do anti-nacionalismo. Segundo o próprio, a reação contra isso, que chama de “globalismo” já estaria ocorrento em governos como o do Reino Unido, Hungria, Polônia, EUA, alguns países africanos etc. Mais detalhes, na matéria linkada abaixo, agora vamos ao que importa:

  1. É bobagem chamar uma coisa, o comunismo, por algo que ele não é. O que ele descreve pode ser chamado de um “governo progressista”, estatismo avançado etc., mas se tem a propriedade privada dos meios de produção garantida NÃO É comunismo. Chame do que quiser, chame de “sistema demoníaco” se tu for da escola da Damares, não importa, mas comunismo tem um conceito, historicamente dado, e não vai ser essa relativização olavética pra se encaixar numa teoria paranoica que vai mudar o que é por outra coisa.
  2. Os governos que estão reagindo a este estado de coisas que o Ministro atenta são de direita e não são uma palavra final, nem o “fim da história”, dos quais não pode haver uma guinada novamente para partidos de esquerda ou centro-esquerda. São mudanças conjunturais, apenas isso. Trump pode perder, Boris Johnson pode perder futuramente, embora tenha se saído bem recentemente, nada é permanente, nada veio para ficar e a oposição não representa o fim de tudo isso, pois não são partidos revolucionários. Mesmo os partidos de esquerda latino-americanos na sua maioria não são mais revolucionários, são máquinas de hipertrofia dos gastos públicos e corrupção, mas não de revolução armada e instauração do partido único. Seu paradigma, melhor exemplificado, não está no Partido Comunista Soviético ou Chinês, mas no Partido Revolucionário Institucional, o PRI mexicano, que ficou 70 anos no poder e é um exemplo de como uma estrutura corrupta apodrece o estado e se mantém no poder. Este é o exemplo deles e não tem nada a ver com o comunismo, exceto por algumas características retóricas. Veja que o melhor exemplo recente de comunismo latino-americano foi o chavismo e não tem uma estabilidade como os outros partidos tradicionais de esquerda.
  3. Falar em anti-nacionalismo pressupõe que você saiba o que é uma nação e como esta se constitui. Por mais que seja um anti-pluralista, adepto de uma uniformidade cultural, quando mais capitalista é uma sociedade, mais aberta e misturada é por uma simples razão: ela atrai imigrantes e gera informação que é quase sinônimo de criatividade e dissensos. Tome os EUA como exemplo, onde você acha que vai encontrar uma sociedade mais capitalista, em Nova York ou no Nebraska? Claro NYC e seu estado, assim como a Costa Leste e a Costa Oeste, bem como extensas áreas do Sunbelt (o sul moderno e rico) têm o famosos WASP (White, Anglo-Saxan, Puritan) como espécie tão difícil de encontrar quanto o Tapir Malaio. O mundo contemporâneo é cada vez mais uma mixórdia e não adianta chorar, queira ou não, nós vamos nos misturar e ficar cada vez mais impuros. E quer saber? Acho que isto pode aliviar certas tensões políticas anacrônicas baseadas no racialismo.
  4. Movimentos culturalistas, identitários podem ser anti-capitalistas na retórica, contra a “exploração”, o “racismo institucionalizado”, o “patriarcado” e outras bobagens, mas na prática, eles são absorvidos pelo capitalismo. Não são um exemplo do que um liberal de boa cepa chamaria de capitalista, mas eles têm elementos que são tomaddos como meras mercadorais. Veja, p.ex, a revista Raça e vários produtos para negros e pardos, são meras mercadorias, vários produtos para um imenso público consumidor gay, que geralmente tem mais dinheiro para gastar que casais de héteros com filhos, veja a infinidade de produtos “ecologicamente corretos” que às vezes não passam de embuste… Não importa, vende, tá dentro! Dizer que tudo isto vai contra o capitalismo, uma vez que são estragégias comunistas, é coisa de burro.

Pode se dizer que tudo isso “não é o verdadeiro capitalismo”, mas daí eu te pergunto, onde e quando houve este verdadeiro capitalismo 100% liberal? Aprendam, que não existe pureza, todos somos impuros e os sistemas que relfetem nossas sociedades também são. Temos que aprender a entender os fenômenos sociais em graus e não apenas em tipos puros conceituais. Ou é isto ou não entendemos a realidade cientificamente, mas apenas como religiosos fantasiosos procurando fantasmas e unicórnios onde só existem mortais com suas imperfeições. Chamar atenção para as imperfeições dos sistemas não é assumir que não há o que fazer ou jogar a toalha, mas ser cético e consciente de que tudo pode mudar, mas gradualmente, com arestas que precisam ser limadas.

Com o tempo, as feministas radicais vão casar e ficar felizes da vida quando ganharem suas máquinas de lavar roupa e louça, bem como um jantar romântico, os gays ficarão felizes da vida com a adoção de filhos que os farão se sentir aceitos, pastores e quem sabe padres assumirão que são gays e viverão felizes para toda a eternidade, assim pensam… Ambientalistas forçarão a barra e teremos um catavento em cada telhado e composteira coletiva nos condomínios com crianças tendo aula de reciclagem na grade curricular; mais atores negros e pardos com bandidos nazistas apanhando feito joão-bobo, bonecos de super-heróis negros e barbies indígenas sendo vendidas a 500 reais nos shoppings. Todo mundo se sentirá valorizado e psicanalistas ganharão rios de dinheiro fazendo essas pessoas se auto-enganarem pondo seus terapeutas em quadros de família com avós, primos, irmãos e cachorros. E claro! Os cunhados, os malditos cunhados![**]

Enfim, todo mundo vai ficar feliz, vai ter trans pra todo lado, até na Igreja e a propriedade privada será preservada, mas o Ministro, a esta altura estará fazendo parte de alguma confraria teorizando sobre alguma área secreta controlado pelos maçons… No Acre, é óbvio!

Anselmo Heidrich​
20 dez. 19


[*]Ernesto alerta para suposta ameaça comunista na América Latina em artigo https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2019/12/ernesto-alerta-para-ameaca-comunista-na-america-latina-em-artigo-para-blog-bolsonarista.shtml?utm_source=twitter&utm_medium=social&utm_campaign=comptw

[**]Desculpem, vcs sabem quem, mas eu perco o amigo e não perco a piada.


Imagem “Thomas Karlsson´s Freud´s Divan, Sculpture Garden outside Konsthallen Hishult (Hishult Art Gallery), Sweden” (fonte): https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Tomas_Karlsson_Freuds_Divan.JPG

O que o esquerdismo do PSOL e a direita bolsonarista têm em comum?

O que a direita bolsonarista e a esquerda psolista têm em comum?

O RESPEITO PELo regime norte-coreano

Duvida?

Então brigue com os FATOS:

Deputado do Psol homenageia Kim Jong-un na Assembleia do RJ @congemfoco https://congressoemfoco.uol.com.br/mundo-cat/deputado-do-psol-homenageia-kim-jong-un-na-assembleia-do-rj/

Não se pode comparar ditadura da Coreia do Norte e da Venezuela, diz ministro das Relações Exteriores brasileiro | Mundo | G1 https://g1.globo.com/mundo/noticia/2019/02/25/nao-se-pode-comparar-ditadura-da-coreia-do-norte-e-da-venezuela-diz-ministro-das-relacoes-exteriores-brasileiro.ghtml

ÓBVIO que tem que se dialogar, mesmo com o pior dos regimes, pois isto significa uma CHANCE às suas VÍTIMAS de sobreviverem, MAS fingir que um regime como o de Pyongyang “não é tão ruim” quanto o de Caracas, apenas porque este representa uma desculpa para todos os problemas latino-americanos é uma simples HIPOCRISIA.

O deputado psolista pode ter sido sincero demais em sua loucura, o ministro das relações exteriores pode ser hipócrita demais, mas ambos PASSARAM PANO PARA A DITADURA COMUNISTA.

Imagem “Kim Jong-un II” : https://www.flickr.com/photos/24132168@N05/44530690890

O Brasil da Pós-Verdade #1

Anselmo Heidrich
10 dez. 19

Começou o jornal do Olavo, Brasil Sem Medo, e aqui temos uma matéria defendendo o Felipe G. Martins (https://pages.brasilsemmedo.com/o-chefe-do-odio/). Então vamos lá aos contrapontos…

Martins, apesar da pouca idade, se consagrou entre os anos de 2015 e 2018 fazendo as mais acertadas análises sobre as corridas eleitorais nos EUA e Brasil. Enquanto o mainstream das projeções de cenários, os institutos de pesquisa e a mídia inteira considerava Trump e Bolsonaro meros azarões – quando não nulidades inelegíveis – o jovem Filipe, partindo de outros pressupostos e olhando a realidade sem lupas ideológicas, cravava, com certeza vática, suas vitórias. Dito e feito.

Estas “análises acertadas” foram assim consideradas pelo próprio grupo de simpatizantes, o que fica fácil, para não previsível de se ter. Quanto à Trump ter vencido as eleições (2016) já era algo alardeado por toda mídia conservadora americana e simpatizantes continentais e mundiais, não há nada de novidade nisso. E o fenômeno no Brasil já era bastante previsível ao justificado e crescente sentimento anti-petista.

Note que no excerto acima, há um subtexto interessante: “enquanto o mainstream das projeções de cenários”, como se todos endinheirados e poderosos não quisessem Trump ou Bolsonaro no poder. Aqui no Brasil, o setor bancário foi o mais beneficiado nos anos Lula-Dilma, mas boa parte do empresariado amargou perdas chegando a ter uma fuga de capitais para outros países, dentre os quais, o Paraguai foi o mais beneficiado. Portanto, insinuar que houvesse uma divisão (até classista) entre quem pensa favoravelmente aos outsiders políticos de Trump e Bolsonaro como “ligado aos interesses do povo” e quem não, ao mainstream, é uma manipulação. Diferentemente, do que diz o jornal Brasil Sem Medo não descola a verdade da ideologia, muito pelo contrário, apenas de modo manipulador te induz a pensar que eles estão te esclarecendo. Não, não estão.

E essa capacidade de previdência chamou a atenção da família Bolsonaro. Hoje, corrido o primeiro ano de governo, Filipe, depois de rodar o mundo e travar negociações nas mesas mais importantes ao lado de Bolsonaro, parece bastante à vontade no cargo. Há até quem diga que ele é o mentor secreto por detrás do presidente, seu conselheiro-mor – especulação que, na entrevista, Filipe negou taxativamente.”

Em governos anteriores, intelectuais se tornaram presidentes (FHC), outros intelectuais ruins (Chauí) se integraram aos governos, mas o atual governo de Bolsonaro era carente desse tipo de quadro. De onde veio a suprir esse déficit? Como quem fala é chefe, se buscou alguém com muita influência na internet através de teóricos conspiracionistas e alarmistas, daí a eminência parda de Olavo de Carvalho. Mas como faltava alguém de carne e osso e como tal não se encontrava na academia, aliás, quase ninguém, se foi em busca de alunos do filósofo. Teóricos de conspirações e teses mal acabadas sobre uma arquitetura de dominação global ascenderam como porta-vozes desse movimento. Aí que entra o jovem, como se juventude fosse virtude para esse caso. Enquanto na verdade é nada, apenas algo indiferente, na retórica serve como uma espécie de deslumbre perante o novo e o revolucionário na forma de um espírito juvenil.

Até o momento, o artigo tem uma introdução que serve como cortina de fumaça para esconder o principal tema: o “gabinete do ódio”, que seria gerido por Filipe para atacar adversários políticos com recursos públicos, ou seja, o teu e o meu dinheiro.

Vejam que, em um primeiro momento, se desdenha o peso e relevância do tal ‘gabinete’:

“Gabinete. Por falar em gabinete, e esse foi um dos temas da conversa, Filipe é apontado pela velha e a nova esquerda, unidos em torno da malfadada CPMI das Fake News, como o chefe do Gabinete do Ódio, o seu real cargo, sendo aquele carimbado no Diário Oficial mera cortina de fumaça. Gabinete do Ódio.”

“Por falar em gabinete…” Eh eh, péssima estratégia para fazer pouco caso, sobretudo, para depois assumir que existem ‘intermediários’, ora intermediários entre quem e quem?

“Segundo Martins, esta designação é nada mais que uma pecha infamante cujo fim é calar os novos intermediários na opinião pública que ganharam relevância após as manifestações de junho de 2013.”

E continua a deturpação das narrativas. Segundo Filipe, 2013 serviu como ruptura a “esse estado de coisas”, mas esquece de dizer que a manifestação original era contra um aumento de passagem de ônibus, pautada pela própria esquerda. Mas, como toda manifestação que toma vulto, não há uma só voz, uma só direção, mas sim uma pluralidade de manifestações que se somam. Isso, por si só, já desconstrói a tônica do discurso de Filipe que vê um processo uniforme com início, meio e fim em torno da candidatura e vitória (apertada) de Jair Messias Bolsonaro, mesmo porque um dos principais protagonistas dos movimentos que se seguiram, o Movimento Brasil Livre (MBL) é, atualmente, um dos grandes desafetos do atual governo e, em particular, desde antes, do olavismo.

Veja aqui como deturpam o processo inteiro:

“Dessa maneira, conforme avalia o assessor – ou chefe do Gabinete do Ódio, vai ao gosto de quem lê – os eventos de 2013 serviram como uma ruptura a esse estado de coisas, e, desde lá, esse povo esnobado elegeu, sem o auxílio dos universitários, os seus novos interlocutores – concentrados nas redes sociais. A síntese desse processo foi a vitória de Bolsonaro.”

E claro que o problema não é, nem nunca foi “a torcida de cidadãos privados” por quem quer que seja, mas o modo como isso é feito, na base da difamação e calúnia, ou seja, o Brasil Sem Medo já inicia defendendo o método da mentira para vencer. Um mau agouro:

“Por isso, segundo entende Martins, todo esse esforço para condenar como discurso de ódio a defesa e a torcida de cidadãos privados ao presidente é nada mais que a velhíssima censura, agora empreendida pelo establishment derrotado. Só que é uma censura travestida de defesa da ordem democrática, do decoro nas discussões, da transparência, da ética, da paz, do amor – o oposto do ódio. Enfim, o diabo metido numa fardinha de escoteiro.”

Agora a principal mensagem do artigo para quem sabe ler nas entrelinhas, uma defesa de Filipe G. Martins e seus ilícitos, a coordenação de uma milícia virtual, cuja cobertura do bolo é a mesma cantilena teórica de sempre, a defesa de uma teoria do globalismo, puro conspiracionismo como se instituições supranacionais dirigissem países, mesmo que a realidade mostre o contrário, repetidamente:

“Esclarecida essa questão, e negando peremptoriamente que haja qualquer ação coordenada de servidores públicos para defender o governo nas redes sociais – o tal gabinete –, Filipe ainda teve tempo de dar uma aula sobre globalismo, fenômeno que Chacras, Pontuais, Leitões e Camarottis continuam a confundir, em pleno 2019, com a globalização.”

Vejamos como evoluiu o argumento:

“Martins explicou ao Emílio Surita e seus ouvintes, que há dois movimentos no cenário mais amplo das relações internacionais: os territorialistas, também chamados de nacionalistas ou soberanistas; e os funcionalistas.”

O primeiro grupo, ele explicou, é o de que fazem parte Trump, Bolsonaro, Boris Johnson, Matteo Salvini, entre outros, cujo o elo que os unem é a defesa de que as decisões políticas e a determinação dos rumos de seus povos, sejam feitas nos limites jurídicos do território tradicional, segundo as leis ali discutidas, segundo os costumes antigos por eles cultivados.”

Mais comentários agora: esta direita europeia tem sido acusada de receber apoio de Putin, o que faz todo o sentido, pois ela vai contra a União Europeia, o que é extremamente útil para a Rússia. Quem compra o principal produto de exportação russa – e que mantém sua economia em pé, inclusive em pé de guerra –, os hidrocarbonetos em bloco, através de diretivas da União Europeia tem força como comprador. Ao contrário, quanto mais fragmentados, divididos e competindo entre si estiverem os importadores europeus, mais fáceis serão como alvos da pressão russa. Aliás, não faz muito tempo em que a economia russa sofria sanções devido a invasão da Crimeia e a guerra do Donbass na Ucrânia, a partir de 2014. Não é a atoa que a Ucrânia tenha um forte movimento nacionalista, anti-russo que também é pró união europeia. Como isso se explica na teoria de Filipe? Não se explica porque o mesmo jovem parte de uma classificação rígida, Funcionalistas vs. Globalistas e, que não explica o mundo e não serve para nada além de iludir.

Vejamos mais:

“Por outro lado, os funcionalistas – ou globalistas – apelam para uma reconfiguração da ordem social e política de forma que as diretrizes econômicas, de segurança, de saúde, de educação, de clima, etc., sejam tomadas por agências internacionais criadas exclusivamente àquela função, sob a promessa de que isso nos traria a paz e a prosperidade pelos séculos. ONU, Unesco, OMC, OMS, seriam prenúncios desse novo modelo.”

“Há nisto, de acordo com Filipe, uma tensão entre os valores tradicionais dos povos e interesses duvidosos de magnatas que o povão jamais viu as fuças. E seria este o pano de fundo que explica o Make America Great Again de Trump, e o nosso Brasil Acima de Tudo (de caráter nacionalista, soberanista, territorialista), Deus Acima de Todos (simbolizando a defesa dos valores antigos que, no Brasil, se assentam em torno da fé cristã).”

Isso é parcialmente verdade, mas não adianta contar verdades fragmentadas e descontextualizadas para criar uma grande mentira. Os valores tradicionais dos povos não são os valores de uma maioria religiosa que, verdade seja dita, está cada vez mais dinâmica. Em parte devido à migração, em parte devido à disseminação da informação, as crenças historicamente tradicionais se mesclam, seus significados são alterados e reinterpretados. Portanto, esses valores a que o Filipe se refere precisam ser explicitados e melhor, contabilizados em um estudo estatístico criterioso, coisa que a trupe olavista não tem por prática fazer.

Outro detalhe é que não há essa suposta harmonia total entre os funcionalistas como querem nos fazer crer, basta ver casos como a da Polônia, entusiasta da permanência na União Europeia, mas que não apoia a ingerência em sua politica doméstica. Outros países, na Europa Central seguem rumo parecido que, na pratica, é a velha ordem realista em que países e estados tentam impor suas agendas políticas aos demais, caso da Alemanha e da França, particularmente.

Em suma, o delírio desse assessor e seus acólitos de achar que existe um territorialismo-nacionalista contra um globalismo-funcionalista esquece o mais importante, a busca pela verdade que pode ser alcançada com uma perspectiva realista e nada mais.

Imagem: Por Kuebi = Armin Kübelbeck – Obra do próprio, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=61856977

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