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Anselmo Heidrich

Defendo uma sociedade livre baseada no governo limitado e estado mínimo.

Categoria

Educação

NÃO CULPE O CAPITALISMO: ensaios de Geografia Anti-Marxista

Para geógrafos marxistas, os grandes centros urbanos seriam prova da exploração do trabalho devido às suas desigualdades socioeconômicas.

Bem, em primeiro lugar, o que é capitalismo? A definição básica deste sistema socioeconômico ou, em linguagem marxista, modo de produção, seria de um sistema que privilegia a propriedade privada dos meios de produção e a relação de trabalho assalariada. Diferentemente de outros modos de produção onde há não trabalho livre, esta é uma característica básica e primordial do capitalismo.

Mas, eu não vejo o capitalismo como esteio básico para se entender as sociedades, vejo-o como um componente das sociedades e não, como costumeiramente se faz querer crer, a sociedade decorrendo e sendo um produto do capitalismo. Basta observarmos diversos exemplos de países capitalistas ao redor do mundo para concluir como eles se processam diferentemente de acordo com os diversos estados, instituições e culturas regionais.

Em segundo lugar, o que é marxismo? Trata-se de uma filosofia e não de uma ciência. Ciência quando posta à prova, quando suas teorias são questionadas sob novos fatos que não são explicados perde, gradativamente, sua credibilidade e poder. A filosofia também pode percorrer este caminho, mas não obrigatoriamente, nem perde sua validade se não corresponder à fatos ou for confrontada por uma filosofia com maior apelo à realidade concreta dos fatos. Por outro lado, quando um conjunto de ideias é defendido por seus seguidores e por esta razão persiste ao longo do tempo, mesmo sob o contraste de novos fatos ou interpretações distintas sobre fatos antigos é porque não se trata de ciência, mas de seita, porque não se trata da verdade, mas de fé.

O marxismo, como a maioria das ideias surgidas no século XIX, tinha um forte pendor pelo “etapismo” e evolução histórica, não sendo nenhum segredo que Karl Marx admirava o trabalho de Charles Darwin querendo, inclusive, adaptar a ciência biológica em uma “versão humanista”. A sucessão dos modos de produção observados na Europa Ocidental e generalizados para o resto do globo, além de tentar prever desencadeamentos futuros não só se mostrou equivocada pela inexistência de eventos futuros esperados como deixava ausente a análise detida de fenômenos propriamente políticos em sua época e sociedade. Marx os resumia como decorrência das “contradições do capital”, da evolução das forças produtivas (tecnologia, em linguagem não marxista) e relações de produção (relações de propriedade, em linguagem não marxista). Mais que uma “mania”, esta obsessão era fruto lógico de seu método de análise com destino predeterminado de seus acontecimentos, uma teleologia objetiva da história.

E a geografia? Etimologicamente, geografia significa “descrição da Terra”, mas na verdade, a geografia tem desviado muito mais para a interpretação do que para a descrição. Isto é um processo natural, na medida que não somos só observadores, mas também avaliadores e julgadores a todo o momento, sobretudo de temas que envolvem política e cultura.

Quando se descreve a paisagem, não vemos apenas natureza, embora esta seja predominante no globo, mas também a paisagem cultural, as construções ou, como Marx chamava, a “Segunda Natureza”. O problema é que este equilíbrio entre as duas formas de construção da paisagem, a natural e a humana, que permitia à Geografia ser um conhecimento de intersecção, justamente de integração ou interdisciplinaridade já nos idos do século XIX, quando foi elevada à cátedra na Alemanha, sofre uma disputa entre correntes ideológicas desde os anos 60 nos Estados Unidos.

Contrários a uma postura “neutra” de geógrafos que trabalhavam para o governo, professores universitários americanos se opuseram às manifestações urbanas, como segregação urbana e, no plano internacional, à desigualdade dos termos de troca, como se esta fosse herança do antigo pacto colonial. Mas, ao invés de procurarem soluções dentro de rearranjos de mercado e planejamento setorial ou estratégico, viram nas teorias marxistas de mais-valia e no discurso leninista do “imperialismo como última fase do capitalismo” sua explicação definitiva.

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As ideias americanas atravessam e se expandem mundo afora, o que não seria diferente no Brasil. Não importamos apenas as boas ideias Made in USA, mas também suas bizarrices, muitas delas com o selo de seus campi. É sobre esta ligação entre marxismo e geografia que irei tratar. E sim, tenho intenção de ser polêmico porque o tema o é e, até onde sei, nunca foi tratado de modo tão explícito quanto pretendo fazer aqui. No entanto, já aviso aos preguiçosos, não farei isto procurando caminhos fáceis de acusar as ligações de autores alvos de crítica somente com partidos ou políticos, mas sim pela sustentação de suas teorias, estas sim os ovos da serpente.

Anselmo Heidrich

13 mar. 23

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Image: By No machine-readable author provided. Bernd Untiedt~commonswiki assumed (based on copyright claims). – No machine-readable source provided. Own work assumed (based on copyright claims)., CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=56514

As escolas no estado de Washington estão preparadas para o Covid-19?

Segundo o Seattle Times:

Para onde está indo a ajuda pandêmica para escolas

O departamento de educação do estado de Washington diz que os distritos escolares gastaram dinheiro de socorro até agora em suprimentos como PPE e contratos para trabalhadores extras, como enfermeiras. As escolas estaduais gastaram cerca de US $ 337 milhões dos US $ 2,6 bilhões que foram alocados para combater o COVID-19 nas escolas.

Entendeu? E aqui, nossos deputados queriam o retorno às aulas sem vacinação, se lixando para a infraestrutura, mas se contentando com um protocolo em um pedaço de papel (ou nem isso).

No ano passado, as escolas estaduais de Washington receberamuma quantia histórica em financiamento federal para suportar as despesas de educação de crianças em uma pandemia. 

Parte disso – cerca de 13% dos cerca de US $ 2,6 bilhões – foi colocado para funcionar nas escolas. Em Seattle, 104 novos funcionários escolares andam pelos corredores, monitorando as salas de quarentena e assumindo as funções de supervisão na hora do almoço. Algumas milhas ao sul, nas Escolas Públicas de Highline, cada campus agora tem seu próprio conselheiro. 

No nível estadual, os políticos têm usado parte dos fundos para financiar laptops e internet para estudantes e na forma de doações para organizações sem fins lucrativos que oferecem serviços às famílias.

Percebeu? Monitoramento constante, contratação de pessoal para verificar se as medidas de proteção estão, realmente, acontecendo. Não é só acesso a internet, mas laptops para acessar a internet, não são só máscaras, mas fiscais e enfermeiros para garantir a segurança dos alunos e funcionários das escolas.

O que não quer dizer que não haja preocupação quanto à lisura do uso desses recursos:

Mas ainda há dúvidas sobre como uma grande parte desses fundos será gasta. O Departamento de Educação dos Estados Unidos reteve centenas de milhões de dólares em ajuda a Washington até que o estado possa fornecer um plano satisfatório para gastar o pacote de ajuda mais recente, no valor de cerca de US $ 1,7 bilhão. Especialistas dizem que os federais estão buscando mais transparência pública sobre como as escolas planejam gastar o dinheiro.

Se percebe que há programa, há execução e há fiscalização. E o que temos no Brasil? Negacionismo federal e apoiadores do governo federal que não fazem a mínima ideia de como seja uma escola pública.

Fonte da imagem: https://www.flickr.com/photos/djwudi/178534731/

Crise na Educação vista pelo SIMPRO

 Escute o episódio mais novo do meu podcast: Crise na Educação vista pelo SIMPRO https://anchor.fm/anselmo-heidrich/episodes/Crise-na-Educao-vista-pelo-SIMPRO-el602n

O Nosso Alvo

Quando digo que sou professor de geografia, muitos deduzem que eu pertença ou faça coro com determinada corrente política, notadamente marxista. Isso é um grande equívoco, assim como seria dizer que há uma “geografia liberal” por oposição. Não, em absoluto. Geografia é geografia, se me permitem a tautologia. Há um saber específico em coordenar os fenômenos que se inter-relacionam na superfície terrestre em uma síntese e a geografia é, simplesmente, isto. Não tem que se ter uma carteirinha de sindicato de esquerda ou milícia de direita para fazer geografia. Em primeiro lugar, a pesquisa, as hipóteses que resultarão em teorias e, a partir daí, só então, é que cada indivíduo, de posse de um conhecimento fundado na objetividade, vai utilizá-lo da forma como achar melhor adequando-o a sua visão de sociedade e projeto político. Essa separação entre “o que eu vejo a partir de um método de estudo” e “o que eu desejo a partir de premissas filosóficas por mim endossadas” é de suma importância.

A síntese que gosto de caracterizar como sendo típica da geografia é um complemento às diversas especialidades prévias, das quais depende esta tradição de conhecimento. Pré-requisitos, como a distribuição das formas de vida na superfície de acordo com o zoneamento climático, a biogeografia; a distribuição de províncias geológicas e as várias formas de relevo resultantes da interação entre fatores climáticos e a estrutura da crosta; as diversas bacias hidrográficas que conectam grandes áreas sendo afetadas pela expansão das manchas urbanas e suas regiões funcionais, com uma hierarquia de cidades operando como um sistema circulatório que, drena recursos em uma via e irriga capitais em outra.

Também é possível fragmentar o objeto de estudo e focalizar em setores, como o agrário, o industrial, o urbano etc., mas não se pode perder a perspectiva geral sob o risco de não entender causas de certos fenômenos. Até aí, nada de mais, pois se eu for me debruçar, p.ex., sobre certos efeitos climáticos em escala urbana vou ter que, necessariamente, entender o fenômeno das “ilhas de calor”. Ocorre que neste exato ponto da narrativa surge o discurso político-ideológico que tornou a geografia mais um campo de estudos totalmente poluído e sem objetividade científica. No exemplo que acabei de dar, a crítica sobre a atividade industrial adquire um tom moral, ao invés de técnico, enfatizando a indústria como exploradora e, essencialmente, predatória, sem propor avanços tecnológicos ou dar o devido destaque às melhorias com igual peso.

Uma dessas subáreas muito conhecida de nome, a geopolítica surge aqui e ali, na mídia, na internet, nos materiais didáticos, como uma descrição exaustiva do “conflito norte-sul”, entre países ricos e pobres (o que não passa de uma grotesca generalização), em oposição à outra bipolaridade, a leste-oeste, vigente durante a Guerra Fria, entre países capitalistas e comunistas de 1945 a 1990. Por ironia da história, hoje, com o surgimento de uma nova direita, o discurso aparentemente mudou, mas sua estrutura de raciocínio permanece exatamente a mesma: substituíram-se os velhos capitalistas-imperialistas, no linguajar leninista, pelo dito cujo “globalismo” que grassa nos discursos de ideólogos como Olavo de Carvalho e seu seguidor, o chanceler brasileiro, Ernesto Araújo. Na perspectiva de ambos, o globalismo é um sistema em expansão que trabalha em várias frentes para desintegrar a autonomia dos estados-nação do mundo.

Seja em uma perspectiva de esquerda, Capital vs. Trabalho, ou seja, em uma perspectiva de direita, Organismos Supranacionais vs. Estados-Nação, o método simplista de entender a realidade funciona como um resumo esquemático em detrimento dos interesses locais e regionais, suas particularidades históricas e culturais que têm muito mais peso para as sociedades que qualquer efeito de grupos de interesse internacional com seus poderes superestimados.

Pois então… Nessa nossa trajetória de todas as terças-feiras[*], as Terças Realmente Livres, em oposição ao produtor de Fake News chamado, inapropriadamente, de “Terça Livre”, iremos confrontar estas visões maniqueístas do mundo com exemplos concretos, fatos e dados. As teorias que funcionam como narrativas de uma falsa consciência e sedimentam ilusões ideológicas desses grupos que ora compactuam com governos populistas serão nosso principal alvo.

#TeoriaDaConspiração
#Globalismo
#Geopolítica

[*] Texto publicado, originalmente, na página “Biologia Política”, dia 19 de maio, uma terça-feira.

Imagem (fonte): https://pxhere.com/en/photo/740029

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Anselmo Heidrich

Fas est et ab hoste doceri
– Ovídio

O que um Ministro da Educação deveria fazer

Anselmo Heidrich[i]

Com a troca do Ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez por Abraham Weintraub se esperava substituir um intelectual inapto para as atividades administrativas por um exímio gestor. Esta era a expectativa, esta foi a narrativa, mas passados nove meses não foi o que aconteceu, longe disso.

Na semana que passou, estudantes relataram erros na divulgação das notas do Sistema de Seleção Unificada (Sisu). Após o Ministro minimizar o problema atribuindo falhas a superlotação de inscritos, o Ministério Público Federal solicitou a suspensão das inscrições no sistema e alteração de seu calendário. Sobre as críticas ao Sisu, Weintraub reagiu dizendo que há “tem muita gente maldosa, que tem interesse em fazer terrorismo, espalhando mentira” ou são ligadas a um partido “radical de esquerda”.

Mas nada se aproveita do ministério sob comando de Weintraub? Sim, nem tudo foi em vão. Sua obsessão contra Paulo Freire é justificada. Freire era realmente péssimo, ele tinha uma linguagem diversionista, que não focava em seu objeto que, em tese, era educar dentro da compreensão e competência do ambiente escolar. Ao invés disso, fazia o que se convencionou chamar de “doutrinação”, mas que não passa da manipulação mais grotesca com mensagens subliminares (e às vezes nem tanto) em favor da revolução contra o capitalismo e a ordem democrática, aliada ao desprezo pelos métodos tradicionais de ensino, nem sempre defasados como dizem. Malgrado, isto por si só não justifica a inoperância e inépcia do atual Ministro da Educação.

O que se espera de um ministro de estado é que execute tarefas dirigindo sua área, no caso em questão, a educação, propondo algo a respeito e antes ainda, que tenha pesquisado sobre o assunto. Não é tão difícil quanto parece, existem dois temas que acho pertinentes e mais fáceis de executar. Comecemos com a pergunta: quais são os problemas e dificuldades que atingem a maioria dos professores?

A INDISCIPLINA

Claro que a maioria vai falar sobre salários, mas isto não é algo que seja da competência direta do MEC, como seriam outras demandas. E seja qual for a posição político-partidária ou ideológica dos professores, independente de qual seja sua visão de mundo, algo que os atinge em cheio, na sua maioria, é a malfadada indisciplina escolar.

Como se resolve isto? Como eu disse, o primeiro passo é a pesquisa. E há sim boas experiências no Brasil. Comecemos pelo óbvio, as escolas militares. Sei que alguns leitores irão se opor de imediato dizendo que não há como comparar, pois o militar é um indivíduo que tem todo um preparo prévio que permite a constituição de um ambiente educacional totalmente distinto. Minha discordância a este argumento é que eu não acredito que tenha que ser militar para aprender regras básicas de convivência no ambiente escolar. Eu poderia aqui dissertar em termos teóricos, mas vou ser mais direto: a escola no Brasil já foi muito melhor em termos disciplinares. Simplesmente, algo se perdeu ao longo de nossa história recente e eu tenho algumas dicas e uma delas é o poder de sanção atribuído ao professor.

Em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, o promotor da Infância, Adolescência e Juventude do Ministério Público Estadual, Sérgio Harfouche criou um projeto, batizado de Programa de Conciliação para Prevenir Evasão e Violência Escolar (Proceve), que deu origem a um projeto de lei que consistia, basicamente, em obrigar os pais a assinar um termo de responsabilidade pela conduta de seus dependentes. Conhecida como Lei Harfouche, trata da indisciplina escolar. Na primeira ocorrência, o aluno recebe uma notificação, na segunda, alguma forma de ressarcimento deve ser estabelecida em atitudes compensatórias, seja pela depredação do patrimônio público, no caso, a escola, ou pela epidemia que assola o professorado, a ofensa pessoal.

Os opositores desse projeto insistem na tese de que “o aluno precisa ser conscientizado”. Deixe-me perguntar: quando vocês eram crianças mesmo, acham que os pais paravam no meio da rua e os conscientizavam de que era perigoso atravessar sem olhar para os lados ou acompanhado de um adulto? Antes de conscientizar, há o puro condicionamento por regras básicas de convivência. Depois de assimilado e reduzidas as chances de algo ruim acontecer é que se explica o porquê de se adotar um procedimento específico. Não há como, quando temos uma situação em que outros indivíduos podem estar em risco, explicar tudo a todos. Imagine você se cada um de nós tivesse que ter concordância e consentimento com regras de trânsito só após alguém poder nos explicar sua validade. Assim como temos a obrigação de saber determinadas regras de antemão no trânsito, como condutores ou passageiros, professores e alunos também têm este compromisso antes de pisar em uma sala de aula.

A “DOUTRINAÇÃO”

Outro ponto que considero fundamental em concordância com o Ministro e seu governo é o combate à doutrinação. Este sentido de “doutrinação” corresponde a uma narrativa e método de ensinar com fins escusos, normalmente, ideológicos e político-partidários. Pois bem, exceção feita àqueles legítimos casos de polícia em que professores são denunciados e, corretamente, expostos por fazerem clara apologia a um político, ideais utópicos ou pior, convocando os alunos à ação nas ruas, manifestações etc., há uma “doutrinação fina”, chamemos assim, que passa batido e nem sequer é percebida pela maioria de seus críticos: a que está nos livros didáticos.

Por que é importante combater esta? Porque o livro didático é uma espécie de manual para a maioria dos professores, que depende dele para orientar o conteúdo de suas aulas. Mas (isto é importante), também deveria ser a salvaguarda do aluno quando o professor estivesse fugindo do tema ou fazendo mal uso de sua posição privilegiada enquanto educador. Deveria servir como uma âncora ao aluno para não ser tragado pelas más interpretações e manipulações que alguns sedizentes professores lançam mão. O livro didático também deveria funcionar como aqueles códigos do consumidor que vemos depositados nos balcões das lojas para nossa segurança jurídica.

É difícil imaginar um ministro convocando uma equipe para analisar os livros que o próprio MEC indicou no passado, sugerindo retoques ou renovação de títulos a partir de critérios técnicos não doutrinários? Seis meses para isso, mais seis meses para confecção de novos materiais e em um ano temos uma produção realmente apropriada. Daí, a opção de colocar a bandeira ou o hino, tal como sugerido pelo Presidente da República, é secundária, pois enfatizar símbolos em detrimento do conteúdo literário, como se houvesse “muita coisa escrita” é prova de desconhecimento total do assunto, seus problemas, necessidades e soluções.

Há muito mais, evidentemente, que tem que ser discutido e proposto, mas só estas duas considerações já dariam uma nova cara à pasta e não fariam com que o MEC fosse um dos principais auto-sabotadores deste governo. Ficar batendo o pé ao dizer que quem nos critica é de Esquerda só prova uma coisa, que esse povo da Direita não é tão diferente assim de seus opositores, pois afinal, vivem de propaganda enquanto os problemas permanecem os mesmos. E já que o Ministério é o da Educação, uma boa forma de educar nossa sociedade é mostrar como se respeita o dinheiro público, não perdendo tanto tempo em redes sociais, como faz nosso ministro em seu Twitter. Ninguém precisa vê-lo tocando algum instrumento musical, como se isso fosse uma qualidade para um homem público, sobretudo quando ocorrem tantos sobressaltos em sua administração.


[i] Professor de Geografia e Mestre em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo e coautor do livro Não Culpe o Capitalismo.


Imagem “Abraham Weintraub” (fonte): https://www.flickr.com/photos/palaciodoplanalto/47961129173/

Paulo Freire é um engodo

#PauloFreire Eu li e é um engodo, cujas páginas não servem nem para papel higiênico, mas não é verdade que ele seja a causa da deterioração do sistema educacional, por uma simples razão: a imensa maioria dos professores nunca leu um livro dele.‬ os pedagogos o leem, mas não se conecta com a maioria do material didático.

Diferentemente do #MaterialismoHistóricoeDialético, pode se pegar um material de filosofia, p.ex., em que no sumário, o materialismo histórico e dialético está no final, como se não houvesse nada de importante depois disso, mas o que isto diz sobre o desempenho em matemática ou português?

E por pior que seja essa filosofia, ela não quer dizer um endosso à falta de nexo das palavras de um Paulo Freire, que é a sua principal marca.

Mesmo que a #PedagogiaDoOprimido seja uma ode à revolução, ela não tem abrangência entre os professores, a imensa maioria nunca a leu.

É isso mesmo, mas de onde teria vindo a mensagem revolucionária se a maioria nunca a leu? E, comparando a forma de defender a revolução em Marx e Freire, p.ex., dá para dizer que Paulo Freire nunca foi marxista. Explico… PF é metafórico, uma escrita tipo “o aluno tem que se libertar das amarras do saber bancário”… O que é isso? É necessário explicar por A+B, mas não existe explicitação disso, em uma seção teórico-metodológica. O leitor vai ter que montá-la. Com Marx, Weber, esse pessoal, é diferente. Eles têm por tradição, acadêmica, pôr os pingos nos ‘ii’. Pode-se não gostar de Marx, mas tem que se ler para não falar besteira. E não precisamos ler todos os volumes d’O Capital (eu mesmo não o fiz), mas fica claro no pouco que se lê dele que não é um ‘voluntarista’, isto é, a revolução não ocorreria a partir da vontade dos homens. Para um pedagogo como PF, basta que os homens “tomem consciência”. Por que distingui ambos? Porque a maioria dos professores que se diz marxista não o seria se lesse Marx, no próprio Manifesto do Partido Comunista, que é um livrinho, ele deixa claro as grandes realizações do Capitalismo e como só seria possível passar ao estágio seguinte, através de uma revolução, violenta, após a acumulação de capital. Ou seja, não há como fazer em país pobre. Mais tarde em sua vida, proporá, de modo não formalizado, isto é, sem o mesmo desenvolvimento teórico tirar vantagem do atraso, isto é, como fazer a revolução sem passar por todos os estágios. E nesse ponto que Lenin traçará sua rota, menos por preciosismo teórico e mais por puro pragmatismo (não dava para ser diferente). Então, os professores brasileiros que falam em socialismo são tão marxistas quanto um patriarca putanheiro que vai na zona todo fim de semana, mas domingo está na missa: é só da boca pra fora. O que faz então nossos professores serem “de esquerda”?- salários iguais e baixos sem vínculo com a produtividade;- sindicalismo;- predomínio de grades desvinculadas de ensino técnico voltado à produção;- ideologia, sim, mas diluída e disseminada por porta-vozes (acadêmicos).Dá para detectar que o vórtex está na Academia, mas que ela não mudará sem mudar o modo de retribuição pelo trabalho, isto é, não mudará sem meritocracia. Não tem como defender um sistema diferente se tu nunca provou este modelo.

Acho difícil sair desse quadro de dependência teórica a esquerda, enquanto a uniformização do profissional da educação for uma premissa de trabalho, acho difícil também sair dessa desculpa conveniente a direita, enquanto houver um vilão ideal que se superestima para servir como desculpa por todas as mazelas de um sistema educacional. De certa forma, Paulo Freire é extremamente útil a ambos militantes dos extremos do espectro político, a direita e a esquerda. E é lamentável que se perca tempo discutindo um inútil aos problemas reais da educação ao invés de focar nos reais problemas do sistema de ensino.

Anselmo Heidrich

17 dez. 19

Imagem “Paulo Freire”: https://www.flickr.com/photos/chhhh/2973802038 .

Então o Massacre de Suzano foi culpa da Burocracia? Ideia de jerico…

Gosto das ideias liberais, mas não é por isso que vou colocar a busca pela verdade em suspensão. Certa vez li, de um conhecido economista que discute educação, defensor dos vouchers, menos estado etc., todos pensamentos que endosso, que a culpa pelo massacre em Suzano onde dois atiradores mataram cinco estudantes e duas funcionárias em março de 2019 teria a ver, inclusive, com a burocracia da escola (conferir imagem acima).

No caso, a escola era referência do bairro, a polícia agiu a tempo de evitar um mal maior, as merendeiras foram heroínas ao tentar salvar as crianças e, de mais a mais, mesmo em outros tipos de sociedades e modelos escolares, com gerenciamento local, menos burocracia etc., este tipo de tragédia ocorre.

É tão difícil assim ADMITIR que o impulso assassino atravessa modelos de administração não sendo causados por estes? Que existe transtornos mentais capazes de levar um indivíduo a matar por prazer e ser totalmente indiferente a dor alheia e que se vamos estender o porte de arma, temos que estar preparados. Isto quer dizer, nossas escolas têm de estar. Como? Esta questão tem que ser discutida antes de termos uma epidemia, pois não se enganem, décadas atrás, quando as drogas eram caras, quando só quem tinha grana comprava cocaína, não tínhamos metade dos problemas envolvendo a criminalidade de hoje em dia. Então, se ainda não temos mais massacres é porque as armas são caras, mas isto pode mudar.

Como eu disse, se formos estender este direito a todos, como querem meus colegas liberais, tudo bem, mas tempos que estar preparados e isto inclui catracas com detectores de metal, como nos aeroportos e treinamento aos funcionários de escola como, em tese, existe para incêndios (mas poucas empresas cumprem de fato). A partir e só a partir daí concordo com o porte, pois por enquanto me basto em defender a posse.

Liberdade sempre, mas com Responsabilidade.

Anselmo Heidrich

22 nov. 19

Enem 2019

“‘O MEC parece ter seguido a orientação do ministro da Educação, evitando algumas questões consideradas ‘ideológicas’, afirmou Tanaka, coordenador pedagógico do Maximize.’ Assuntos como racismo e intolerância sexual à população LGBTQI+ não apareceram nesta edição. Mesmo assim, as provas trataram de assuntos atuais e importantes, como obesidade, bullying, violência contra as mulheres, liberdade de expressão, refugiados e acessibilidade.”Para Alexandre Antonello, ‘se uma maneira geral a prova atendeu a finalidade de selecionar os melhores alunos dentro do Sisu [Sistema de Seleção Unificada]’.”

Parece que o Weintraub acertou nessa. Um retorno às questões clássicas dos vestibulares e temas atuais, sem enviesamento nas respostas parece algo bem sensato. Estou surpreso positivamente, para quem achava que o Enem iria enveredar para uma oposição ao PT mantendo as mesmas características sectárias, se enganou, o que foi o meu caso. Ainda bem.

Estou comentando a partir da matéria abaixo, pois ainda não consegui ler a prova inteira nos assuntos que domino: https://g1.globo.com/educacao/enem/2019/noticia/2019/11/03/enem-2019-questoes-de-historia-foram-mais-faceis-mas-erros-podem-derrubar-nota-alertam-professores.ghtml

Anselmo Heidrich

4 nov. 19

Imagem: “Por MEC – https://optclean.com.br/tag/senha-do-enem/, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=82139144.

Você ainda tem esperança de que o Brasil se torne um país de excelência em saúde, educação e segurança nos próximos 30 anos?

Minha resposta a Você ainda tem esperança de que o Brasil se torne um país de excelência em saúde, educação e segurança nos próximos 30 anos? O que o leva a pensar assim? https://pt.quora.com/Voc%25C3%25AA-ainda-tem-esperan%25C3%25A7a-de-que-o-Brasil-se-torne-um-pa%25C3%25ADs-de-excel%25C3%25AAncia-em-sa%25C3%25BAde-educa%25C3%25A7%25C3%25A3o-e-seguran%25C3%25A7a-nos-pr%25C3%25B3ximos-30-anos-O-que-o-leva-a-pensar-assim/answer/Anselmo-Heidrich?srid=n4EX2

Tudo depende de ações de longo prazo e reformas estruturais, o problema é que isso passa pela ação política. P.ex., vivemos um momento histórico de transição, para uma economia mais livre, mas para tanto o Congresso, venal que temos, tem que agir cortando na carne, nem tanto dos parlamentares, mas de seus assessores e escalões inferiores do funcionalismo público de onde vem boa parte de seu apoio político através de ações clientelistas — troca de favores. 

Neste ritmo de reformas lentas, graduais, de um passo para trás para conseguir dar dois para frente, espíritos revolucionários (tanto de Direita quanto de Esquerda) acham que nada mudará, mas se observarmos como uma simples reforma da previdência pode adiantar uma enorme quantia de recursos que pode ser investida na criação de infraestrutura (portos, estradas, aeroportos, redes de transmissão etc.) e consequente atração de investimentos (diretos e indiretos, em produção e meros investimentos especulativos), o cenário se modifica para quem observa. 

A saúde é mais objetiva, pois seus indicadores são mais claros, é talvez o mais fácil de atingir, mas para isso, certos limites à expansão de serviços caros têm que ser estabelecidos (não dá para distribuir drogas caras em detrimento de leitos hospitalares, p.ex.); a segurança pública depende de expedientes legais e tenho que dizer que precisamos reduzir a tendência jurídica chamada de “garantista” que dá muitos benefícios, na verdade, privilégios aos condenados que os permitem estabelecer redes de contato que estruturam o crime organizado. Paralelamente, a defesa individual precisa ser garantida. Não é possível que em um país com cerca de 60.000 homicídios ao ano ainda se questione o direito à defesa (armada) do cidadão; a área educacional é a mais nebulosa porque o brasileiro mediano não a valoriza. Seja aluno de curso superior, que tem privilégios graças ao financiamento público para uma elite cursar a universidade ao pai de família da periferia urbana que acha que seu filho vai ganhar dinheiro e “fazer a vida” sem aquela “teoria chata” que “não serve para nada”. Isto se explica em parte porque o ensino técnico-profissionalizante do ensino médio foi abandonado e é neste nível de ensino que reside nosso buraco negro, em abandono e falta de direção pedagógica. Aliás, pedagogos são os responsáveis por criar teorias descoladas da realidade que pouco ou nada servem aos alunos. Se isto for questionado claramente, não vejo porque não nos tornarmos uma sociedade muito melhor em uma geração, cerca de 30 anos.

Anselmo Heidrich​
9 mai. 19

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